segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Aula 5: Ambiguidades - Exercício 1


Identifique a ambiguidade do cartum acima.

Normalmente existe uma visão estereotipada de chefes que costumam ignorar seus empregados ou quando os atendem, não lhes dão a devida atenção. O cartum, se utilizando dessa visão, já deixa claro que o diretor não quer receber ninguém (...) a mensagem de impedimento mesmo antes de poder entrar. Isso ocorre justamente numa sala de diretor, que também demonstra maior poder sobre outros funcionários.

(Karina M. Sakata)

Aula Extra: Interpretação de Poesia


Inventário
Carlos Drummond de Andrade

Que fiz de meu dia?
Tanta correria.

E que fiz da noite?
O lanho do açoite.

Da manhã, que fiz?
Uma cicatriz.

Bolas, desta vida
que lembrança lida,

cantada, sonhada,
ficará do nada

que fui eu, cordato?
Mancha no retrato.

Desde o título do poema, o autor retrata o passado, pois inventário é a relação de bens deixados por alguém que morreu, ou seja, uma pessoa que viveu e independente de material (...) conquistou algum bem.

Ao lermos da primeira à terceira estrofe veremos que o poema é regido pelo ritmo das perguntas e pelos complementos das respostas, em que (...) todos os verbos estão no passado. Porém cada uma delas têm um período de tempo: dia, noite e manhã, que são decsritos como as fases da vida que o eu-lírico viveu.

Na primeira estrofe ele se pergunta o que ele fez de seu dia, tanta correria, demonstrando que eram muitos afazeres e trabalhos, e isso estava se tornando uma corrida desordenada.

Na segunda estrofe subentende-se que a vida dele era enfadonha, pois a noite, ao invés de ser tranquila e servir de uma forma de descanso, tinha se tornado uma noite pesada e sobrecarregada, a qual o eu-lírico representa com uma metáfora, "lanho do açoite."

A terceira estrofe é um complemento da segunda, porque ele usa outra metáfora para mostrar as marcas deixadas pela monotonia da vida e pela opção que havia feito de abdicar de sua felicidade.

Na quarta estrofe ele rompe a sequência de perguntas e reclama do que a vida estava fazendo, sendo que ele próprio era o causador por a vida estar seguindo aquele rumo. Então volta a se perguntar, fazendo a junção das estrofes através das recordações que as pessoas teriam dos fatos passados de sua vida, através da leitura, do canto e do sonho. Mas o eu-lírico faz uma objeção, como poderão ter lembrança do nada, isto é, trabalhou, trabalhou, mas qual a contribuição que ele deu durante o tempo de sua existência? E também faz menção pela primeira e única vez do futuro através do verbo ficará, para retratar que sua vida se tornará vazia, sem nenhuma lembrança feliz e admirável para quem viveu ao seu lado.

Na última estrofe, ele volta a fazer uma pergunta no passado, questionando se ele foi um cordato, ou seja, havia se conformado com a vida e apenas viveu no limite proposto, concordando com seus deveres, deixando de desfrutar os prazeres da vida, a qual ele próprio moldou e concordou que fosse pintando o seu quadro, e que no final acabou se transformando em uma apenas mancha.

(Ezequiel Oliveira dos Santos)

Recriação:

Arquivo morto

Na correria do dia
não fiz nada de concreto
e à noite (entardecer da vida)
restam-me as feridas
provocadas pelo nada que fiz o dia todo.
Ao amanhecer, novas perspectivas?
Não, tenho as marcas,
mas já cicatrirazam-se,
para eu voltar à correria do meu dia.
Que posso guardar na memória?
Pois tanto me cansei, até ferido fiquei,
e nada fiz que valesse ser lembrado.
Chego a pensar que fui apenas
peça fundamental num sistema,
pronto, já posso ser arquivado.

(Beatriz Soares)