quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Despedida de 2010




Começarei 2011 com muitos projetos novos, aulas ainda não planejadas, novos roteiros para estudar o texto e seus constituintes. A cada ano, me proponho novas metas como professora do cursinho - assim como o texto, a profissão de docente nunca está acabada. É preciso sempre procurar novas respostas, novos caminhos. Espero ter instigado um pouco vocês a trilharem esses novos rumos e a olharem os textos sempre com alguma necessária desconfiança.

Bons vestibulares e bom fim de ano,

Carina

Aula 20 - Os temas filosóficos


(Fuvest 2010) - Imagens

Conferir tema em: http://www.fuvest.br/vest2010/provas/fuv2010_2fase_prova1.pdf

Construindo imagens

(Gustavo)

(...) As imagens construídas (atualmente) pela mídia tem mais valor e importância do que a própria relaidade. (Elas nos) impõem desde o nosso modo de vestir, até o que se deve comer. Alguns produtos são nomeados pelo seu logotipo. (...)

Os meios de comunicação em massa nos dizem também do que devemos gostar ou desgostar, colocando em um pedestal (...) algumas pessoas como atores, jogadores de futebol, apresentadores, etc.

(...) Porém, esta mesma mídia que constrói imagens também as destrói com imensa facilidade (...). Algumas vezes chegamos a esquecer a facilidade de imagens construídas sobre algumas pessoas (...) e as tratamos como divindades, vangloriando-as, sem nos lembrarmos que são apenas pessoas, que somos todos iguais. Independentemente de nos exibirmos na televisão ou não, não importa nossa imagem - afinal, na realidade somos todos os mesmos.

Aula 19 - Os temas atuais


(Unicamp 2007) - Agricultura

Conferir o tema em: http://www.comvest.unicamp.br/vest2007/F1/fase1.pdf

Exemplo de redação possível:

Agricultura e Conservação: questões históricas

Na historiografia que coloca em evidência a agricultura brasileira, diversos autores preocuparam-se fundamentalmente com os aspectos econômicos, sociais e políticos da exploração levada a cabo na grande lavoura. Dentro desta perspectiva, encontramos várias considerações acerca dos métodos de cultivo do solo. Os historiadores observam que o amanho da terra era feito de maneira tradicional, rotineira, de coivara, derrubada e queimada da floresta para a abertura de novos campos de cultivo, a aplicação maximizada do sistema indígena de agricultura e que levava a degradação do solo, queda de produtividade e exaustão da terra. Apesar desses historiadores estarem corretos, no final do século XIX e início do XX, diversos agricultores se preocuparam com a exploração da terra feita pelos métodos utilizados na agricultura brasileira, se instruíram e desejaram uma modernização ou modificação da lavoura e exploração agrícola em diversos níveis, demonstrando um conservacionismo incipiente.

Durante o século XIX, principalmente depois das décadas de 1820-30, parte da sociedade brasileira, nas províncias do Rio de Janeiro, fundamentalmente, começaram a notar os efeitos da lavoura de derrubada e queimada das florestas, questionavam-se sobre as nuvens de fumaça produzida por essas queimadas e que tampavam o sol de dia e de noite as estrelas. Além disso, começaram a relacionar as secas periódicas e a mudança do regime de chuvas à esse procedimento de abertura de novos campos ao cultivo do café no Vale do Paraíba. Esses fatos causavam uma baixa produtividade das culturas alimentares o que fazia com que os preços dos alimentos aumentassem na capital do Império, e fosse notado pela maioria dos habitantes em diversas oportunidades.

A partir das décadas de 1850-70 às críticas com relação a degradação do meio ambiente já eram senão vulgarizadas na sociedade, ao menos eram mais comuns. Foram organizados alguns institutos que levavam mais em conta a produção e análise científica do homem e a natureza, bem como os efeitos e possíveis efeitos da exploração do ambiente na sociedade, na economia, no presente e no futuro.

Dito isto, encontramos nas revistas de agricultura, neste caso falando, na Revista Agrícola, órgão de publicidade da Sociedade Paulista de Agricultura (SPA), - sociedade representante dos cafeicultores de São Paulo -, reiteradas manifestações sobre uma possível modificação da agricultura - para os editores e autores que escreviam na revista, a implantação do chamavam de moderna agricultura, agricultura científica, ou agricultura racional e inteligente. Clamavam estas pessoas por processos modernos de lida com o solo, a utilização de instrumentos aratórios, adubação, irrigação, seleção de sementes, ensino agrícola nos níveis iniciais, um sistema de agricultura que fosse mais intensivo, racional, tudo para tornar a lavoura e a produção mais eficiente, mais rendosa e melhor utilizar as terras, evitando o seu rápido desgaste pelos mais variados processos e procedimentos. Problemáticas que eram desprezadas nos séculos anteriores e que começaram a ganhar respaldo na sociedade paulista e carioca desse período.

A criação e preocupação desses agricultores, engenheiros agrônomos, alguns políticos, instituições de pesquisa e ensino, tais como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e a Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (ESALQ) estão inseridos dentro deste contexto histórico de importante destaque dentro da História do Brasil no passado e no presente, é o início da preocupação que podemos chamar de conservacionista, e também de pesquisas agronômica, tão importante ao desenvolvimento da lavoura brasileira.

Por Amilson Barbosa Henriques
Colunista Brasil Escola

Aula 18 - Os temas polêmicos


(Unifesp 2004) - A sociedade e a homossexualidade nos dias atuais

Conferir o tema em: http://www.unifesp.br/prograd/vestibular/portal/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=61&Itemid=30


Exemplo de texto possível:

Um passo à cidadania homossexual

Por Luiz Tagore
para o Acerto de Contas

Após o fim da Segunda Guerra Mundial tem sido constante no processo de consolidação dos direitos humanos, a concessão de garantias expressas em lei para grupos e subgrupos sociais outrora excluídos dos diplomas legais da maioria dos países, foi assim com os indígenas, judeus, negros, mulheres, portadores de necessidades especiais, crianças e idosos.

Entretanto no Brasil assim como em muitos paises espalhados pelo mundo; pouco ou praticamente nada se fez voltado para a parcela homossexual da população, este segmento continua sendo vitima de discriminação e violência, que por muitas vezes se apresenta institucionalizada, sendo realizada por entes governamentais que em vários casos agem sobre respaldo (ou omissão) de legislações arcaicas; fortemente influenciadas por idéias religiosas.

(...)

A ausência de dignidade no cotidiano da comunidade homossexual compele muitos indivíduos a manifestarem as suas vontades e o seu jeito de ser somente em guetos o que tem como conseqüências a preocupante segregação desse grupo social e o aumento da esteriotipização desses; a soma dos mencionados fatores gera uma assustadora aceitação do preconceito e da discriminação, não é a toa que em momentos importantes da vida social; como na busca de um emprego se omite a sua orientação sexual por temer possíveis sanções negativas que acarretaria se fosse dito a verdade.

(...)

Como bem aduz o intróito, é fundamental que em um Estado Democrático de Direito a livre expressão coletiva ou individual da orientação sexual encontre uma garantia expressa na forma da lei.

É importante salientar que o Direito não possui apenas o dever de tutelar, mas também de provocar o desenvolvimento da dignidade da pessoa humana e promover o livre exercício da cidadania; realmente em nosso sistema jurídico a norma nasce através da valoração social de um fato, contudo o Direito pode trilhar o caminho inverso pode a norma surgir antes mesmo dos valores éticos se fazerem presentes no pensamento social.

(...)

O maior exemplo disto no Ordenamento Pátrio é o caso da Lei de Divórcio (Lei 6.515/77). Até então interromper um casamento era visto com maus olhos pela sociedade, pessoas separadas, sobretudo mulheres eram alvo de certo repúdio social; tinham dificuldades de serem aceitas, somente após a existência desta lei que este pensamento social se modificou; hoje é completamente natural se divorciar quando o relacionamento não mais encontra justificativa para sua existência.

Logo diante deste exemplo podemos inferir que o surgimento agora, ainda que tardiamente, de uma legislação que promova a criminalização da homofobia, poderá garantir que as próximas gerações serão muito mais tolerantes com os homossexuais, travestis, transexuais e lésbicas.

Assim como ocorreu entre outros momentos da história em que foram concedidos novos direitos a grupos até então explicitamente discriminadas, feito este que influenciou fortemente o comportamento da sociedade, onde ocorreram estes fenômenos, que viu aqueles indivíduos, outrora inferiores, alçados a uma posição de igualdade com o todo.

Alem do mais uma lei como esta poderá evitar e certamente diminuirá as estatísticas de crimes cometidos contra homossexuais. Tendo em vista até então a ausência de interesse por parte do pode publico em catalogar e documentar delitos desta natureza.

In: http://acertodecontas.blog.br/artigos/um-passo-cidadania-homossexual/

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Aula 17 - O texto dissertativo


Identificar as falácias presentes no texto a seguir:

Em manifesto na web, jovens paulistas criticam migração
Em manifesto na web, jovens paulistas criticam migração

Eles têm entre 18 e 25 anos, são universitários e se uniram a partir de um manifesto virtual, batizado de "São Paulo para os paulistas". A iniciativa, que começou com a voz solitária de uma jovem indignada diante da proposta de inserção da cultura nordestina na grade curricular de escolas da capital do Estado, foi ganhando adeptos e, em poucos meses, já contava com mais de 600 adesões, demonstrações de apoio expressas em assinaturas numa petição online.
Escolhido como porta-voz do grupo por ter um discurso mais moderado e menos conservador, o estudante Willian Godoy Navarro, 22 anos, conversou com Terra Magazine.
(...)

Terra Magazine- Como surgiu a ideia do manifesto?
Willian Godoy Navarro - A ideia do manifesto surgiu por conta de algumas leis que ainda estão em discussão na Câmara, na Assembleia Legislativa, que defendem a aplicação de uma disciplina nas escolas públicas em relação à cultura nordestina. Isso desencadeou o movimento, porque não existe uma promoção da cultura paulista. Os alunos saem do Ensino Médio e não sabem o que foi a Revolução Constititucionalista de 1932.
Então, a Fabiana (uma das integrantes) criou a petição, jogou na internet e conseguiu a adesão. Foi formado um grupo. Dezenas jovens apoiam e se mobilizam na internet para divulgar. Foram se conhecendo pela internet. A petição está há poucos meses no ar e já tem mais de 600 assinaturas.
O que vocês pretendem exatamente?
A gente quer levantar a discussão. Não apoio a petição. Há uma discussão interna. Acredito que a petição é ousada demais, muito radical. A gente não pode fazer uma petição como se São Paulo fosse um Estado independente.
(...)

Vocês são a favor de iniciativas que estimulam o retorno de migrantes ao local de origem?
Imagina só: um migrante que tinha um trabalho na área agrária, rural. Ele vem para uma cidade, sem qualificação, sem estudo, sem preparo. Ele não tem base para se manter nessa cidade. Se ele sempre trabalhou no meio rural, o que vai fazer na cidade? Ninguém pensou nisso.

Então você apoia essas iniciativas?
Sim, é uma questão humanitária. Para você ter uma ideia, tem uma pesquisa que diz que 84% dos moradores de rua que vivem no Centro de São Paulo são migrantes. É aquela mesma história. Vêm para São Paulo, não são absorvidos, não têm amparo público e acabam vagando pela cidade. O custo de vida em São Paulo é alto. Acredito que seja um dos mais altos do pais. Já é difícil para um paulistano, que constrói uma carreira, comprar, financiar um apartamento ou uma casa, imagina para o migrante que consegue ganhar um salário mínimo por mês e tem uma família para sustentar?

Lendo o manifesto, notei que o movimento tem uma particular preocupação com os nordestinos...
Não existe essa preocupação particular. Mineiros, nordestinos, mato-grossenses, paulistas que vieram do interior para a capital. Todos.
(...)

Nesse primeiro momento, o manifesto virtual serviu para saber se haveria aceitação?
Foi um estudo para a gente sentir como seria a aceitação. Falar da migração sempre é um tabu. Sempre alguém vai se sentir prejudicado. A gente estava discutindo ontem para falar com você hoje. A gente não pode falar da migração. São Paulo foi construído por imigrantes e migrantes. O que tem que acontecer é uma administração, um controle.

Como assim "um controle"?
Não existe controle. Não controle. Controle é uma palavra muito forte. Mas nenhuma política que pudesse organizar a migração. Não só de nordestinos, mas de todos que vêm para São Paulo ou para outra cidade. A gente tem quase um milhão de pessoas na cidade de São Paulo que não conseguem emprego, que moram em favelas ou em áreas com más condições de moradia. A gente não tem estrutura para absorver a migração. Essa mão-de-obra, essa força de trabalho que continua vindo para São Paulo poderia desenvolver outras áreas do país. A gente se preocupa com o futuro da cidade.

Vocês do movimento consideram que a migração provoca sobrecarga no sistema de saúde e impactos nos índices de violência?
Seria hipócrita se dissesse que não. A maior parte das pessoas que utiliza o SUS na cidade de São Paulo são migrantes. Agora, não que esse seria o problema. Em relação à violência, é também bastante contestado. O cara vem, mora na periferia, não tem emprego, não tem nenhuma base. Vai trabalhar no mercado informal ou arranjar outro meio. Mas as vezes há outras situações que fazem com que parta a criminalidade.
(...)

No manifesto, vocês dizem que os "migrantes não construíram São Paulo por serem alocados na construção civil. Seja desmentida tal falácia". Você acha que isso é realmente uma falácia?
Essa parte do manifesto não li, mas o entendimento é o seguinte: quem constrói São Paulo não são os pedreiros. São os empresários, os investimentos aplicados na cidade, feitos por paulistas. Falar que outras pessoas construíram a cidade é absurdo. Eles trabalharam, usaram sua força de trabalho. Não significa que construíram São Paulo. Esse prédio que você trabalha, por exemplo, não foi construído por migrantes...por pedreiros. Foi construído pela empresa que investiu, que financiou o projeto. Entendeu o ponto de vista do manifesto? As pessoas dizem: "Ah, os migrantes construíram São Paulo". Construíram com sua força de trabalho, mas se não fossem os investimentos e o dinheiro que gira na cidade, não teriam construído nada.

(...)

Onde vocês pretendem chegar?
Nossa meta é que isso seja discutido na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal. A gente quer que seja implantada algum tipo de política que possa administrar isso (migração). Que fale: "vocês não têm qualificação, então, vão fazer um curso de qualificação e ser alocados para outras áreas do Estado que oferecem mais oportunidades. As pessoas que vivem em São Paulo e querem, mas não têm condições de voltar para a terra de onde fugiram... A cidade gerar essa oportunidade para elas. O pouco que a gente conquistar para uma cidade como São Paulo vai ser bastante.

Possibilidades de resposta:

"Se ele sempre trabalhou no meio rural, o que vai fazer na cidade?"

conclusão falaciosa: quem é do meio rural nunca estará apto a viver na cidade.


"A gente não pode falar da migração. São Paulo foi construído por imigrantes e migrantes. O que tem que acontecer é uma administração, um controle."

São Paulo foi construída por migrantes, mas é preciso controlar os migrantes: mais que falaciosa, a conclusão aqui é ilógica e contraditória.


"O cara vem, mora na periferia, não tem emprego, não tem nenhuma base. Vai trabalhar no mercado informal ou arranjar outro meio. Mas as vezes há outras situações que fazem com que parta a criminalidade."

Conclusão falaciosa: o migrante não tem cultura ou saberes próprios ("nenhuma base") e nenhuma possibilidade de ascensã social.


"No manifesto, vocês dizem que os "migrantes não construíram São Paulo por serem alocados na construção civil. Seja desmentida tal falácia". Você acha que isso é realmente uma falácia?
Essa parte do manifesto não li, mas o entendimento é o seguinte: quem constrói São Paulo não são os pedreiros. São os empresários, os investimentos aplicados na cidade, feitos por paulistas. Falar que outras pessoas construíram a cidade é absurdo. Eles trabalharam, usaram sua força de trabalho. Não significa que construíram São Paulo. Esse prédio que você trabalha, por exemplo, não foi construído por migrantes...por pedreiros. Foi construído pela empresa que investiu, que financiou o projeto. Entendeu o ponto de vista do manifesto? As pessoas dizem: "Ah, os migrantes construíram São Paulo". Construíram com sua força de trabalho, mas se não fossem os investimentos e o dinheiro que gira na cidade, não teriam construído nada."

conclusão falaciosa: os nordestinos são a mão de obra, os paulistas são o dinheiro. Além disso, o entrevistado acabou de dizer que São Paulo foi construída por migrações e imigrações - nesse contexto, por que seria absurdo afimar que "outras pessoas" construíram a cidade?


"Onde vocês pretendem chegar?
Nossa meta é que isso seja discutido na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal. A gente quer que seja implantada algum tipo de política que possa administrar isso (migração). Que fale: "vocês não têm qualificação, então, vão fazer um curso de qualificação e ser alocados para outras áreas do Estado que oferecem mais oportunidades. As pessoas que vivem em São Paulo e querem, mas não têm condições de voltar para a terra de onde fugiram... A cidade gerar essa oportunidade para elas. O pouco que a gente conquistar para uma cidade como São Paulo vai ser bastante." -

conclusões falaciosas: o migrante nunca é qualificado, têm de ser expulso de São Paulo e é um covarde que "fugiu" de sua terra. Além disso, o migrante se contenta com pouco - qualquer esmola que garanta sua sobrevivência em São Paulo é suficiente.



Aula 15: Problemas estruturais na carta argumentativa - a falta de coesão e a incoerência


Tema (Concurso dos Correios 2008):

“Escreva uma carta a alguém para explicar-lhe porque o mundo precisa de mais tolerância”

Exemplos

Confira a carta vencedora da fase nacional do 37º Concurso Internacional de Redação de Cartas promovido pela União Postal Universal (UPU):



“Aracaju, 26 de março de 2008.

Minha querida professora de Sociologia,

Como vai você? Espero que esteja bem, na luz como sempre diz. Estou escrevendo esta carta para compartilhar minha experiência, pois estou participando do concurso de cartas dos Correios, para explicar porque o mundo precisa de mais tolerância. Já ouvi muitas vezes em suas aulas sobre a necessidade dessa palavra no mundo, mas agora quero explicar-lhe com o meu olhar, e nisso sentirá a diferença em todas as outras explicações.

Claro que o mundo já possui milhões de palavras, e são todas bem vazias e inúteis quando não ganham alma... Então o que acha de praticarmos uma nova palavra? Tolerância... De corpo robusto, forte, e de alma eterna, firme, com enormes asas abertas para todos. Irmã univitelina do respeito, da paciência, do bom senso, o triste é que quase sempre esquecemos dos significados e não aplicamos em nossas vidas, para sermos humanos melhores.

Em tudo que tenho estudado encontro a presença da intolerância, e entendi que essa palavra é a face escura e triste da nossa história, e assim fui tendo certeza da importância da tolerância, mas preciso dizer professora, que as pessoas poderiam compreender muito mais se experimentassem essa palavra dentro dos seus dias, e aí sim, poderiam defender essa bandeira, com a mesma coragem e emoção que hoje passo a colocar no papel, e então, como dizem os filósofos que você tanto ama, estarei eternizando tudo isso a partir de agora.

Quando estava arrumando minhas idéias fiquei viajando em vários exemplos históricos que sempre ouço em suas citações apaixonadas: Mahatma Gandhi e sua política de não violência, ensinando a tolerância com as diferenças religiosas, com os preconceitos raciais. Ele não dizia como os outros deveriam fazer, ele fazia primeiro, dando seu próprio exemplo, de nunca revidar tanta crueldade e humilhação pelo qual passou todo o seu povo. Acaso não seria essa a essência da tolerância professora? Evitar as guerras, as mágoas, o instinto selvagem do homem? Por isso professora acredito que só existe um solo sagrado e fértil para que a tolerância possa florescer: dentro de nós.

Entendi que é dentro de nós mesmos que moram todos os monstros, que por infinitos motivos e justificativas vão criando “o caos nosso de cada dia”, como diz o livro de Crônicas de Carlos Eduardo Novaes, que estou lendo. Entendo que a tolerância nasce dos pequenos gestos dentro de casa, da “palavra formosa”, como dizem os índios sobre os quais você me ensinou, onde eles praticam a quebra do orgulho e da vaidade antes de dirigir a palavra ao seu próximo, pois as palavras que ofendem, devem ser levadas para as “más águas”, e são elas que criam as mágoas, que alimentam os monstros dentro de nós. Esses monstros chamados colonizadores massacraram os índios por suas intolerâncias culturais e religiosas.

A tolerância nasce também do exemplo, e principalmente dele, por isso a importância do exercício da tolerância na família, que é nossa primeira escola. Vejo reportagens de crianças mutiladas, com fome, que sofrem maus tratos; intolerâncias em nome de Deus, de Alá, de todos. Viu aquela menina que foi acorrentada professora? Vitima da intolerância de tantos... Foi então que pesquisei e refleti sobre um documento da UNESCO que decreta o dia 16 de novembro como o dia Internacional da tolerância, e em seu artigo 4º decreta: “4.1 A educação é o meio mais eficaz de prevenir a intolerância. A primeira etapa da educação para a tolerância consiste em ensinar aos indivíduos quais são seus direitos e suas liberdades a fim de assegurar seu respeito e de incentivar a vontade de proteger os direitos e liberdades dos outros”.

Se cada um pudesse compreender... É o direito a liberdade que efetiva a tolerância em nossas vidas, e a educação é o motor que pode tornar a tolerância possível. A partir desse artigo entendi que a sua paixão por ensinar professora, faz mesmo a diferença, e que seu exemplo brilha em mim todos os dias e me faz melhor, corrigindo minhas intolerâncias rotineiras, para praticar o respeito pelo direito que o outro tem de ser o que ele desejar.

Professora amada, você é única para mim, me alegro por viver ao seu lado, e aprender as mais profundas lições de humanidade. Se houvesse mais tolerância entre as pessoas, as catástrofes seriam evitadas, e o homem não julgaria o “monstro do seu semelhante sem antes dar conta do seu, e teria vergonha de usar seus conceitos acima dos outros”. Conviver com as diferenças, plantando a tolerância dentro de nós, esse é o tema da aula diária que precisamos aprender, e o principal: exercitar. E entre tantas definições, Jesus nos apresentou um só mandamento, o do amor e o ser humano, intolerante não conseguem praticar. Tolerância foi tudo que Cristo viveu, e os homens o colocaram numa cruz. Mas a tolerância ainda é o único caminho capaz de levar á felicidade e ao amor incondicional. Nesse caminho mestra querida, quero compartilhar contigo a importância do perdão, da solidariedade e da tolerância, por ser minha professora de Sociologia, exemplo dos meus dias, me fez acreditar que é possível também como você acredita, amar os homens com olhos livres e construir um mundo bom. Eu sou sua semente, e em suas palavras dei meus primeiros passos, porque antes de ser minha inesquecível professora, você é minha mãe, que me ensinou que cada um precisa fazer sua parte.

E como você diz mamãe,

Um grande abraço em Cristo!

De sua filha que muito te ama.

Hannah Sophia Vasconcelos Bezerra Silva

12 Anos

8º Ano do ensino Fundamental

Colégio Saint - Louis”

Observem que a carta apresenta alguns problemas estruturais, como falta de vírgulas, termos mal colocados e argumentos pouco desenvolvidos, além da contradição de concentrar toda a tolerância na figura de Jesus, o que pode implicar em certa intolerância religiosa. Contudo... é uma carta que cumpre seu objetivo básico... e a aluna de 12 anos surpreende ao demonstrar bastante maturidade ao trabalhar o tema. Dessa vez, não coloquei exemplos da redação dos gausianos por dois motivos: 1) me confunfi e acabei devolvendo alguns textos que iriam pro blog 2) a maioria dos alunos que fez a redação se confundiu bastante na hora de escolher um interlocutor... não precisávamos ir tão longe para saber a quem destinar a carta, e o exemplo da menina que fala sobre tolerância com a mãe é bastante válido.

domingo, 1 de agosto de 2010

Aula 16 - O gênero "carta" nos vestibulares - simulado



Simulado Carta

01. (Unicamp 2003) Leia atentamente o poema abaixo, de autoria de Cacaso:

HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO POSTAL
eu sou manhoso eu sou brasileiro
finjo que vou mas não vou minha janela é
a moldura do luar do sertão
a verde mata nos olhos verdes da mulata
sou brasileiro e manhoso por isso dentro
da noite e de meu quarto fico cismando na beira de um rio
na imensa solidão de latidos e araras
lívido
de medo e de amor
(Antonio Carlos de Brito (CACASO), Beijo na boca . Rio de Janeiro, 7 Letras, 2000. p. 12.)

a) Este poema de Cacaso (1944-1987) dialoga com várias vozes que falaram sobre a paisagem e o homem brasileiros. Justifique a
referência ao “cartão postal” do título, através de expressões usadas na primeira estrofe.
b) O poema se constrói sobre uma imagem suposta de brasileiro. Qual é essa imagem?

Respostas:

a) 1 ponto para a resposta que assinale que se trata de imagens convencionais, típicas ou estereotipadas daquilo que se convencionou como identidade nacional.
1 ponto para a menção de pelo menos duas das expressões abaixo:
luar do sertão, verde mata, olhos verdes da mulata, sou manhoso
(2 pontos)
b) É a imagem de um brasileiro manhoso, “finjo que vou e não vou”.
(1 ponto)

Respostas possíveis:

a) Cartão postal é uma referencia a elementos considerados típicos do Brasil, assim como o “luar do sertão”, “verde mata” e a “mulata”.
b) Trata-se da imagem do brasileiro como esperto, malandro, “manhoso” ("finjo que vou mas não vou”).


02. (Unesp 2006)

Carta XIII – Ao Rei D. João IV – 4 de abril de 1654

(...)
Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve
quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase
todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos,
obriga-me a consciência a manifestar a V.M. os grandes pecados
que por ocasião deste serviço se cometem.
Primeiramente nenhum destes índios vai senão violentado e
por força, e o trabalho é excessivo, e em que todos os anos morrem
muitos, por ser venenosíssimo o vapor do tabaco: o rigor
com que são tratados é mais que de escravos; os nomes que lhes
chamam e que eles muito sentem, feiíssimos; o comer é quase
nenhum; a paga tão limitada que não satisfaz a menor parte do
tempo nem do trabalho; e como os tabacos se lavram sempre em
terras fortes e novas, e muito distante das aldeias, estão os índios
ausentes de suas mulheres, e ordinariamente eles e elas em mau
estado, e os filhos sem quem os sustente, porque não têm os pais
tempo para fazer suas roças, com que as aldeias estão sempre em
grandíssima fome e miséria.
Também assim ausentes e divididos não podem os índios ser
doutrinados, e vivem sem conhecimento da fé, nem ouvem missa
nem a têm para a ouvir, nem se confessam pela Quaresma, nem
recebem nenhum outro sacramento, ainda na morte; e assim morrem
e se vão ao Inferno, sem haver quem tenha cuidado de seus
corpos nem de suas almas, sendo juntamente causa estas crueldades
de que muitos índios já cristãos se ausentam de suas povoações,
e se vão para a gentilidade, e de que os gentios do sertão
não queiram vir para nós, temendo-se do trabalho a que os obrigam,
a que eles de nenhum modo são costumados, e assim se
vêm a perder as conversões e os já convertidos; e os que governam
são os primeiros que se perdem, e os segundos serão os que
os consentem; e isto é o que cá se faz hoje e o que se fez até agora.
(Padre Antonio Vieira. Carta XIII. 1949.)

O Último Pajé

Cheio de angústia e de rancor, calado,
Solene e só, a fronte carrancuda,
Morre o velho Pajé, crucificado
Na sua dor, tragicamente muda.
Vê-se-lhe aos pés, disperso e profanado,
O troféu dos avós: a flecha aguda,
O terrível tacape ensangüentado,
Que outrora erguia aquela mão sanhuda.
Vencida a sua raça tão valente,
Errante, perseguida cruelmente,
Ao estertor das matas derrubadas!
“Tupã mentiu!” e erguendo as mãos sagradas,
Dobra o joelho e a calva sobranceira
Para beijar a terra brasileira.
(Péthion de Villar. A morte do pajé. 1978.)

02. Embora separados por mais de dois séculos, os textos apresentados
focalizam uma mesma questão social surgida no
Brasil-Colônia, que tem repercussões até os dias atuais. Releia
os dois textos com atenção e, a seguir,
a) identifique a questão social abordada por ambos os textos.


Resposta: Nos dois textos, a “questão social” abordada é a do
tratamento dado aos índios pelos colonizadores.
Vítimas de “rigor” ainda mais brutal do que o dirigido
aos escravos, privados de sua cultura sem ser
beneficiados pela cultura de seus conquistadores, a
cena culminante do soneto de Péthion de Villar
representa o sacerdote indígena clamando pateticamente
contra a traição de seu deus, ao mesmo tempo
em que se entrega ao domínio dos novos
senhores de sua terra.


03. (Enade 2005) Leia trechos da carta-resposta de um cacique indígena à sugestão, feita pelo Governo do Estado da Virgínia (EUA), de que uma tribo de índios enviasse alguns jovens para estudar nas escolas dos brancos.

“(...) Nós estamos convencidos, portanto, de que os senhores desejam o nosso bem e
agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes
nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão
ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. (...) Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam caçar o veado, matar o inimigo ou construir uma cabana e falavam nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, inúteis. (...)
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão concordamos que os nobres senhores de Virgínia nos enviem alguns de seus jovens, que lhes ensinaremos tudo que sabemos e faremos deles homens.”
(BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1984)

A relação entre os dois principais temas do texto da carta e a forma de abordagem da educação privilegiada pelo cacique está representada por:
(A) sabedoria e política / educação difusa.
(B) identidade e história / educação formal.
(C) ideologia e filosofia / educação superior.
(D) ciência e escolaridade / educação técnica.
(E) educação e cultura / educação assistemática.

Resposta: item e). O que o cacique defende não é uma educação formal, superior ou técnica - esses são os modelos criticados por ele, apontados como inconciliáveis com a vida indígena. A questão também não é defender uma educação difusa ou pouco consistente - trata-se de valorizar uma educação não-paradigmática (assistemática). Além disso, o tema principal da carta é a educação própria, adequada a cada cultura (as questões de ideologia, filosofia e política estão presentes para embasar a abordagem principal).

(UFRN – 2006)
Leia o texto abaixo e, com base nele, responda à questão 1.

CARTA A UM JOVEM QUE FOI ASSALTADO

“Foste assaltado. Bem, a primeira coisa a dizer é que isso não chega a ser um fato excepcional. Excepcional é ganhar um bom salário, acertar a loto: mas ser assaltado é uma experiência que faz parte do cotidiano de qualquer cidadão brasileiro. Os assaltantes são democráticos: não discriminam idade, nem sexo, nem cor, nem mesmo classe social. Grande parte das vítimas é das vilas populares. É claro que na hora não pensaste nisso. Ficaste chocado com a fria brutalidade com que o delinqüente te ordenou que lhe entregasse a bicicleta (podia ser o tênis, a mochila, qualquer coisa).
Entregaste e fizeste bem: outros pagaram com a vida a impaciência, a coragem ou até mesmo o medo, não poucos foram baleados pelas costas.
Indignação foi o sentimento que te assaltou depois. Afinal, era o fruto do trabalho que o homem estava levando. Não fruto do teu trabalho até poderia ser 
mas o fruto do trabalho do teu pai, o que talvez te doeu mais.
Ficaste imaginando o homem passando a bicicleta para o receptador, os dois satisfeitos com o bom negócio realizado. É possível que o assaltante tenha dito, nunca ganhei dinheiro tão fácil. E, pensando nisso, a amargura te invade o coração. Onde está o exército? Por que não prendem essa gente?
Deixa-me dizer-te, antes de mais nada, que a tua indignação é absolutamente justa. Não há nada que justifique o crime, nem mesmo a pobreza.
Há muito pobre que trabalha, que luta por salários maiores, que faz o que pode para melhorar a sua vida e a vida de sua família sem recorrer ao roubo ou ao assalto. Mas tudo que eles levam, os ladrões e assaltantes, são coisas materiais.
E enquanto estiverem levando coisas materiais, o prejuízo, ainda que grande, será só material.
Mas não deves deixar que te levem o mais importante. E o mais importante é a tua capacidade de pensar, de entender, de raciocinar. Sim, é preciso se proteger contra os criminosos, mas não é preciso viver sob a égide do medo.
Deve-se botar trancas e alarmes nas portas, não em nossa mente. Deve-se repudiar o que fazem os bandidos, mas deve-se evitar o banditismo.
Eles te roubaram. É muito ruim, isso. Mas que te roubem só aquilo que podes substituir. Que não te roubem o coração."

SCLIAR, Moacyr. Moacyr Scliar (seleção e prefácio de Luís Augusto Fischer). São Paulo: Global,
2004. p. 267-268. (Coleção Melhores Crônicas)
Glossário:
égide: escudo.

04. Considere o trecho:
“Deixa-me dizer-te, antes de mais nada, que a tua indignação é absolutamente justa.” (linhas 19 e 20)
Mudando-se de tu para você o tratamento dado ao destinatário da carta, o período, de acordo com o registro culto da língua escrita, deverá ser reformulado do seguinte modo:

A) Deixa-me dizê-lo, antes de mais nada, que a sua indignação é absolutamente justa.
B) Deixe-me dizer-lhe, antes de mais nada, que a sua indignação é absolutamente justa.
C) Deixa-me dizer-lhe, antes de mais nada, que a tua indignação é absolutamente justa.
D) Deixe-me dizê-lo, antes de mais nada, que a tua indignação é absolutamente justa.

Resposta: item b) Quem diz, diz a alguém (e em terceira pessoa, o pronome para marcar esse objeto indireto é "lhe"), o pronome possessivo para a terceira pessoa é "sua" e o imperativo para terceira pessoa é "deixe" ("deixa tu", "deixe você")

(Fuvest 2009)

Belo Horizonte, 28 de julho de 1942.

Meu caro Mário,

Estou te escrevendo rapidamente, se bem que haja muitíssima coisa que eu quero te falar (a respeito da Conferência, que acabei de ler agora). Vem-me uma vontade imensa de desabafar com você tudo o que ela me fez sentir. Mas é longo, não tenho o direito de tomar seu tempo e te chatear.

Fernando Sabino.

05. Neste trecho de uma carta de Fernando Sabino a Mário de Andrade, o emprego de linguagem informal é bem evidente em:

a) “se bem que haja”.
b) “que acabei de ler agora”.
c) “Vem-me uma vontade”.
d) “tudo o que ela me fez sentir”.
e) “tomar seu tempo e te chatear”.

Resposta: item e), em que é empregada informalmente a segunda pessoa ("te chatear") combinada com o uso informal da terceira pessoa ("seu tempo"). Seguindo a norma culta, esse encontro de duas pessoas gramaticais não seria possível. Além disso, o verbo "chatear" tem caráter coloquial.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Aula 14 - A interlocução na carta argumentativa


Tema: vide poste anterior.

Camila Fonseca Moreira


Cárdenas, 7 de abril de 2000

E.G., filho querido, meu menino, pois para mim você nunca deixará de ser um menino, meu anjo querido:
Preciso muito de você e sei que você precisa de mim, para nos consolarmos da perda de sua mãe, chaga que não cicatriza. Eu queria tanto te abraçar e te explicar que agora mamãe está ao lado do papai do céu, olhando e intercedendo por nós.
Mas a vida não é tão simples assim, além da distância, jogos políticos nos separam. Como pode ser? Uma situação tão simples, um filho na falta da mãe e que quer ficar com seu pai, que esteve sempre ao seu lado, sabendo de todas as suas manias e manhas.
Me sinto tão pequeno e impotente, minha vontade é me lançar ao mar, chegar até você a nados, te trazer à força para ver você crescer e fazer de você um homem, que coloque a honra em primeiro lugar.
Mas nesta ocasião estou de mãos atadas, não tendo de você mais do que qualquer um por aqui: imagens na televisão, como se eu fosse apenas seu fã, como se meu sangue em suas veias nada significasse.
Daqui de longe, posso apenas rezar por ti, para que seja feliz e que saibam ao menos dissimular metade do meu sentimento genuíno por você. Que lhe dêem ao menos metade do carinho que eu lhe daria.
Anjo precioso, sempre te amarei.

J.M.G.

Aula 14 - A interlocução na carta argumentativa


Tema: Conferir post anterior.

Joice Amâncio Fernandes

Cárdenas, 23 de setembro de 2008

Dormir sozinho, acordar sem um "bom dia", viver sem alegria. É solidão o que eu sinto. Beijar, abraçar e amar a sua mãe, com ela (lhe) carregar, ninar, alimentar e educar. Só se percebe que alguém morreu quando se sente falta dela, quando se espera a sua chegada e ninguém nunca aparece.
Sua mãe morreu, e eu sei que vou sentir a falta dela sempre, e sua ausência ninguém substituirá. Mas e você?
Entro no seu quarto, vejo seus brinquedos e suas roupas. É como ver peixes sem água. Sinto sua falta tanto quanto sinto falta da sua mãe, porém, você está vivo!
Saber que meu filho está vivo e eu não estar perto para admirar o meu milagre me dói muito, no entanto estou só.
Desculpe-me o desabafo, estou há 15 anos sem falar sobre meus sentimentos e, agora, (eles) estão à flor da pele.
Elián, quero lhe mostrar através desta a minha posição (sobre) o ocorrido que completa 15 anos.
Após várias ondas de emoções distintas, em que a última foi saber que parentes, até então desconhecidos, haviam se decidido a se entrepor entre nós, senti um forte instinto de protegê-lo de estranhos.
Trabalhei o triplo para pagar advogados na justiça, lutei por sua guarda e vendo que diante da defesa de Miami seria impossível, propus visitas, inúmeras tentativas em vão.
Nunca aceitei ter você longe de mim, sou apenas um homem, cansado de negações. Parei, foi necessário me recuperar.
Agora você está com 21 anos, um homem já, tem o direito de decidir sobre sua vida, não mais um objeto de que qualquer um pode se apossar. Imagino que você foi a pessoa que mais sofreu, contudo, como sua família substituta declarou, você conseguiu se recuperar, ergueu uma espécie de "felicidade provisória" à sua volta, que com o tempo se solidificou, fazendo-o tornar-se a pessoa que é hoje.
Peço-lhe perdão se lhe ofendi de alguma forma nessa carta ou ao longo destes 15 anos. Garanto que a atitude que tomei foi a melhor possível diante da situação.
Decida o que for melhor para o seu futuro. Sempre te amarei. Sinto a sua falta.

J.M.

Aula 14 - A interlocução na carta argumentativa


Unicamp

Suponha que você seja ou o juiz que decidiu pela volta do menino Elián a Cuba, ou um parente de Elián que lutou por sua permanência nos Estados Unidos, ou o pai de Elián, que lutou por sua volta a casa. Colocando-se no lugar de uma dessas pessoas, e considerando os pontos de vista expressos no texto a seguir, escreva uma carta a Elián, mas para ser lida por ele quinze anos depois desses acontecimentos, tentando convencê-lo de que a posição que você assumiu foi a melhor possível.

Quando a imaginação do mundo se depara com uma tragédia humana tão dolorosa quanto a de Elián, o menino refugiado de 6 anos que sobreviveu a um naufrágio apenas para afundar no atoleiro político da Miami cubano-americana, ela instintivamente procura penetrar nos corações e mentes de cada um dos personagens do drama. Qualquer pai ou mãe é capaz de imaginar o que o pai de Elián, Juan Miguel González, vem sofrendo, na cidade natal de Elián, Cárdenas – a dor de perder seu filho primogênito; logo depois, a alegria de saber de sua sobrevivência milagrosa, com Elián boiando até perto da Flórida numa câmara de borracha.
A seguir, o abalo de ouvir da boca de um bando de parentes com os quais não tem relação alguma e de pessoas que lhe são totalmente estranhas a notícia de que estavam decididos a colocar-se entre ele e seu filho. Talvez também sejamos capazes de compreender um pouco do que se passa na cabeça de Elián, virada do avesso. Trata-se, afinal de contas, de um garoto que viu sua mãe mergulhar no oceano escuro e morrer. Durante um tempo muito longo depois disso, seu pai não esteve a seu lado.
Assim, se Elián agora se agarra às mãos daqueles que têm estado a seu lado em Miami, se os segura forte, como se segurou à câmara de borracha, para salvar sua vida, quem pode culpá-lo por isso? Se ergueu uma espécie de felicidade provisória à sua volta, em seu novo quintal na Flórida, devemos compreender que é um mecanismo de sobrevivência psicológica e não um substituto permanente de seu amor ao pai. […]
Elián González virou uma bola de futebol política, e – acredite na palavra de alguém que sabe o que é isso – a primeira consequência de virar uma bola de futebol é que você deixa de ser visto como ser humano que vive e sente. Uma bola é um objeto inanimado, feita para ser chutada de um lado a outro. Assim, você se transforma naquilo que Elián se tornou, na boca da maioria das pessoas que discutem o que fazer dele: útil, mas, em essência, uma coisa, apenas.
Você se transforma em prova da mania de litígio de que sofrem os Estados Unidos, ou do orgulho e poder político de uma comunidade imigrante poderosa em nível local. Você vira palco de uma batalha entre a vontade da turba e o estado de direito, entre o anticomunismo fanático e o antiimperialismo terceiro-mundista.
Você é descrito e redescrito, transformado em slogan e falsificado até quase deixar de existir, para os combatentes que se enfrentam aos gritos. Transforma-se numa espécie de mito, um recipiente vazio no qual o mundo pode derramar seus preconceitos, seu ódio, seu veneno.
Tudo o que foi dito até agora é mais ou menos compreensível. O difícil é imaginar o que se passa na cabeça dos
parentes de Elián em Miami. A família consanguínea desse pobre menino optou por colocar suas considerações ideológicas de linha dura à frente da necessidade óbvia e urgente que Elián tem de seu pai. Para a maioria de nós, que estamos de fora, a escolha parece ser desnaturada, repreensível.[...]
Quando os parentes de Miami dão a entender que Elián sofrerá “lavagem cerebral” se voltar para casa, isso apenas nos faz pensar que eles são ainda mais bitolados do que os ideólogos que condenam. (Salman Rushdie, “Elián González se transformou numa bola de futebol política”, Folha de S.Paulo, 7/4/2000, p. A 3, com pequenas adaptações.)

ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE INICIAIS APENAS, DE FORMA A NÃO SE IDENTIFICAR.

Daiane D. Baptista de Lima

Querido Elián

Através desta carta tento expressar o quanto sempre quis estar ao seu lado.
Há anos atrás, quando soube da morte de sua mãe e de seu possível falecimento, não pude conter as lágrimas. Em meu âmago só havia tristeza e um grande sentimento de perda, mas quando chegou a notícia de que você tivera sido encontrado com vida, tamanha foi minha alegria que não poderia colocá-la em palavras.
Naquele tempo, vários fatores me impediram de estar junto a ti. Fui contra muitas pessoas e ideologias, às quais não cabia nos separar, mas estas foram maiores do que eu e do que estava ao meu alcance, mas não maiores que minha vontade de nos reencontrarmos, que até hoje se faz presente dentro de mim.
Depois de quinze anos, espero que entenda que questões jurídicas me impediram de ficar contigo, e saiba que, em Cuba, sempre terás o amor e o carinho que no passado não fui permitido a lhe entregar, mas que hoje, se quiseres, estão a te aguardar de braços abertos.

(Com carinho),
J.M.G.

Aula 13 - Os tipos de persuasão



UEL 2002

Leia agora uma carta argumentativa baseada num tema proposto pela UEL em 2002. Preste muita atenção ao que foi pedido no enunciado e aos textos de apoio (suprimiu-se, por questões de espaço, um trecho do texto b). Note que os elementos da estrutura da carta foram respeitados pelo autor:

A partir da leitura crítica dos textos de apoio, escreva uma carta dirigida a um jornal da cidade, sugerindo medidas para conter a violência em Londrina.

a) A violência, quem diria, já não é o que mais preocupa o brasileiro. Chegamos à era da selvageria.

(Marcelo Carneiro e Ronaldo França)

Não é preciso ser especialista em segurança pública para perceber que o crime atingiu níveis insuportáveis. Hoje, as vítimas da violência têm a sensação quase de alívio quando, num assalto, perdem a carteira ou o carro - e não a vida.

Essa espiral de insegurança gerou uma variante ainda mais assustadora. É o crime com crueldade. A morte trágica de Tim Lopes, o repórter da Rede Globo que realizava uma reportagem sobre tráfico de drogas e exploração sexual de menores em um baile funk numa favela da Zona Norte do Rio de Janeiro, é apenas o exemplo mais recente de uma tragédia que se repete a toda hora. Desta vez, com uma questão ainda mais aguda: por que um bandido precisa brutalizar as suas vítimas?

O fato de as cenas mais chocantes da brutalidade estarem quase sempre associadas a regiões pobres das áreas metropolitanas das capitais brasileiras criou, em alguns especialistas, a idéia de que boa parte dos problemas de segurança poderia ser resolvida com investimentos maciços na área social. Trata-se de um equívoco.

Um levantamento do jornal O Globo mostra que, desde 1995, a prefeitura do Rio já investiu quase 2 bilhões de reais em projetos de urbanização, saneamento e lazer em favelas. Isso não impediu que, nos últimos dez anos, houvesse um crescimento de 41% no número de mortes de jovens entre 15 a 24 anos, na maioria moradores de áreas carentes.

O aumento da criminalidade desafia qualquer lógica que vincule, de modo simplista, indicadores sociais a baixos índices de violência. Desde a década de 80, quando o tráfico de drogas passou a se estabelecer definitivamente nas principais cidades brasileiras, os números relativos à educação, saúde e saneamento só fazem melhorar no país.

O investimento dos governos estaduais em segurança também é crescente. Só neste ano, o governador paulista, Geraldo Alckmin, prometeu destinar 190 milhões de reais para o combate à criminalidade, a construção de três penitenciárias e a aquisição de novos veículos - um recorde.

"Vincular violência somente a problemas sociais, por exemplo, é um erro. O crime organizado e a brutalidade que ele gera são um fenômeno internacional", diz a juíza aposentada Denise Frossard. Os códigos de crueldade das organizações criminosas chinesas, com mutilações do globo ocular, ou da máfia italiana, especializada em decepar a língua dos traidores, não diferem em nada do "microondas", criação dos traficantes cariocas para incinerar seus inimigos.

As soluções para tentar diminuir a espiral da brutalidade também podem ser encontradas no exterior. Criado em 1993, o projeto de Tolerância Zero, da prefeitura de Nova York, tinha desde o início o objetivo de combater os violentos crimes de homicídio por tráfico de drogas. Descobriu-se que o furto de veículos, um crime mais leve, tinha relação direta com os assassinatos.

Combatendo-se o furto, caía também o número de mortes. Assim feito, ao mesmo tempo que uma faxina nas delegacias eliminou centenas de policiais corruptos. São medidas que, no Brasil, ainda estão no campo da discussão. Quando finalmente se decidir pela ação, talvez já seja tarde. Por enquanto, a sociedade se pergunta, perplexa, como pode uma parte dela comportar-se de modo tão bárbaro. (Veja, jun. de 2002)

b) Iniciativas contra sete gatilhos da violência urbana

É imprescindível discutir a violência quando ocorre um homicídio por hora só na grande São Paulo. A cifra prova que o poder público fracassou numa das principais obrigações determinadas pela Constituição: garantir a segurança dos cidadãos. Este artigo apresenta iniciativas que tentam minimizar algumas causas da violência como as detalhadas no quadro abaixo. Elas atuam sobre sete fatores que influem na criminalidade: desemprego, narcotráfico, urbanização, cidadania, qualidade de vida, identidade e família.

Vigário Geral

Nome: Grupo Cultural Afro Reggae

Área de atuação: combate ao narcotráfico e ao subemprego

Comunidades atendidas: Vigário geral, Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas, Rio de Janeiro (RJ)

População atendida: 744 jovens e adultos (números atuais)

Quando começou: 21 de janeiro de 1993

Quem financia: Fundação Ford (apoio institucional)

Mais informações: site...

Jardim Ângela

Nome: Base Comunitária da Polícia Militar

Área de atuação: policiamento e atendimento social

Comunidades atendidas: Jardim Ângela

População atendida: 260 mil habitantes

Quando começou: 1998

Quem financia: Governo do Estado de São Paulo

Mais informações: fone...

(...)

Daiane D. Baptista de Lima

Sr. Redator:

Na data de 10 de junho de 2002, venho lhe apresentar minha visão e perspectiva (sobre a) grande violência (com a qual) a cidade de Londrina está sendo atacada.
Eu, como cidadã e participante da grande massa que é denominada sociedade, tenho como direito, e até mesmo (como) obrigação, opinar sobre o assunto.
O principal fator a que se deve tal desatino é a falta de estímulo e a deficiência no sistema de ensino, pois creio que a base de todo ser pensante seja o conhecimento.
O ser humano que não tem condições de se manter através de suas habilidades, que muitas vezes nem são descobertas ou desenvolvidas por falta de oportunidade, buscará se firmar na vida de uma forma mais "fácil".
Outro fator exorbitante que contribui para tais índices de violência é a impunidade. Se houvesse um sistema em que a pena não fosse branda, os indivíduos se intimidariam de modo a não serem capazes de se arrisacar em práticas maléficas.
Acredito que através desta carta o senhor possa ter ao menos uma noção do que nós, enquanto sociedade, necessitamos para exterminar pela raiz o problema que nos tem afligido.

Atenciosamente,
D.D.B.L.

Outro exemplo de texto(do site Mundo Vestibular):

Londrina, 10 de setembro de 2002

Prezado editor,

O senhor e eu podemos afirmar com segurança que a violência em Londrina atingiu proporções caóticas. Para chegar a tal conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas. Basta sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de "sorte" para constatarmos pessoalmente a gravidade da situação. Mas não acredito que esse quadro seja irremediável. Se as nossas autoridades seguirem alguns exemplos nacionais e internacionais, tenho a certeza de que poderemos ter mais tranqüilidade na terceira cidade mais importante do Sul do país.

Um bom modelo de ação a ser considerado é o adotado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi criado, no início de 1993, o Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos principais alvos são o tráfico de drogas e o subemprego, tem beneficiado cerca de 750 jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as comunidades de Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas.

Mas combater somente o narcotráfico e o problema do desemprego não basta, como nos demonstra um paradigma do exterior. Foi muito divulgado pela mídia - inclusive pelo seu jornal, a Folha de Londrina - o projeto de Tolerância Zero, adotado pela prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos.

Por meio desse plano, foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao narcotráfico (intenção inicial), seria mister combater outros crimes, não tão graves, mas que também tinham relação direta com a incidência de assassinatos. A diminuição do número de casos de furtos de veículos, por exemplo, teve repercussão positiva na redução de homicídios.

Convenhamos, senhor editor: faltam vontade e ação políticas. Já não é tempo de as nossas autoridades se espelharem em bons modelos? As iniciativas mencionadas foram somente duas de várias outras, em nosso e em outros países, que poderiam sanar ou, pelo menos, mitigar o problema da violência em Londrina, que tem assustado a todos.

Espero que o senhor publique esta carta como forma de exteriorizar o protesto e as propostas deste leitor, que, como todos os londrinenses, deseja viver tranqüilamente em nossa cidade.

Atenciosamente,

M.

Aula 13 - Os tipos de persuasão



Exercício:

Identificar os tipos de persuasão utilizados no texto abaixo.

COMUNICADO DO SERVIÇO SOCIAL DA COSEAS SOBRE A OCUPAÇÃO DO NOSSO ESPAÇO DE TRABALHO

Os funcionários técnicos e administrativos da Divisão de Promoção Social da Coordenadoria de Assistência Social desta Universidade vêm a público manifestar seu profundo desagrado e o sentimento de desrespeito pelo trabalho que desenvolvem, conforme atestam os acontecimentos relatados a seguir.

Em 18/03/2010, às duas horas da madrugada, a diretoria da Associação dos Moradores do Conjunto Residencial da USP, acompanhada de alunos e não alunos, decidiu ocupar o prédio onde funciona o Serviço Social da Coordenadoria de Assistência Social desta Universidade, órgão responsável pela administração do CRUSP e seleção dos alunos aos diversos benefícios existentes, entre outras atribuições.

A chamada “ocupação pacífica” foi justificada pelo grupo com o seguinte:

* Falta de vagas na moradia
* Atraso da reitoria na conclusão da obra de um novo bloco de residência
* Expulsões arbitrárias de moradores (inclusive de madrugada)
* Fim do programa Bolsa Trabalho
* Irregularidades constatadas nos processos de seleção sócio-econômica da Coseas
* Privatização do espaço de moradia cedida pela USP ao banco Santander
* Terceirização e precarização das condições de trabalho em órgãos administrados pela Coseas
* Política de vigilância e perseguição e violência implementada pela Coseas contra os moradores.

Reivindicações da ocupação:

* Mais vagas na moradia e nos alojamentos
* Agilização da conclusão das obras do novo bloco de moradia
* Fim das expulsões arbitrárias de estudantes da moradia
* Fim do serviço de vigilância e da prática de violência irregular da Coseas
* Autonomia dos estudantes no espaço da moradia e nos processos seletivos para os programas de permanência
* Contratação de funcionários e melhoria nas condições desumanas de trabalho e atendimento nos restaurantes da Coseas

(Fonte: Coseas Ocupada — panfleto distribuído na ocasião)

Na manhã dessa quinta-feira, fomos impedidos de entrar em nossas salas para trabalhar e mesmo de retirar objetos e documentos pessoais, sob xingamentos e ameaças.

O trabalho do Serviço Social sempre foi pautado pela possibilidade de participação dos alunos por meio do diálogo, buscando melhorias no entendimento. Os critérios do processo seletivo atual foram discutidos ao longo dos últimos anos.

A invasão nos tirou as ferramentas de trabalho de forma violenta, pois nenhuma ocupação pacífica se dá por arrombamento de portas e impedimento do acesso dos funcionários.

Salientamos que nesse espaço encontram-se documentos sigilosos que se revelados deixam pública a situação social e econômica de todos os que dependem do atendimento do Serviço Social deste campus, quais sejam alunos e trabalhadores docentes e técnico administrativos que participam das diversas seleções (creches, moradia, bolsas etc).

Em relação às reivindicações apresentadas, temos a dizer o seguinte:

* a maioria não pertence à alçada de nosso trabalho e nossa possibilidade de resolução. O que nos compete é o estudo das necessidades e fornecimento de subsídios para que outras instâncias tomem decisões a respeito dos apoios, incluindo a construção de moradias;
* Em relação aos atendimentos aos calouros, neste início de 2010, de todos os alunos pleiteantes aos benefícios do acolhimento, que comprovaram necessidade de apoio, atribuímos, emergencialmente, o seguinte: 180 bolsas alimentação (refeição gratuita nos restaurantes universitários), 74 vagas provisórias no alojamento do Crusp, 65 auxílios moradia (R$300,00 por mês), 30 auxílios transporte (R$ 150,00). A demanda não atendida refere-se a: 37 alunos que não completaram a documentação, 14 que desistiram do curso ou do apoio, 5 que já possuem uma graduação e 13 que estão fora de perfil socioeconômico desse grupo requisitante. Estes dados são somente do campus do Butantã.
* A bolsa trabalho não foi extinta e sim substituída pelo Programa “Aprender com Cultura e Extensão” da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, tendo a quantidade ampliada de 600 para 900 bolsas.
* A respeito das expulsões arbitrárias, esclarecemos que tal fato não ocorre no horário noturno. Os alunos que já esgotaram o tempo de permanência ou que são formados e que se negam a deixar a moradia, são submetidos a processo judicial e notificados por oficiais de justiça.
* A prática irregular de violência (existe violência regular?) não faz parte da prática dos agentes de segurança que muito têm colaborado no sentido de mediar conflitos entre moradores e evitar transtornos. Estes agentes fazem um trabalho de prevenção e proteção dos próprios moradores.
* Sobre a autonomia nos processos de seleção acreditamos que para ser legítimo esse processo deve ser feito por profissionais capacitados para sua operacionalização com ética e sigilo, pois deve ser imparcial. O diagnóstico social e o atendimento é prerrogativa do assistente social conforme a legislação pertinente.
* Quanto às irregularidades no processo seletivo, trabalhamos a partir de informações, declarações e documentos de responsabilidade dos usuários. A comprovação da situação socioeconômica de cada um é feita a partir destes documentos.

Baseadas nisto, vimos solicitar o apoio da comunidade uspiana para retomarmos o quanto antes nosso espaço e condições de trabalho, evitando prejuízos aos alunos e trabalhadores que dependem do nosso fazer.

São Paulo, 19 de março de 2010.
Equipe do Serviço Social da Coseas
Com o apoio da Coordenadora da Coseas
e de seus Diretores1

Herbert Reis de Souza/ Gabriel B. da Silva

* "manifestar seu profundo desagrado e o sentimento de desrespeito pelo trabalho que desenvolvem"/ "Na manhã dessa quinta-feira, fomos impedidos de entrar em nossas salas para trabalhar e mesmo de retirar objetos e documentos pessoais, sob xingamentos e ameaças."/ "A invasão nos tirou as ferramentas de trabalho de forma violenta, pois nenhuma ocupação pacífica se dá por arrombamento de portas e impedimento do acesso dos funcionários." - crítica aos invasores da instituição

* "Salientamos que nesse espaço encontram-se documentos sigilosos que se revelados deixam pública a situação social e econômica de todos os que dependem do atendimento do Serviço Social deste campus, quais sejam alunos e trabalhadores docentes e técnico administrativos que participam das diversas seleções (creches, moradia, bolsas etc)." - perda de algo positivo à comunidade

* "Em relação aos atendimentos aos calouros, neste início de 2010, de todos os alunos pleiteantes aos benefícios do acolhimento, que comprovaram necessidade de apoio, atribuímos, emergencialmente, o seguinte: 180 bolsas alimentação (refeição gratuita nos restaurantes universitários), 74 vagas provisórias no alojamento do Crusp, 65 auxílios moradia (R$300,00 por mês), 30 auxílios transporte (R$ 150,00). A demanda não atendida refere-se a: 37 alunos que não completaram a documentação, 14 que desistiram do curso ou do apoio, 5 que já possuem uma graduação e 13 que estão fora de perfil socioeconômico desse grupo requisitante. Estes dados são somente do campus do Butantã." - Explicação: os autores da carta explicam que os serviços prestados por eles estão corretos, ou seja, não deveriam ser constestados com a violência de uma ocupação estudantil.

* "A bolsa trabalho não foi extinta e sim substituída pelo Programa “Aprender com Cultura e Extensão” da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, tendo a quantidade ampliada de 600 para 900 bolsas." - a comunidade ganhou algo positivo

* "A respeito das expulsões arbitrárias, esclarecemos que tal fato não ocorre no horário noturno. Os alunos que já esgotaram o tempo de permanência ou que são formados e que se negam a deixar a moradia, são submetidos a processo judicial e notificados por oficiais de justiça.
* A prática irregular de violência (existe violência regular?) não faz parte da prática dos agentes de segurança que muito têm colaborado no sentido de mediar conflitos entre moradores e evitar transtornos. Estes agentes fazem um trabalho de prevenção e proteção dos próprios moradores." - perda de algo positivo (proteção e segurança)

Aula 12 - O gênero carta argumentativa


Simulado Unicamp 2011 - conferir tema abaixo

Daiane D. Baptista de Lima

Sr. Artur da Távola:

Na semana passada tive o prazer de ler sua crônica "Olho de menino triste". Preciso lhe apresentar alguns pontos que considero de extrema importância a respeito deste tema, mas antes tenho de lhe contar a minha história.
Quando criança, eu tinha uma grande dificuldade de me enturmar, fosse na escola ou em qualquer outro local. Não conseguia fazer amigos e vivia sempre solitário. Minha professora (assim como a M1 em sua crônica) percebeu a minha extrema aversão a qualquer possibilidade de me relacionar com os demais. A partir deste dia, ela começou a me tratar de modo diferenciado, usava de jogos que estimulavam a minha capacidade de criação e comunicação. Depois de alguns meses, passei a ser o líder da turma e hoje sou o presidente de uma grande empresa.
Por ter vivido uma experiência e sentido o quanto é importante um ensino com um estímulo diferenciado para crianças com dificuldades, venho lhe parabenizar por dar atenção para tal assunto, que está bem em frente aos nossos olhos, porém, muitos se recusam a vê-lo. Sua crônica retratou com excelência os olhos de um menino triste.

Atenciosamente,
A.N.

Aula 12 - O gênero carta argumentativa



Simulado Unicamp 2011

Leia a crônica abaixo e coloque-se na posição de um adulto que teve uma experiência escolar de “menino triste” e resolveu relatá-la em uma carta endereçada ao autor da crônica. Nessa carta, marcada por uma interlocução bem definida, você deverá:
• relatar sua experiência escolar de menino triste;
e
• relacionar essa experiência com a posição de M-1 ou de M-2, mostrando como sua escola lidou com a questão.

Lembre-se de que não deverá recorrer à mera colagem de trechos do texto lido.

Olho de menino triste
Duas pessoas que não conheço dialogam no ônibus e participo, em silêncio, ouvindo e pensando. Adorável conversa a três na qual apenas dois falam.
M-1 é a moça um. M-2 é a moça dois, a interlocutora. A-T sou eu. Elas conversavam, eu ouvia e pensava.

M-1 – Nada me comove mais que olho de menino triste. Você não tem vontade de chorar?
M-2 – Ah, minha filha, eu nem olho muito. De triste já chega a vida. Finjo que não vejo e só reparo os meninos alegres, aqueles comunicativos. Criança, para mim, tem que ser feito aquelas dos anúncios: sempre perfeitas, fortes, gordas, engraçadinhas e modelares.
M-1 – Também acho, mas quando vejo uma criança de olho triste, não consigo me desligar do que ela estará pedindo sem falar. Fico numa agonia danada querendo adivinhar qual é o seu problema. Tenho certeza de que ninguém alcança.
A-T – Não adianta, moça. O inconsciente humano, assim como carrega o passado do homem e da espécie, também tem germens de antecipação do futuro. As dores da humanidade, presentes, passadas e por vir, já acompanham algumas pessoas. E modelam seus rostos, olhos e mensagens corporais silenciosas...
M-2 – Deixa isso pra lá. A gente não vai salvar o mundo, mesmo. Se você ficar sempre olhando o lado triste quem acaba na fossa é você e sem nenhum proveito. Fossa pega, menina. E quem fica na fossa não tira ninguém dela. Sei lá. Se você ficar triste, por causa dele, o menino de olho triste vai ficar mais triste ainda.
M-1 – Pode ser que você tenha razão. Mas se fico negando a parte triste e transformo tudo em alegria, tenho a sensação de estar enganando minhas crianças (nessa hora, percebi que ambas eram professoras). O que é que ou fazer, se lá no colégio sinto mais simpatia pelos que ficam quietinhos, morrendo de medo dos outros, loucos de vontade de brincar mas sem coragem de se enturmar.
A-T – Esses vão ser assim sempre. Claro que terão, na mocidade, um período de reação, no qual tentarão se extroverter e nesse afã seguramente hão de exagerar. Lentamente, porém, como um rio após a enchente, voltarão para o leito de sua disposição inata e seguirão pela vida sempre olhando os brinquedos do lado de fora da vitrina.
M-2 – Bobagem sua. Com jeito, você pode ir atraindo os mais encabulados para a brincadeira dos outros. Se eles sentem que você está com peninha, nunca vão reagir. Vão é se basear na sua pena para ficar ainda mais tristes.
M-1 – E você pensa que não tenho tentado? É que observei que os meninos tristes, mesmo quando incentivados a brincar com os demais, acabam voltando ao que são, dentro da brincadeira. Os mais alegres e soltos sempre levam a melhor. Fico pensando se não seria o caso de se inventar uma pedagogia especial para a sensibilidade. Não há currículo? Não há nota? Não há teste de inteligência e de habilidades psicomotoras? Se tudo isso é importante, por que a escola não inventa, também, um tipo de currículo ou de pedagogia ou até mesmo escolas especiais para as crianças mais sensíveis? Acho que, se a gente consegue integrá-las na média, mais do que educando estará é violentando uma parte boa delas. Você não acha?
M-2 – Não acho, não. Se a escola conseguir formar e aprimorar sensibilidades, você acha que depois, na vida aqui de fora, haverá a mesma compreensão para os sensíveis? Essa não. Não é o mundo que tem que se adaptar às pessoas. Elas é que têm que se adaptar ao mundo.
A-T – Estava na hora de saltar. Desci feliz. Uma conversa como esta, de duas professoras, mostra que o mundo pode ser salvo. Mas fiquei pensando: talvez sejam os meninos tristes que o salvarão, sempre que a escola, um dia, os entenda e aprenda a cuidar-lhes sensibilidade e emoção da mesma maneira que se lhes aprimora a inteligência. Mas pedagogias à parte: haverá algo mais apatetante, culposo e dolorido que menino de olho triste? (Artur da Távola. Mevitevendo (Crônicas). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996: 25-27.)

Bianca Kaori:

Atibaia, 25 de junho de 2010

Caro Artur da Távola:

Ao ler sua crônica "Olho de menino triste", lembrei-me da minha infância e do quanto ela foi triste.
Aos seis anos de idade, perdi meus pais em um trágico assalto. Vi meus pais serem mortos e o barulho daquele tiro permanece em minha mente. Meus pais eram a única família que eu possuía, tanto que (depois) passei a morar em um orfanato.
Aos sete anos, entrei na escola e comecei a cursar a primeira série do ensino fundamental. Lembro da dificuldade que tinha ao aprender a ler. Quando a professora fazia chamada oral, todas as crianças acertavam (o exercício, enquanto) eu sempre errava. Por esses erros passei a ser motivo de piadas. Logo as crianças souberam o motivo, (e descobrindo que) eu morava no orfanato, seus olhares me condenaram. Mas ao ler (sobre) a "M-2", lembrei-me da professora que mal me olhava, agia naturalmente e nunca me tratava de (modo) diferente. Quando ela me olhava, seus olhos não me condenavam e não tinham piedade. Através do olhar de minha professora, percebi que era uma criança normal.
Hoje, sei que sou capaz, graças (à minha M-2).

Atenciosamente,
B.K.

Aula Extra - Comentários sobre as narrativas


A partir da figura escolhida, realizar uma descrição objetiva e uma descrição subjetiva sobre o fato retratado.

Daiane Damaris Baptista de Lima

Descrição Objetiva

A figura mostra um rapaz em uma grande cidade, sentado em uma ponte a tocar violoncelo ao cair da noite.
Podemos notar que ao fundo há a presença de um rio, muitos carros e prédios.

Descrição Subjetiva

Mesmo estando em uma grande cidade, sentado em uma ponte a mostrar sua arte, ninguém parou para ouvi-lo, ou melhor, ninguém teve tempo, e por esse motivo não notaram a sua canção.
A noite caía e ele continuava a tocar seu lindo e sereno violoncelo, e as únicas que lhe pararam para lhe fazer companhia foram a tristeza e a solidão.

Aula 11 - Descrição: a construção de personagens e cenários


(Unicamp 1995)

Na coletânea abaixo, há elementos para a construção d eum texto narrativo em que se tematiza o relacionamento entre duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será desenvolver essa narrativa, segundo as intruções gerais.

A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente.
(Ana Lightman, Sonhos de Einstein, 1993)

Cena A: Um homem, uma mulher

- Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a mão de um homem que nunca voltará a ver.
- Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim da tarde. (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no ar, casca e ramos ainda verdes.
- O cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor.
- Um homem sentadoi na quietude de seu estúdio, segurando a fotografia de uma mulher; há dor no olhar dele.
- Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas.
- As sombras azuis numa noite de lua cheia. O topo de uma montanha com um vento forte e constante.

Camila da Fonseca Moreira

A.A. - Agora acabou

Após beber muito, outra vez, em uma festa, Marta começa a brigar com ciúmes do marido.
Joaquim a puxa pelo braço, a leva para casa. Ele já não aguenta mais, não sente orgulho de sua mulher, sente vergonha!
Chegando em casa, Joaquim dá um banho gelado em Marta, lhe veste o robe e a deita no sofá. Ela vomita.
Joaquim, com um misto de piedade e raiva, tira a camisa e limpa seu rosto, então se despede. Marta tenta puxá-lo, mas como está bêbada, não consegue e adormece.
No dia seguinte, de manhã, Joaquim em seu trabalho olha a foto de Marta, de quando a conheceu - tão linda, cheia de vida e de planos, forte, com cabelos ruivos, misteriosa, alternando entre meiga e perigosa.
Enquanto isso, Marta acordava, com um fio de esperança, como uma fresta de luz dos últimos raios do pôr do sol, que Joaquim voltasse.
Ela caminhou até o banheiro, atordoada, se olhou no espelho, surpreendeu-se. "Como o tempo me castigou! Ou terá sido o álcool?". Mergulhada em suas lembranças, sentindo remorso, somava suas perdas: "O álcool tirou-me primeiramente a dignidade, depois o emprego, a mocidade, e agora meu marido".
Sentiu-se como uma árvore outrora forte, que o vendaval arrancara com raiz e jogara longe. Agora, toda aquela vitalidade, beleza e força não farão mais parte dela. Dificilmente seus últimos ramos, ainda verdes, sobreviverão por muito tempo, pois Marta já nao tem mesmo vontade nem motivos para continuar a viver.

Aula 10 - Análise de problemas estruturais na narrativa: a presença de inverossimilhanças e clichês


Tema: A bela das ruas (cf. postagem de maio)

Silvana Morais

Muito mais que uma história comovente

Hoje, depois de muito tempo passado, Fernanda, aquela moça conhecida como a "Bela das Ruas", descoberta por Mônica Bergamo, em uma de suas colunas na Folha de São Paulo, se encontra novamente em uma situação completamente diferente da que pensávamos ter. Como de praxe, repercutiu no Fantástico, na Márcia Goldsmith, em vários programas de tv, onde deu audiência, onde ganharam muito dinheiro em cima da história da pobre moça, fez book, estudou e ganhou uma casa por um ano (...), o que passa muito rápido!
Fernanda tirou proveito de tudo nesse meio tempo de um ano, porém, o tempo passou. Fernanda foi esquecida, a promessa de ser uma capa de revista não foi concretizada. Seu marido está trabalhando, sustentando o aluguel e a alimentação. O filho, Caio, estuda em uma ecsola pública e a "Bela das Ruas" trabalha em uma loja de conveniência, de onde tira dinheiro para seus estudos.
Agora, seu sonho não é mais ser uma top, ou simplesmente ser reconhecida por sua beleza, mas sim por sua inteligência e competência. Quer ser reconhecida futuramente como "doutora Fernanda". Todos a esqueceram, mas nós, novamente da Folha de São Paulo, não podíamos deixar uma história que deu tanta repercussão ser deixada de lado - não apenas a história em si, mas também seus personagens, que não podem ser esquecidos de tal forma, como se fossem máquinas de ganhar dinheiro.

Aula 8 - Foco narrativo e personagem


Unicamp 2006

Com o auxílio de elementos presentes na coletânea, trabalhe sua narrativa a partir do seguinte recorte temático:
Os meios de transporte sempre alimentaram o imaginário das pessoas em todas as fases da vida.
Desde a infância, os brinquedos e jogos exprimem e estimulam esse imaginário.
Instruções
1) Imagine a história de um(a) personagem que, na infância, era fascinado(a) por um brinquedo ou jogo representativo de um meio de transporte.
2) Narre a origem do encanto pelo brinquedo e o significado (positivo ou negativo) que esse encanto teve na vida adulta do(a) personagem.
3) Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.

Silvana Morais


Quando ainda pequeno, me imaginava pilotando um avião, ficava fissurado quando ia com meu pai assistir àquelas belas apresentações de aviões de caça. Gostava do que via e sentia.
Ainda me lembro como se fosse ontem quando fiz meu primeiro teste, de aviador. Estava me preparando há muito tempo, tanto fisicamente como psicologicamente. O desespero de não conseguir era enorme: aquele era meu momento, a minha hora! Não conseguia enxergar mais ninguém, só (podia) sentir e ver um infinito para sobrevoar. (...) Era meu sonho sendo realizado. Por fim, (alcancei meu objetivo), trabalhei por muitos anos, fui reconhecido, fiz muitos amigos, construí minha vida, meu futuro...
Hoje aqui estou eu sentado, mas não em um banco de caça, e sim em uma cadeira de rodas, escrevendo sobre tudo aquilo por que passei, tudo aquilo que vivi. Minha vida era pilotar, me sentia livre como um pássaro quando estava nas alturas com meu caça - (Lassie, o nome da minha mãe). Ah! éramos reconhecidos.
O que houve comigo? Sofri um acidente no céu, estava em uma apresentação, ouvia todos me aplaudindo, era mais um belo domingo, quando, sem saber ao certo o que me aconteceu, perdi o controle de Lassie. Quando acordei, estava em uma cama de hospital, sem sentir minhas pernas.
Hoje, não mais piloto, mas estou (sempre) assistindo, de camarote, às apresentações de meu filho, que supostamente, é igual ao pai...

Primeiro Simulado do Gauss - Redação


(Jéssica Aparecida de Almeida)

Sociedade e suas mentiras

Desde seu nascimento, Vitória fora ensinada a ser verdadeira. Em sua casa mentir era o maior pecado.
No período escolar, Vitória preferia entregar as avaliações em branco do que colar. Mesmo quando tentava contar uma pequena mentirinha, era como se algo a travasse, lembrando (lhe) do que seus pais (lhe) diziam.
Evitava até visitar pessoas doentes, pois não conseguia fazer uso do código ético e tentar ser delicada. Para ela, mentira sempre era mentira, não importando se era para o bem ou para o mal.
Amigos foram se perdendo. E Vitória se via sozinha. Nem seus pais suportavam tanta sinceridade. Eles, que a ensinaram a não ser hipócrita, já não a toleravam.
Vendo-se nesta situação ela resolveu ser agradável. Sempre elogiava as pessoas para ser gentil. Dizia (constantemente) o que (todos) gosta(vam) de ouvir.
Sua credibilidade estava cada vez maior diante da sociedade daquele município.
Seu nome agora estava concorrendo à prefeitura da cidade. (Afinal), suas mentiras era(m) (...) o que a população gostava de ouvir.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Tema de Redação do Primeiro Simulado do Gauss (29/05/10) - Comentários


UEM 2006

QUANDO SE JUSTIFICA MENTIR?
Para o texto NARRATIVO, atente para as seguintes instruções: redija a narrativa em 1.ª ou 3.ª pessoa, de forma que o conflito seja desencadeado por uma MENTIRA; além do conflito, o texto deverá ter personagens e desfecho adequados ao tema.

Excerto 1
(...)
Os pais ensinam os filhos desde cedo que mentir é muito feio. Que gente mentirosa é mal vista pela sociedade.
Mas vamos falar a verdade. O que mais existe no mundo é mentira (...)
Mentir é considerado o quinto pecado capital, mas quem já não teve de lançar mão desse recurso para se sair de uma situação complicada? Muita gente acredita que, se for uma mentirinha inofensiva que não prejudique ninguém, não faz mal. Mesmo que isso funcione algumas vezes, mais vale uma verdade dolorida do que uma mentira mal contada.
(...)
O Diário do Norte do Paraná, 1.º/04/2005.

Excerto 2
(...)
A interpretação da mentira depende, portanto, do “código de ética” seguido pelo mentiroso. Para o utilitarista, por exemplo, a mentira se justifica quando, através dela, se produz maior felicidade. Esse é o caso do comentário que se faz ao moribundo (“como você está bem ...”) ou do consolo do dentista (“não vai doer nada ...”) ou da formalidade dos adversários quando se encontram em público (“que prazer em vê-lo ...”) ou mesmo do final da carta desaforada (“com a minha alta estima e elevada consideração ...”).
(...)
José Pastore
Folha de S. Paulo, 20/05/1987.
Disponível em http://www.josepastore.com.br/artigos/cotidiano/057.htm


Comentários:

HILA, Cláudia Valéria Dona. “As representações do contexto de produção da redação do vestibular”. In: http://www.escrita.uem.br/escrita/pdf/cvdhila5.pdf

“(...) A1 revelou que houve uma prova de redação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), cujo tema era “Em que situações se justifica mentir?”, em que ela defendeu que a mentira não se justificava em hipótese alguma. Foi mal na prova e revelou ter assumido essa posição pois acreditava que “o corretor não gostaria de dissesse outra coisa”. Vê-se que é a imagem de um corretor moralizante que acabou por reger as escolhas discursivas e argumentativas da candidata, anulando sua própria potencialidade argumentativa.”

- O pensamento da aluna A1, citado neste artigo, parece ter guiado boa parte das produções narrativas neste simulado. Ainda que os alunos tenham atendido à expectativa de criar um personagem “mentiroso”, muitas das redações procuravam justificar essa mentira de um modo bastante clichê. Ora estávamos diante da garota que mentia para salvar a vida dos pais, ora diante dos pais que mentiam para preservar as ilusões dos filhos. Além disso, em muitas redações as mentiras eram punidas severamente, com acidentes, mortes trágicas e castigos prolongados. Nessas produções, que obedeceram cegamente ao clichê, o trabalho com a coletânea foi quase nulo. Releiam o tema da UEM: os textos abordam justamente a relatividade do mentir.


Exemplos de narrativas possíveis:

Pequenas Mentiras
(Jan Traumer)

A chuva, fina e fria, cai intermitente por mais de dois dias tristes. Quando a temperatura diminuía muito, as pequenas gotas, que precipitavam tal qual bailarinas, girando no ar, formavam flocos de neve. Tão frágeis que derretiam ao tocar o solo. Havia mais de três semanas que eles não viam o Sol, encoberto por nuvens pesadas vindas da Sibéria, alguém disse. Na primeira semana, houve uma nevasca terrível, e a neve se acumulou em camadas, nas calçadas, telhados, árvores, tudo tinha ficado branco. Quando a neve começou a derreter, havia lama em todos os lugares, além de placas de gelo no chão, que não se desmancharam porque a temperatura voltou a cair. E naquele domingo havia chuva, fina, fria, intensa. Eles queriam sair, ver a rua. Patrícia queria tomar um sorvete na Piazza di Roma, a sorveteria mais famosa da cidade. No último verão, quando não estavam fora da cidade, iam todos os domingo naquele estabelecimento que vendia felicidade em bolas de chocolate, e em outros sabores. Resolveram sair de casa, e saíram feitos astronautas, com o corpo coberto por várias camadas de roupas.
Caio havia aprendido a mentir com Patrícia. Ela lhe contara muitas histórias. E ele não podia acreditar em todas, parecia ser fantasia, mania de grandeza, loucura. Fingira acreditar. Aceitava ouvir tudo, pois não tinha mais ninguém para lhe fazer companhia naquele inverno. Não tinha com quem caminhar nas ruas geladas, sorvendo um sorvete de creme e flocos, de braços dados. Mas aprendia com as histórias dela. Anos depois ele agradeceu tê-la conhecido. Todas às vezes, quando foi necessário inventar uma história, ele se lembrava dela, sua professora de mentira. Uma vez, quando caminhavam por uma estrada de chão batido, indo para um castelo medieval dentro de uma floresta de pinheiros, ele resolveu contar uma história. Resolveu inventar uma história fantástica, para ludibriá-la. Mas ela, no seu jeito de moça recatada, e ao mesmo tempo espevitada, era muito mais esperta do que ele, e percebeu, que o rapaz magro, e sensual que lhe dava o braço, que às vezes dormia em seu quarto, que parecia ser o seu melhor amigo, estava lhe contando uma mentira. Eles discutiram, e ela pediu que nunca mais lhe mentisse. Ele com o orgulho de homem jovem ferido, prometeu a si mesmo, ainda com o rosto rosado, resultado da vergonha por ter sido desmascarado, ao ser pego na mentira, que ia enganá-la. Achou que poderia produzir uma mentira perfeita, a aquela que ela não desconfiaria.
No domingo, quando desciam a rua em direção ao rio, ainda não tinham terminado de tomar os seus sorvetes. Ela vertia algumas lágrimas, estava triste, e o tempo não ajudava. Ele começou a contar uma história, que teria se passado na ausência dela, quando estivera viajando para o campo. Ela riu ainda com o rosto molhado, das coisas que ele falou, mas pediu que ele explicasse novamente a história, pois não tinha entendido direito alguns fatos. Na segunda exposição, ela percebeu que ele mentia. Ela parou na calçada, no momento em que iam atravessar a rua. Ele foi, ela ficou. Nunca havia inventado uma história, nem contado uma mentira para ele. Mas ele, inseguro, sentia-se inferior a ela. Armou-se num mundo imaginário que não existia, único mundo onde conseguia forças para estar ao lado dela em igualdade. Ele aprendeu a mentir com ela. Ela nunca mentiu para ele. Depois daquele dia só se viram esporadicamente, se cumprimentavam com os olhos, quando se viam em algum lugar. Quando ele atravessou a rua, da última vez em que estiveram juntos, ela deu meia volta e retornou pela mesma rua, subindo a rua em direção à sorveteria. Precisava de mais uma bola de chocolate, talvez duas ou três. A chuva fina e fria havia se transformado em pequenos flocos de neve. A paisagem, com o casario antigo ao fundo, era linda. Ela tinha novamente lágrimas nos olhos, mas sentia-se feliz, com toda a sua verdade.

In: http://einmalistkeinmal.blogspot.com/2008/02/pequenas-mentiras.html

O homem que adorava mentir
(Alexandre Lana Lins)


Úmero resolveu contar a grande mentira da vida dele. Esta mentira seria a consagração das décadas em que viveu mentindo. Uma grande mentira que mobilizaria aquela cidade do interior, onde viveu toda a sua vida. Úmero sempre mentiu. Aliás, nasceu mentindo. Ao invés de chorar, riu quando o médico lhe deu palmadas no bumbum. Era o sinal. Seria um grande zombador. Achava que a vida seria uma grande festa! No berço, chorava de fome, mas quando a mamadeira era colocada em sua boca, ele ria. E como ria! Era mentira!

Na escola, todo dia contava uma mentira para os seus colegas. Alguns professores o colocavam de castigo e diziam: “Por que não escreve histórias?" Mas não, Úmero queria zombar, rir da vida e contar mentiras. Inventava mil histórias, porém quantas eram prejudiciais.

Adolescente, teve as primeiras namoradas à base da mentira. Não duravam muito os relacionamentos. Claro, as mentiras logo eram desmascaradas. Mas sem mulher ele não ficava. Era um galã. Tocava violão, fazia serenata e mentia. Assim, conquistava as mulheres.

Adulto, não parava em emprego nenhum, pois logo a sua fama de mentiroso se espalhou. Não casou. Que mulher queria casar com um mentiroso? E quando se viu diante do desemprego e da falta de oportunidade, um “amigo” lhe convidou para ser político. Ah! Ai foi o momento de glória! Como mentia bem esse filho de uma égua. Venceu várias eleições, mentindo. Não cumpria nada do que prometia. Era um eloqüente mentiroso no coreto de sua cidade, bracejando as promessas invisíveis.

Até que o povo cansou e ele não conseguiu se eleger mais a nenhum cargo. Mas ficou rico. Enquanto procurava outras ocupações, continuava a mentir. Até que ninguém lhe deu atenção mais. Úmero, então, resolveu contar a grande mentira da vida dele. Esta mentira seria a consagração das décadas em que viveu mentindo. Espalhou para toda cidade que só tinha seis meses de vida. Inventou uma doença e foi tão verdadeiro que todos acreditaram. Podia ter sido um grande ator. Chorava nos bares e nas esquinas da cidade. Os religiosos rezavam pela sua saúde e Úmero passou a ser tratado como rei. O grande cidadão e prefeito que aquela cidade já teve!

Até que um médico da capital chegou à cidade e descobriu toda a mentira. E a notícia logo foi se espalhando. Pronto! A vida de mentiroso de Úmero foi destruída. Foi levado à fogueira, assim como o Judas nos sábados de aleluia. Ninguém lhe falava mais e nem um “bom dia” recebia. Foi definhando, acreditou na sua grande mentira e dizia que faltava pouco para morrer. Até que morreu. No dia 1º. se abril. Morreu com a doença que havia inventado. O povo daquela cidade só soube por um cartaz redigido com uma velha máquina de escrever na porta do bar. Ninguém foi ao enterro. Só ele e o coveiro. Afinal, ninguém acreditou que Úmero tinha realmente morrido. Nem o padre. Era mais uma grande mentira!

In: http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=4718

A moça que descomia mentiras
(Elza Fraga)


Ela foi uma criança criativa, uma adolescente perigosa.
Virou uma adulta mentirosa.
Tinha duas escolhas na vida:
Escrever livros, contando as histórias que inventava da vida de amigos, parentes, vizinhos e afins, e fazer uso das suas mentiras próprias; ou virar atriz e viver as mentiras alheias, sem ter que sair machucando Deus e o mundo e mais um pedaço, melhor de tudo, sem sentir culpa no cartório.
Talento pouco na arte de escrevedora e de intérprete, e muito pra invencionices oralmente fantasiosas, nem escreveu o livro, nem virou atriz.
Virou foi uma bulímica da melhor qualidade.
Vomitava as mentiras mal digeridas como quem vomita a folha de alface do almoço.
Ficou anoréxica a bichinha...
Não lhe parava mais nem uma mentirinha, das pequenas sequer, no estômago!
E definhava a olhos vistos sem que se pudesse fazer nadica por ela.
Todos se surpreendiam com a rapidez que criava mentiras novas pra colocar no lugar das vomitadas...
Era a ânsia de prender a vida, que lhe escapava pelas paredes da garganta, nos dedos.
Moribundou jovem, coitada!
Mas continuou a andar por aí, a se encher de ar e de invencionices, sofregamente.
O corpo ainda se locomovia, feio, curvado ao peso das mentiras, olhos fundos na face cadavérica...
Mais se arrastava do que caminhava, mas ia em frente.
Até que num dia chuvoso uma mentira, das grandes, se lhe entalou na garganta, não conseguia descer goela abaixo nem por decreto...
Ficou roxa , perdeu o ar, esverdeou-se, se foi de vez!
Até hoje perguntam de que partiu a tal moça, nessa mania que o povo tem de achar que todo cadáver tem que ter causa mortis.
Respondo que morreu de mentira grande demais pra ser engolida.
Sabe que ninguém me acredita?!

In: http://www.gargantadaserpente.com/coral/contos/ef_moca.shtml