segunda-feira, 24 de maio de 2010

Exercícios da apostila - parte II



Leitura de todo o material referente às questões 1,2,5 e 6. Listar conectores, verbos, construções linguísticas interessantes, etc, que podem auxiliar na clareza de um resposta.

Questão 1

"observa-se a diferença provocada pelo uso (...)"
"assim transmite-se o sentido (...)"
"tanto em (...) quanto em (...)"
"com adição simultânea de (...)"

Questão 2

"consiste em afirmar"

Questão 5

"explicita"
"já x tem o sentido de (...)"

Questão 6

"a grande diferença é que (...)"
"assim como no texto x (...)"

Aula 11. Descrição - a construção de personagens e cenários


(Unicamp 1995)

Na coletânea abaixo, há elementos para a construção d eum texto narrativo em que se tematiza o relacionamento entre duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será desenvolver essa narrativa, segundo as intruções gerais.

A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente.
(Ana Lightman, Sonhos de Einstein, 1993)

Cena A: Um homem, uma mulher

- Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a mão de um homem que nunca voltará a ver.
- Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim da tarde. (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no ar, casca e ramos ainda verdes.
- O cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor.
- Um homem sentadoi na quietude de seu estúdio, segurando a fotografia de uma mulher; há dor no olhar dele.
- Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas.
- As sombras azuis numa noite de lua cheia. O topo de uma montanha com um vento forte e constante.

Cena B: Um pai, um filho

- Uma criança à beira do mar, enfeitiçada pela primeira visão que tem do oceano.
- Um barco na água à noite, suas luzes tênues na distância, como uma pequena luz vermelha no céu negro.
- Um livro surrado sobre uma mesa ao lado de um abajur de luz branda.
- Uma chuva leve em um dia de primavera, um passeio que será o último passeio que o jovem fará no lugar que ele ama.
- Um pai e um filho sozinhos em um restaurante, o pai, triste, olhos fixos na toalha da mesa.
- Um trem com vagões vermelhos, sobre uma grande ponte de pedra, de arcos delicados, o rio que sob ela corre, minúsculos pontos que são casas à distância.

Instruções gerais:

- Escolha elementos de apenas uma das cenas apresentadas (A ou B), para construir: as duas personagens, o cenário, o enredo e o tempo de sua narrativa.
- O foco narrativo deverá ser em terceira pessoa.
- O desenvolvimento do enredo, a partir da cena escolhida por você, deverá levar em consideração o trecho de Ana Lightman, que introduz a coletânea.

(* os fragmentos das cenas A e B também foram extraídos do livro de Ana Lightman)

Jéssica Aparecida de Almeida:

Consequência da liberdade

Sentado em um estúdio, Roberto observava a foto de Mariana. Olhos cheios de lágrimas, mãos trêmulas, cabeça baixa. O sentimento de impotência fazia com que se tornasse cada vez mais fracassado.
Roberto se recordava daquela tarde. A luz do sol entrava pela janela, (enquanto) uma vontade incontrolável o possuía: subir a montanha. Era como se algo o chamasse.
Imensa liberdade. Vento forte que o tornava parte do lugar. Uma ideia: pular de asa-delta. Foram os dois, Roberto e Mariana.
Equipamento pronto, um salto. Roberto fechou os olhos. Voltava ao passado e se tornava uma criança. Uma felicidade contagiante o dominava: era como se suas preocupações nunca tivessem existido.
(...) Um grito acabou com sua alegria: Mariana havia se desprendido. Roberto tentou pegá-la, mas foi inútil.
Agora Mariana estava em coma. A fotografia dela trazia apenas sofrimento ao olhar de Roberto. Que iria se sentir culpado por toda a vida.


Aula 11. Descrição - a construção de personagens e cenários


(Unicamp 1995)

Na coletânea abaixo, há elementos para a construção d eum texto narrativo em que se tematiza o relacionamento entre duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será desenvolver essa narrativa, segundo as intruções gerais.

A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente.
(Ana Lightman, Sonhos de Einstein, 1993)

Cena A: Um homem, uma mulher

- Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a mão de um homem que nunca voltará a ver.
- Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim da tarde. (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no ar, casca e ramos ainda verdes.
- O cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor.
- Um homem sentadoi na quietude de seu estúdio, segurando a fotografia de uma mulher; há dor no olhar dele.
- Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas.
- As sombras azuis numa noite de lua cheia. O topo de uma montanha com um vento forte e constante.

Cena B: Um pai, um filho

- Uma criança à beira do mar, enfeitiçada pela primeira visão que tem do oceano.
- Um barco na água à noite, suas luzes tênues na distância, como uma pequena luz vermelha no céu negro.
- Um livro surrado sobre uma mesa ao lado de um abajur de luz branda.
- Uma chuva leve em um dia de primavera, um passeio que será o último passeio que o jovem fará no lugar que ele ama.
- Um pai e um filho sozinhos em um restaurante, o pai, triste, olhos fixos na toalha da mesa.
- Um trem com vagões vermelhos, sobre uma grande ponte de pedra, de arcos delicados, o rio que sob ela corre, minúsculos pontos que são casas à distância.

Instruções gerais:

- Escolha elementos de apenas uma das cenas apresentadas (A ou B), para construir: as duas personagens, o cenário, o enredo e o tempo de sua narrativa.
- O foco narrativo deverá ser em terceira pessoa.
- O desenvolvimento do enredo, a partir da cena escolhida por você, deverá levar em consideração o trecho de Ana Lightman, que introduz a coletânea.

(* os fragmentos das cenas A e B também foram extraídos do livro de Ana Lightman)

Júlio César Barboza:

A dor da distância


Ele sempre buscara refúgio à beira do mar para afogar suas mágoas, pois neste mesmo lugar foi onde sentira a dor da partida. Onde aprendeu também a arte de confrontar-se com a água e a vencer seus próprios limites.
(...) Todas as manhãs de domingo íamos juntos para dentro do imenso oceano, que nos convidava a compartilhar nossa imensa alegria. E aconteciam nessas mesmas manhãs finas chuvas que anunciavam a amarga partida de meu pai, aquele homem rude, mas sempre carinhoso e atencioso. Em uma certa manhã, quando seguíamos juntos em direção ao mar, se concretizou o aviso daquelas (...) chuvas. Um enorme barco ancorado a vinte metros da costa esperava por meu pai. Lá se foi ele em busca de minha mãe, que havia sumido quando dera a luz.
(...)
- Com quem irei confrontar o mar? (...) Com quem compartilharei minhas alegrias?
(...)
- Com o mar...
Um pequeno livro já velho e empoeirado me (faz recordar) doces lembranças (...). O simples livro que meu pai me deu, quando completei dez anos, assim como a chuva, me lembra da dor da distância. O mesmo (...) que eu sinto, meu pai, com certeza, (...) também sente. Ambos procuram uma felicidade à distância, revirando as páginas de um livro qualquer. (O som das folhas me lembra o ruído das) ondas do mar, (o que faz com que meu pai e eu fiquemos) cada vez mais próximos.

Exercícios da apostila - parte II


Identificar nas narrações não satisfatórias da Unicamp a presença de 3 inverossimilhaças e 3 clichês.

Redações a serem analisadas:

Redação 2:

Débora Motta, recém formada em Biologia, trabalhava em um instituto de pesquisa científica e estava desenvolvendo uma nova vacina contra tuberculose. Sua experiência era um sucesso, todas as cobaias de camundongos estavam reagindo, estavam apresentado anticorpos.
Débora se sentia realizada, pensava: “Vou ficar rica e a humanidade salva!”
Assim passou-se os dias, ela começou a ser admirada e reconhecida pelo seu trabalho. Aparecia em entrevistas televisivas, dava palestras. As pessoas já acreditavam na cura da doença e no aumento da expectativa de vida.
Certa vez Débora foi convocada para um debate, também passara a receber críticas de entidades que eram a favor da proteção aos animais.
Acusavam-na de crime ambiental e maus tratos por utilizar cobaias em seus experimentos, o que era uma forma de desprezo à vida e a população por não incentivá-los a obtenção da cura através de prevenções para que não adquirissem a doença e sim iludi-los com medicamentos.
Com tantas acusações, Débora sentiu-se ofendida e desmotivada para continuar suas pesquisas. Tantos anos de estudo, investimento, dedicação, impossível que estas pessoas não reconhecessem seu trabalho. Elas não precisariam mais se preocupar com a doença, era só medicar-se e estariam curadas. Pensou muito e decidiu que continuaria com seu trabalho, mesmo recebendo críticas, logo as pessoas esqueceriam isso.
Mas isso não aconteceu, as críticas aumentaram, a população estava sendo mobilizada, o governo criou uma lei que tornou ilegal a utilização de animais em práticas científicas e ela foi penalizada por crime ambiental.
Não teve outra saída, abandonou a pesquisa com cobaias, mas não desistiu de encontrar a cura, já tinha experiência, com o tempo descobriria outro método, ficaria rica e ainda salvaria a humanidade.

Daiane D. Baptista de Lima:

Inverossimilhanças:



Logo no início do texto a pesquisadora Débora Motta é admirada e exaltada por suas experiências e mais a frente essa ideia é quebrada, pois ela se torna o alvo de críticas e acusações contra a vida. Podemos evidenciar (a inverossimilhança) através dos trechos: "(...) ela começou a ser admirada e reconhecida pelo seu trabalho. Aparecia em entrevistas, dava palestras" e "Acusavam-na de crime ambiental e maus tratos por utilizar cobaias em seus experimentos".
(Além do mais), o candidato foi infeliz ao afirmar que a personagem estava ofendida e desmotivada para continuar suas pesquisas, pois se torna contraditório ao dizer que ela continuaria com seu trabalho mesmo recebendo críticas.

Clichês:


O candidato, ao redigir o texto, usou algumas frases que evidenciam sua total falta de criatividade e vocabulário, pois utiliza-se de (...) clichês para expressar suas ideias. Podemos citar as seguintes afirmações: "Sua experiência era um sucesso", "Vou ficar rica e a humanidade salva" e "Não teve outra saída".

Exercícios da apostila - parte II


Identificar nas narrações não satisfatórias da Unicamp a presença de 3 inverossimilhaças e 3 clichês.

Redações a serem analisadas:

Redação 1:
Bolha Wasp
Sabão é feito de gordura. Isso é fato. Eu sei, porque dediquei uma parcela da minha vida à isso. Não, eu não sou gordo. O fato é, que eu trabalhava na carrocinha e, lá a lógica era simples: cachorro sem dono vira sabão.
Eu tinha coração. Eu me entristecia ao ver mulheres espancadas pelo marido, crianças agredidas pelos pais e os idosos ignorados, mas, para mim, cachorro era pelúcia. Eu entendia a vida assim. Afinal eu precisava tomar banho.
Meu trabalho começava antes do nascer e terminava depois do pôr-do-sol. Demorava, mas era fácil. Eu tinha, apenas, que colocar os animais na máquina. A minha vida teria continuado seguindo este rumo se o Wasp não tivesse aparecido.
Eu estava voltando para casa, ele rosnou. Minha mulher apareceu saindo com as malas, ele rosnou novamente (e eu chorei). Sentei na sargeta, ele se aconchegou do meu lado. Então eu o percebi pelo som de seu rabo vibrante. Como ele era sarnento. Tentei ignorá-lo, mas o bichinho era bom demais. Ele sabia o que eu estava sentindo. Eu juro que sabia. O chamei de Wasp.
Como em casa de pobre sempre cabe mais um e como a gorda maldita tinha me abandonado, eu o adotei. No começo, ele queria me acompanhar para todo lugar, mas logo expliquei para ele que lá não era um dos melhores lugar para ele estar. A isso Wasp compreendeu facilmente, o que ele não compreendia era como eu podia fazer uma coisa dessas.
Wasp fazia xixi e coco pela sala, babava na minha cama e latia durante o meu sono, mas eu gostava dele. Ele era humano. Seu único problema era querer liberdade demais. Virou sabão. A dor foi a pior que eu já senti. Fiquei triste, me senti culpado. Eu ensinei à ele várias coisas, mas ele me ensinou a maior lição. Aprendi o
quanto o ser humano é tolo.
Sozinho, decidi ser um pouco mais Wasp e lutar pela liberdade dos animais. Fazer as coisas funcionarem, já que as leis não fazem. Decidi participar do CONCEA e do programa da Luiza Mel. Devo admitir que o programa fez mais sucesso, a justiça no Brasil é caótica.
O ser humano se achava evoluído, mas é ignorante. Precisa de tempo para perceber as coisas. Demorou para perceber a humanidade de índios e negros. Quando vai perceber a emoção do animal?
Eu estou lutando. Agora, eu tomo banho de detergente.

Daiane D. Baptista de Lima:

Inverossimilhanças:


O candidato afirma que (em função)do afeto que o personagem sentia pelo cão decidiu lutar pela liberdade e a partir disso (...) passou a tomar banho de detergente.

(...) Na afirmação "Ele era humano", o candidato foi infeliz ao tentar caracterizar o cachorro de forma amorosa.

A frase "Wasp fazia xixi e cocô na sala, babava na minha cama e latia durante o meu sono, mas eu gostava dele" se torna inverossímil, pois uma pessoa não aceitaria tal comportamento sem se enfurecer.

Clichês:

Ao longo do texto podemos observar vários clichês, o que torna evidente a falta de originalidade do autor, entre eles podemos destacar as seguintes frases: "Em casa de pobre sempre cabe mais um", "A justiça no Brasil é caótica", "O fato é que eu trabalhava na carrocinha e, lá a lógica era simples: cachorro sem dono vira sabão".
Em todas as frases percebemos que o candidato se guiou pelos ditados e crenças populares, tornando o texto apenas uma cópia do que já foi criado.


Joice Amâncio Fernandes:


Inverossimilhanças:


"Wasp fazia xixi e cocô pela sala, babava na minha cama e latia durante o meu sono, mas eu gostava dele". Desde o início da narrativa o personagem se mostra indiferente aos animais: "(...) para mim, cachorro era pelúcia", mas adota Wasp porque estava solitário (...). Diante desses fatos e a forma brusca como ocorreu a mudança do personagem, (ocorre a inverossimilhança).

"Eu ensinei a ele várias coisas, mas ele me ensinou a mior lição". Durante a narrativa não é citado nenhum ensinamento a Wasp, pelo comportamento do mesmo e pelo tempo que Wasp e o dono ficam juntos, torna-se difícil acreditar que o personagem tenha ensinado várias coisas (ao cão) e este (as tenha) aprendido.



Clichês:


"Como em casa de pobre sempre cabe mais um..." - A oração faz referência à expressão popular "Em coração de mãe sempre cabe mais um", o que a torna clichê. O candidato poderia excluir esse trecho, já que ele não apresenta importância na narrativa, pelo contrário, a empobrece por ser clichê. (Poderia substituir este trecho) (...) por "Como estava solitário, resolveu adotá-lo".

"Fazer as coisas funcionarem, já que as leis não fazem", "... a justiça no Brasil é caótica". Ambos os trechos são clichês, poderiam ser removidos da narrativa sem problemas, pois além de não terem muita importância no texto e serem clichês, têm caráter de texto dissertativo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Narração - Simulado


1. (FUVEST) A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta
no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, se faz em primeira
pessoa, portanto, do ponto de vista da personagem Bentinho.
Seria, pois, correto dizer que ela se apresenta:
a) fiel aos fatos e perfeitamente adequada à realidade;
b) viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador;
c) perturbada pela interferência de Capitu que acaba por guiar o narrador;
d) isenta de quaisquer formas de interferência, pois visa à verdade;
e) indecisa entre o relato dos fatos e a impossibilidade de ordená-los.

Item a: o narrador em primeira pessoa coloca o seu ponto de vista na narração, tornando-a viciada por uma perspectiva.


2. (ITA) Assinale a alternativa que melhor complete o seguinte trecho:
No plano expressivo, a força da ____________ em _____________ provém
essencialmente de sua capacidade de _____________ o episódio, fazendo
______________ da situação a personagem, tornando-a viva para o ouvinte, à
maneira de uma cena de teatro __________ o narrador desempenha a mera
função de indicador de falas.
a) narração - discurso indireto - enfatizar - ressurgir - onde;
b) narração - discurso onisciente - vivificar - demonstrar-se - donde;
c) narração - discurso direto - atualizar - emergir - em que;
d) narração - discurso indireto livre - humanizar - imergir - na qual;
e) dissertação - discurso direto e indireto - dinamizar - protagonizar - em que.

Item c - O discurso direto atualiza o episódio, uma vez que a fala do personagem é citada integralmente no texto. Dessa forma, a personagem emerge da narrativa, ganha vida e voz, enquanto o narrador apenas indica suas falas.

3. (ESAN) "Impossível dar cabo daquela praga. Estirou os olhos pela
campina, achou-se isolado. Sozinho num mundo coberto de penas, de
aves que iam comê-lo. Pensou na mulher e suspirou. Coitada de Sinhá
Vitória, novamente nos descampados, transportando o baú de folha."
O narrador desse texto mistura-se de tal forma à personagem que dá a
impressão de que há diferença entre eles. A personagem fala misturada à
narração. Esse discurso é chamado:
a) discurso indireto livre
b) discurso direto
c) discurso indireto
d) discurso implícito
e) discurso explícito

Item a - Discurso indireto livre é, por excelência, aquele que mescla a voz do personagem ao discurso do narrador, sem que haja limites precisos entre uma e outra.

4. (UNIFENAS) Com base no texto abaixo, indique a alternativa cujo
elemento estruturador da narrativa não foi interposto no episódio:
"Porque não quis pagar uma garrafa de cerveja, Pedro da Silva, pedreiro,
de trinta anos, residente na rua Xavier, 25, Penha, matou ontem em
Vigário Geral, o seu colega Joaquim de Oliveira."
a) o lugar
b) a época
c) as personagens
d) o fato
e) o modo

Item e: O lugar é Vigário Geral, o fato é o assassinato, a época é um "ontem" (relativo e impreciso, não deixa de ser um marcador temporal) e os personagens são Pedro da Silva e Joaquim de Oliveira. Só não nos é dada a informação do modo como ocorreu o assassinato.

5. (FATEC)
"Ela insistiu:
- Me dá esse papel aí."
Na transposição da fala da personagem para o discurso indireto, a
alternativa correta é:
a) Ela insistiu que desse aquele papel aí.
b) Ela insistiu em que me desse aquele papel ali.
c) Ela insistiu em que me desse aquele papel aí.
d) Ela insistiu por que lhe desse este papel aí.
e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali.

Item e: Na transposição para discurso indireto, a fala do personagem passa para a terceira pessoa, o que justifica o uso do "lhe". Ocorre também um distanciamento espacial ("aquele" em vez de "esse" e "ali" em vez de "aí"), uma vez que mudam as categorias do discurso do personagem.

Texto para as questões 06 a 09
O leão
A menina conduz-me diante do leão, esquecido por um circo de passagem. Não está preso, velho e doente, em gradil de ferro. Fui solto no gramado e a tela fina de arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: as pernas reumáticas, a juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se cansados, sobre o focinho contei nove ou dez moscas, que ele não tinha ânimo de espantar. Das grandes narinas escorriam gotas e pensei, por um momento, que fossem lágrimas. Observei em volta: somos todos adultos, sem contar a menina. Apenas para nós o leão conserva o seu antigo prestígio - as crianças estão em redor dos macaquinhos. Um dos presentes explica que o leão tem as pernas entrevadas, a vida inteira na minúscula jaula.
Derreado, não pode sustentar-se em pé.
Chega-se um piá e, desafiando com olhar selvagem o leão, atira-lhe um punhado de cascas de amendoim. O rei sopra pelas narinas, ainda é um leão: faz estremecer as gramas a seus pés.
Um de nós protesta que deviam servir-lhe a carne em pedacinhos.
- Ele não tem dente?
- Tem sim, não vê? Não tem é força para morder.
Continua o moleque a jogar amendoim na cara devastada do leão. Ele nos olha e um brilho de compreensão nos faz baixar a cabeça: é conhecido o travo amargoso da derrota.
Está velho, artrítico, não se agüenta das pernas, mas é um leão. De repente, sacudindo a juba, põe-se a mastigar capim. Ora, leão come verde! Lança-lhe o guri uma pedra: acertou no olho lacrimoso e doeu.
O leão abriu a bocarra de dentes amarelos, não era um bocejo. Entre caretas de dor, elevou-se aos poucos nas pernas tortas. Sem sair do lugar, ficou de pé. Escancarou penosamente os beiços moles e negros, ouviu-se a rouca buzina do fordeco antigo.
Por um instante o rugido manteve suspensos os macaquinhos e fez bater mais depressa o coração da menina. O leão soltou seis ou sete urros. Exausto, deixou-se cair de lado e fechou os olhos para sempre.

06. (ITA)
I. Embora não seja um texto predominantemente descritivo, ocorre descrição, visto que o autor representa a personagem principal através de aspectos que a individualizam.
II. Por ressaltar unicamente as condições físicas da personagem, predomina a descrição objetiva no texto, com linguagem denotativa.
III. Por ser um texto predominantemente narrativo, as demais formas - descrição e dissertação - inexistem.
Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
a) Todas
b) Apenas a I
c) Apenas a II
d) Apenas a III
e) Nenhuma das afirmações.

Item b: A II está incorreta, pois são ressaltadas também as características psicológicas do personagem. A III está incorreta porque obviamente, como afirma a alternativa I, ocorre sim descrição.

07. (ITA)
I. Fato principal: a morte do leão. Causas principais: o circo, que o abandonou, e a criança, que o acertou com uma pedra.
II. A decadência física do leão, assunto predominante do texto, denota animalização do ser humano.
III. A velhice do leão, assunto predominante do texto, conota marginalização, maus tratos e decadência física dos animais.
Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
a) Todas
b) Apenas a I
c) Apenas a II
d) Apenas a III
e) Nenhuma das afirmações.

Item e: I - O leão não morre pela força da pedra lançada pelo menino. As causas de sua morte não são definidas claramente, mas tudo nos leva a crer que ele morre naturalmente, em função de sua velhice.
II - "Denotar" é revelar, indicar algo de forma objetiva. A decadência física do leão é tratada de maneira bastante metafórica.
III - "Conotar" é, por sua vez, revelar de maneira subjetiva. Não há a metaforização dos maus tratos dos animais no texto.


08. (ITA)
I. Conotativamente, o leão chora; denotativamente, o menino agride.
II. A decadência do leão é tanta, que nada faz lembrar a sua antiga reputação. Nem mesmo os adultos o reconhecem mais.
III. Metaforicamente, o leão, que não mais produz e não mais trabalha, pode representar a marginalização, abandono e agressão a que são submetidos os idosos.
Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
a) Todas
b) Apenas a I
c) Apenas a II
d) Apenas a III
e) Nenhuma das afirmações.

Item d: No item I, há um mau uso dos verbos "denotar" e "conotar", que torna imprecisos os fatos mencionados. No item II, há a menção incorreta ao fato dos adultos não mais reconhecerem o leão.

09. (ITA)
I. Evidencia-se explicitamente no texto uma comparação: a decadência do leão é similar a do ser humano em geral.
II. Incapaz de reagir fisicamente às provocações, o leão, sentindo-se inconformado, morre.
III. O fato de o leão "não estar preso em gradil de ferro" constitui, por parte de seus antigos donos, uma prova de gratidão.
Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):

a) Todas
b) Apenas a I
c) Apenas a II
d) Apenas a III
e) Nenhuma das afirmações.

Item e:

I - A comparação não é explícita.
II - A causa da morte do leão não é explicitada no texto, mas tudo nos leva a inferir que seja derivada de sua velhice.
III - Não há gratidão alguma por parte dos donos.


10. (PUC - SP) Leia o período: "Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu."
Considerando a possibilidade de várias organizações sintáticas para os períodos compostos, assinale a alternativa em que não há alteração de sentido em relação ao período acima indicado:
a) Meu pai disse-me, à porta do Ateneu, que lá eu encontraria o mundo.
b) À porta do Ateneu, meu pai disse-me que lá eu teria de encontrar o mundo.
c) Disse-me meu pai, à porta do Ateneu, que somente lá eu encontraria o mundo.
d) Quando chegamos à porta do Ateneu, meu pai disse-me que lá eu precisaria encontrar o mundo.
e) Ao chegarmos à porta do Ateneu, meu pai orientou-me para que lá eu encontrasse o mundo.

Item a: Os demais itens acrescentam informações que a frase não dá ("somente", "teria de", "precisaria encontrar", "que para lá encontrasse").

11. (FUVEST) Ora, aí está justamente e epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é somente um meio de completar as pessoas da narração com as idéias que deixarem, mas ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro. Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trebelhos(*).
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas
e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo. (Machado de Assis, Esaú e Jacó)
(*) Trebelhos: peças do jogo de xadrez.
A intervenção direta do narrador no texto cumpre a função de
a) distanciar o leitor da articulação da história, evitando identificação emocional com as personagens.
b) despertar a atenção do leitor para a estrutura da obra, convidando-o a participar da organização da narrativa.
c) levar o leitor a refletir sobre as narrativas tradicionais, cuja seqüência lógico-temporal é complexa.
d) sintetizar a seqüência dos episódios, para explicar a trama da narração.
e) confundir o leitor, provocando incompreensão da seqüência narrativa.

Item b: A presença de um narratário é uma das características mais comuns da obra machadiana. As referências que o narrador faz a um possível leitor não têm outra intenção que não seja de “despertar a atenção do leitor para a estrutura da obra, convidando-o a participar da organização da narrativa”. Eis uma das técnicas narrativas mais adotadas por Machado de Assis.

Leia o texto abaixo para responder às questões 12 e 13.

Filosofia dos epitáfios
Saí, afastando-me dos grupos, e fingindo ler os epitáfios. E, aliás, gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra
que passou. Daí vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seus mortos na vala comum; parece-lhes que a podridão anônima os alcança a eles mesmos.
[Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas]

12. (FUVEST) Do ponto de vista da composição, é correto afirmar que o capítulo "Filosofia dos Epitáfios"
a) é predominantemente dissertativo, servindo os dados do enredo e do ambiente como fundo para a digressão.
b) é predominantemente descritivo, com a suspensão do curso da história dando lugar à construção do cenário.
c) equilibra em harmonia narração e descrição, à medida que faz avançar a história e cria o cenário de sua ambientação.
d) é predominantemente narrativo, visto que o narrador evoca os acontecimentos que marcaram sua saída.
e) equilibra narração e dissertação, com o uso do discurso indireto para registrar as impressões que o ambiente provoca no narrador.

Item e: Dentro do fato narrado, há espaço para uma breve dissertação sobre o significado da morte. A presença do discurso indireto vem indicada pelo verbo "parece-lhes".

13. (FUVEST)"Saí, afastando-me... epitáfios." Dando nova redação a essa frase, SEM alterar as relações sintáticas e semânticas nela presentes, obtém-se:
a) Quando me afastei dos grupos, fingi ler os epitáfios e então saí.
b) Enquanto me afastava dos grupos e fingia ler os epitáfios, fui saindo.
c) Fingi ler os epitáfios, afastei-me dos grupos e saí.
d) Ao afastar-me dos grupos, fingi ler os epitáfios, antes de sair.
e) Ao sair, fingia ler os epitáfios e afastei-me dos grupos.

Item b: Apenas essa alternativa mantém a ideia de simultaneidade entre os três atos.

Leia o texto abaixo para responder à questão 14:
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinhá Vitória mandou os meninos para o banheiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à-toa pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra.
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo. Na porta, virando-se, enganchou as rosetas das esporas, afastou-se tropeçando, os sapatões de couro cru batendo no chão como cascos.
Foi até a esquina, parou, tomou fôlego. Não deviam tratá-lo assim. Dirigiu-se ao quadro lentamente. Diante da bodega de seu Inácio virou o rosto e fez uma curva larga. Depois que acontecera aquela miséria, temia passar ali. Sentou-se numa calçada, tirou do bolso o dinheiro, examinou-o, procurando adivinhar quanto lhe tinham furtado. Não podia dizer em voz alta que aquilo era um furto, mas era. Tomavam-lhe o gado quase de graça e ainda inventavam juro. Que juro! O que havia era safadeza.
(Graciliano Ramos, "Vidas Secas")
O texto, assim como todo o livro de que foi extraído, está escrito em terceira pessoa. No entanto, o recurso freqüente ao discurso indireto livre, com a ambigüidade que lhe é característica, permite ao autor explorar o filete da escavação interior, na expressão de Antônio Cândido.

14. (FUVEST)
Assinalar a alternativa em que a passagem é nitidamente discurso indireto livre:
a) "Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia".
b) "Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano".
c) "Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos".
d) "Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada!"
e) "O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo".

Item d: A exclamação evidencia a emoção do discurso, carregado pela voz do personagem.

Texto para questão 16.
Uma hora o Dito chamou Miguilim, queria ficar com Miguilim sozinho. Quase que ele não podia mais falar. -"Miguilim, e você não contou a estória da Cuca Pingo-de-Ouro... "-"Mas eu não posso, Dito, mesmo não posso! Eu gosto demais dela, estes dias todos..." COMO É QUE PODIA INVENTAR A ESTÓRIA? Miguilim soluçava. (Guimarães Rosa)

15. (MACKENZIE)
A frase em destaque representa:
a) uma mistura da voz do narrador com o pensamento do personagem, num momento de extrema emoção.
b) a fala do personagem Miguilim, explicando por que não entendia os próprios limites.
c) a fala do personagem Dito, que gostava demais de uma certa narrativa fabulosa e, neste momento terminal, queria ouvi-Ia.
d) a voz exclusiva do narrador, que se distancia da cena narrada, compungido pela dor dos personagens e solidário com ela.
e) a confissão da própria impotência, feita por Dito, num tom de rebeldia.

Item a: o uso do discurso indireto livre se dá pela emoção do momento narrativo, em que a voz do narrador se mescla à da personagem.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Aula 9 - Tempo e Espaço


Tema 1

(UFSC 2009) Observe o quadro Cena de família, do pintor paulista Almeida Júnior (1850-1899).

Redija um texto narrativo começando por:
Era uma vez . . .

Muito açúcar e pouco afeto

"Era uma vez uma linda princesa, clara como um amanhecer de outono" - lia, com voz pausada e desritmada, um senhor de fartos bigodes e compleição frágil. Ao seu redor, cinco crianças e uma babá, em disposição diversa, completavam a típica cena de família burguesa em fins de XIX.
"Era uma vez um lindo príncipe, escuro como uma noite de inverno" - parodiava o filho mais velho, segurando o bebê da escrava Ana em seu colo. Meio-irmão e meio-serviçal, o filho da traição foi sendo incorporado aos poucos ao seio da família dos Albuquerques. Talvez por sorte, Alberto nascera em 90, quando a abolição havia passado a realidade. Para o pai, o pequeno quase-escravo era um símbolo de seu avanço ideológico, uma bandeira de seu partido - Liberal - estampada na sala de sua própria casa. Para a esposa traída, a criança era mais um brinquedo sujo com que seus filhos se divertiam - um bastardo indesejável, porém necessário.
Ana, calada, cozinhava. Sem direito a participar do núcleo familiar e desvalida de sua liberdade, era escrava encoberta, que recebia por seus muitos trabalhos um valor que se pretendia simbólico e que nada era. Na panela, ferviam seus ódios, preparados, contudo, em banho-maria. Com a abolição, multiplicaram-se seus serviços na casa: passou a ser a encarregada de toda e qualquer tarefa dos recém-libertos.
Sua fuga, uma corrida rumo à liberdade, teria um preço caro demais, inacessível para ela, tão desprovida de recursos. Sem saber como ou o porquê, seu filho assumira o posto de enfeite a ser mostrado às visitas. Inicialmente orgulhosa, fora percebendo aos poucos indefinidas intenções na exibição de seu bebê, fora a ironia e a crueldade da sinhá e seus rebentos. Se rogasse por sua liberdade, seu filho ficaria - castigo demasiado amargo para quem passa o dia nos tachos de doces.
Contudo, dali a pouco, a vida mudaria. Enquanto terminava a compota de ameixa e nozes - a preferida de toda a família - retirou, uma vez mais, o pote de arsênico do avental. Caprichou um pouco mais que o de costume na dose, uma vez que os dentinhos de Alberto estavam a nascer e logo a crocãncia das nozes não lhe seria mais um proibitivo. A vingança era doce e Ana o sabia. A família se deliciava com a sobremesa a cada almoço e janta, compulsivamente - o veneno viciava. Na sala, algum enredo sobre uma princesa e uma maçã, que a escrava mal e mal escutava. Ana não estava interessada em conto algum de "era uma vez": o que tinha em mente era, exclusivamente, poder ser a dona de sua história.

Aula 5 - Intertextualidades


Exercício de escrita:

Crie uma pequena narrativa que estabeleça uma relação intertextual com quaisquer dos três textos abaixo:

1) Chapeuzinho Vermelho
2) Filme: Cantando na chuva
3) Cantiga de Roda:
Santa Clara clareou
São Domingo alumiou
Vai chuva, vem sol
Sol e chuva casamento da viúva
Chuva e sol casamento do espanhol

O casamento era já inadiável. Aluguel de salão, convites a padrinhos, vestido sob medida, aperitivos, juízes, padres e alianças: tudo devidamente comprado, pago sem prestações, pois vida nova não pode se iniciar no vermelho. Era necessário o branco radiante, irreverente nesses tempos de virgindades largadas - a cerimônia resplandeceria pureza e sacralidade.
Contudo, a mancha de vinho e de alguma infidelidade teve más intenções antes mesmo da despedida de solteiro - se casaria com um homem rico e suficientemente infiel. Infiel, porém suficientemente rico. Uma vez inserida no jogo social, já não podia perder a rodada - as apostas estavam feitas, a sorte lançada.
Lembrou-se de sua feminilidade intacta, flor que desabrocharia ao toque de dedos criminosos. Sujos. Recordou também sua infância, todos os sonhos que juntara, ilusões colecionadas a respeito de temas vários, sobretudo amor. Desde criança, nunca se acostumara à realidade: preferia acreditar no impossível e varrer as decepções para algum canto esquecido da sala de convenções.
Chegado o grande dia, a chuva. Talvez uma metáfora divina para a lavagem da alma, os erros perdoados, infidelidades que escorreriam pelo ralo, enquanto lágrimas jamais derramadas denunciariam o risco de botar a perder a maquiagem e o marido. Esperava no carro, atraso de noiva e a tempestade impeditiva. Seria possível que ninguém houvesse trazido guarda-chuva, em função de um dia que se anunciara radiante?
Raíssa não pode resistir ao apelo da torrencialidade das águas. Desafiando a pompa da cerimônia e os interesses dos convidados, saiu. Correu. Cantou. Entregou-se à chuva, vestido de noiva convertido em papel-machê, rosas despetaladas, cílios postiços atirados contra o vento. Sem secar-se, entrou na igreja, encharcada. Dera-se completamente e com a espontaneidade a que seu marido jamais teria acesso. Corrompera-se, perdera-se na chuva e exibia as provas de sua traição aos convidados indignados. Enquanto a marcha nupcial abrupta e confusa se anunciava, Raíssa caminhava pela igreja, assoviando, profanamente, o tema de Cantando na Chuva.

Aula 5 - Intertextualidades


Exercício de escrita:

Crie uma pequena narrativa que estabeleça uma relação intertextual com quaisquer dos três textos abaixo:

1) Chapeuzinho Vermelho
2) Filme: Cantando na chuva
3) Cantiga de Roda:
Santa Clara clareou
São Domingo alumiou
Vai chuva, vem sol
Sol e chuva casamento da viúva
Chuva e sol casamento do espanhol

Fita Verde no Cabelo
(Guimarães Rosa)


Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita inventada no cabelo.
Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita - Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar fambroesas.
Daí, que, indo no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido, nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então ela, mesma, era quem dizia: "Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou". A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.
E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto passa por elas passa. Vinha sobejadamente.
Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu:
- "Quem é?"
- "Sou eu..." - e Fita Verde descansou a voz. - "Sou sua linda netinha, com cesto e com pote, com a Fita Verde no cabelo, que a mamãe me mandou."
Vai, a avó difícil, disse: - "Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus a abençoe."
Fita Verde assim fez, e entrou e olhou.
A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar apagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: - "Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo."
Mas agora Fita Vede se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
- "Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!"
- "É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta...." - a avó murmurou.
- "Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados".
- "É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta..." - a avó suspirou.
- "Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido?"
- "É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha...." - a avó ainda gemeu.
Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.
Gritou: - "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!..."
Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.

Aula 11 - Descrição: a construção de personagens e cenários


(Unicamp 1995)

Na coletânea abaixo, há elementos para a construção d eum texto narrativo em que se tematiza o relacionamento entre duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será desenvolver essa narrativa, segundo as intruções gerais.

A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente.
(Ana Lightman, Sonhos de Einstein, 1993)

Cena A: Um homem, uma mulher

- Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a mão de um homem que nunca voltará a ver.
- Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim da tarde. (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no ar, casca e ramos ainda verdes.
- O cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor.
- Um homem sentadoi na quietude de seu estúdio, segurando a fotografia de uma mulher; há dor no olhar dele.
- Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas.
- As sombras azuis numa noite de lua cheia. O topo de uma montanha com um vento forte e constante.

Cena B: Um pai, um filho

- Uma criança à beira do mar, enfeitiçada pela primeira visão que tem do oceano.
- Um barco na água à noite, suas luzes tênues na distância, como uma pequena luz vermelha no céu negro.
- Um livro surrado sobre uma mesa ao lado de um abajur de luz branda.
- Uma chuva leve em um dia de primavera, um passeio que será o último passeio que o jovem fará no lugar que ele ama.
- Um pai e um filho sozinhos em um restaurante, o pai, triste, olhos fixos na toalha da mesa.
- Um trem com vagões vermelhos, sobre uma grande ponte de pedra, de arcos delicados, o rio que sob ela corre, minúsculos pontos que são casas à distância.

Instruções gerais:

- Escolha elementos de apenas uma das cenas apresentadas (A ou B), para construir: as duas personagens, o cenário, o enredo e o tempo de sua narrativa.
- O foco narrativo deverá ser em terceira pessoa.
- O desenvolvimento do enredo, a partir da cena escolhida por você, deverá levar em consideração o trecho de Ana Lightman, que introduz a coletânea.

(* os fragmentos das cenas A e B também foram extraídos do livro de Ana Lightman)

Camila Rosa Silveira

Já havia uns dez minutos que eles tinham chegado. O restaurante estava parcialmente vazio. Havia murmúrios (vindos) de todos os lados, menos da mesa em que se encontrava Matheus. Matheus era um jovem senhor, com seus cinquenta anos nas costas. Cabelos brancos, olhar sereno que evitava o do filho. Estava acompanhado de Matheus Filho, o seu único, tinha 25 anos e de longe notavam-se tantas semelhanças que faziam com que se percebesse o parentesco. O filho, por sua vez, mostrava um olhar distante, como se aquele jantar não lhe importasse muito. O pai até que tentava dizer algo, mas smepre que abria a boca era para beber água. Ele mostrava-se triste, olhou fixamente para o filho, mas acabou por desviar vagarosamente o olhar para a mesa. Em sua mente vieram lembranças do passado, do tempo em que sue filho ainda era criança. Olhava através do copo com água e podia ver o filho (...) menino.
Vagamente ia se lembrando do dia em que levara o filho pela primeira vez para ver o mar. O moleque, de apenas cinco anos, se sentia enfeitiçado pela beleza daquele oceano, tão imenso, tão azul e tão intenso.
Resolveram os dois passar o final de semana juntos, seria um momento de pai e filho. Foram de trem para melhor aproveitar a viagem. O menino já tinha os olhos encantados observando um rio grandioso que avistava ao longe. Ao chegarem ao hotel, o filho havia adormecido. O pai, um pouco cansado, resolvera ler. Era um quarto com paredes brancas e com lençóis azuis. A luz, por sua vez, era branda. Desistiu de ler. Colocou aquele velho livro, que por tantos anos o acompanhara em (...) momentos de sua vida, (...) na mesinha ao lado da cama. Um livro com páginas amareladas se misturava com o pó da mesinha. Um vento frio bateu na janela. O pai ficava a olhar para o filho, que dormia em um sono profundo, a imaginar como ele seria daqui a vinte anos. Abraçou-o, queria estar sempre perto dele.
No domingo à tarde foram passear. Acabaram se molhando com uma chuva fraca de primavera. Se entreolharam. Riram. O filho gostava de sentir a água em seu corpo. O pai o acompanhou. Vendo o menino brincando, seus olhos se encheram de lágrimas.
Foram embora. Nunca mais voltaram. O menino virou homem, Matheus Filho. Apesar do mesmo nome e da semelhança física, hoje eram dois homens estranhos, que não mais se encontravam nos olhares.
Matheus recompôs-se, aquela viagem ao passado tão distante demorou apenas um minuto. Olhou para o filho. O filho olhava para o nada. O pai então perguntou:
- O que vai ser, filho?
- Peixe - respondeu o menino que já era homem.

Aula 10 - Análise de problemas estruturais na narrativa: a presença de inverossimilhanças e clichês


Tema: "A bela nas ruas" (conferir nas postagens abaixo)

Jéssica Aparecida de Almeida

A bela na rua


A família de Fernanda estava bem. No entanto, ela recebeu uma proposta de viajar para a Europa.
Ganância, hipocresia. Fernanda já não era a mesma. Iniciou o processo de separação, afirmando que seu marido já não era um homem bom para ela. Pobre e ingênuo, que futuro ele lhe daria?
Seu título de "bela das ruas" era vergonhoso para a nova Fernanda. O filho era agora um peso em sua vida: colégio interno era a solução. Teria uma boa educação, para não ser um fracassado como o pai.
Contrato fechado e Fernanda no continente europeu. As coisas andavam bem, até que Fernanda se envolveu com um criminoso, sendo assim demitida da agência.
Grávida, agora Fernanda mendiga nas ruas europeias, sentindo falta de um homem pobre e ingênuo para cuidar dela.(...)

Aula 10 - Análise de problemas estruturais na narrativa: a presença de inverossimilhanças e clichês


Unicamp 2005

Trabalhe sua narrativa a partir do seguinte recorte temático:
Ouvir rádio é uma prática comum na sociedade moderna. O rádio é um veículo que atinge o ouvinte em muitas situações: o radinho na cozinha que acompanha as refeições, o rádio no ônibus, no campo de futebol, no carro, na lanchonete, o rádio-relógio no quarto de dormir, o walkman na caminhada, o rádio na Internet. O rádio é o companheiro de toda hora.

Instruções:
• Imagine a história de um(a) ouvinte para quem o rádio é essencial;
• Narre as circunstâncias em que o rádio se tornou importante na vida desse(a) personagem;
• Construa sua narrativa em primeira ou em terceira pessoa.

Bianca Pereira

Voz do Coração

Sônia, uma mulher de 49 anos, moradora de um bairro humilde de Itabuna, Bahia: desempregada, vivia com o que conseguia ganhar vendendo materiais recicláveis. Tinha uma filha que fora para São Paulo fazia um ano, para tentar uma vida melhor. Seu marido morrera na enchente que havia ocorrido há quase seis meses e que destruíra toda a sua casa. (...) Aos poucos, estava tentando retomar a sua vida.
Como fazia pouco tempo desde a tragédia, Dona Sônia havia conquistado poucas coisas. Além de uma casinha bem simples e alguns móveis, tinha uma coisa (...) essencial: era seu radinho de pilha. Como não possuía tv, ele era sua companhia. Com ele, (...) não se sentia tão só, mesmo estando sem marido e filha. Levava-o para onde ia. Com seu radinho, ela ficava a par das notícias e sabia do clima: se ia chover, se ia ficar muito quente ou frio. E assim, se preparava melhor para todas as situações. Quando ficava sabendo que em São Paulo haveria muito frio ou chuva, logo se preocupava com a filha. Havia tentado contato várias vezes, tinha conseguido antes da enchente, mas depois (...) não mais, o que deixava Dona Sônia (...) angustiada.
Um certo dia, ouvindo seu radinho, como de costume, no horário de notícias ela se deparou com a seguinte: "A jovem Priscila Silva, de 19 anos, natural de Itabuna, Bahia, moradora de rua de São Paulo, procura a mãe, Sônia Aparecida Silva, que mora em Itabuna, com a qual há alguns meses perdeu contato e pede ajuda urgentemente. Priscila saiu de Itabuna em busca de uma vida melhor há quase um ano, mas faz cinco meses que está morando na rua por falta de condições. Ela pede que, se sua mãe estiver ouvindo ou para alguém que a conheça avisá-la de sua situação e que entre em contato com a rádio local (...).
Assim que ouviu a notícia, Dona Sônia foi correndo à rádio da cidade e lá entrou em contato com a filha. E, com a ajuda do pessoal da rádio, que se sensibilizou com a história, Priscila pode voltar para casa. E, juntas, mãe e filha foram retomando suas vidas.

Aula 10 - Análise de problemas estruturais na narrativa: a presença de inverossimilhanças e clichês


Unicamp 2005

Trabalhe sua narrativa a partir do seguinte recorte temático:
Ouvir rádio é uma prática comum na sociedade moderna. O rádio é um veículo que atinge o ouvinte em muitas situações: o radinho na cozinha que acompanha as refeições, o rádio no ônibus, no campo de futebol, no carro, na lanchonete, o rádio-relógio no quarto de dormir, o walkman na caminhada, o rádio na Internet. O rádio é o companheiro de toda hora.

Instruções:
• Imagine a história de um(a) ouvinte para quem o rádio é essencial;
• Narre as circunstâncias em que o rádio se tornou importante na vida desse(a) personagem;
• Construa sua narrativa em primeira ou em terceira pessoa.

Luana Christal Poscai Pires

Era uma felicidade tão grande para uma criança de apenas sete anos, (que) em seus olhos podia se ver (...) a sua vontade para saber o que o pai havia lhe comprado. (...) Os olhos de João brilhavam feito dois faróis de carro.
Seu pai, (...) meio aflito por ver seu filho naquele estado, todo inquieto e ansioso, resolveu deixar que João abrisse seu presente.
(...) Com uma vontade formidável rasgou todo o embrulho e se deparou com aquilo que tanto sonhara ter, um enorme rádio. Sua única reação foi (...) abraçar seu presente. Ao ver essa cena, os pais do pequeno João (...) deixaram rolar uma pequena lágrima de seus olhos. Emocionados, foram até seu filho e lhe disseram que seu presente fora comprado com todo amor e carinho, os mesmos sentimentos que tinham pelo pequeno menininho.
João agradeceu muito (...) e imediatamente o ligou e ficou ali, sentado em frente ao grande aparelho, ouvindo o que as pessoas estavam dizendo. (...) Começou a indagar como aquelas pessoas conseguiam ficar dentro do rádio. Seus pais explicaram que as pessoas (...) ficavam (...) em um estúdio (...) onde narravam as histórias do dia-a-dia, pois se tratava de um jornal local.
A mãe de João ficou por alguns minutos olhando para seu filho ali sentado e começou a pensar no porquê de seu filho escolher um rádio como presente e se, de fato, ele entendia o que as pessoas falavam nesse programa. Esse ponto de interrogação permaneceu por muito tempo em seu pensamento.
Os dias passaram, os meses correram e os anos voaram. João estava agora com dezessete anos e sua rotina continuava a mesma de quando tinha sete: acordava cedo, ligava o rádio para ouvir as notícias, tomando café, para ir à escola. No caminho (...) sempre ia ouvindo seu walkman para ainda acompanhar o que se passava pelo mundo. Ao chegar em casa, ligava novamente seu velho companheiro e assim permanecia por toda a tarde. O mais incrível de tudo é que João não gostava de ouvir músicas, mas sim os programas de notícias. E sabe aquele brilho que havia em seus olhos? Bem, ele ainda estava ali, do mesmo modo de quando era criança.
A mãe olhava de longe o filho na pequena sala de estar, com pouca iluminação, sentado ao lado do velho rádio para ouvi-lo melhor. Ela tentava tirá-lo de casa, fazer com que saísse com os amigos, mas ele se negava. (...)
E, a cada dia que passava, João deixava mais evidente seu fascínio pelo rádio. Não sabia o porquê de ficar (tanto tempo) ao lado do seu melhor amigo. Achava que era por ficar sempre atualizado (...). Não sabia o porquê desse sentimento - só o sentia.
E assim os anos passaram. João agora tinha uma nova rotina: acordava de manhã, dava um beijo em sua mulher e filhos e saía para o trabalho. Depois de meia hora, chegava ao estúdio onde trabalhava como locutor. Agora o rádio, que sempre fora o grande companheiro daquela pequena criança ansiosa e daquele menino que transbordava fascinação pelos olhos (...) era o meio de sobrevivência daquele homem carinhoso com a família.

Aula 10 - Análise de problemas estruturais na narrativa: a presença de inverossimilhanças e clichês


NARRAÇÃO
Observe a foto e leia os textos, para escrever uma NARRAÇÃO.

1-A bela das ruas
"Uma das coisas que mais gosto na coluna de Mônica Bergamo são as fotos com lindas mulheres, muito bem fotografadas e coloridas. Mas, no dia 11/9, fiquei chocado porque achei que se tratava de uma modelo. Porém a legenda nos trouxe à dura realidade: "Flanando pela Vila Nova Conceição com essa carinha, Fernanda Alves de Oliveira, de 18 anos, bem que poderia tentar carreira de modelo; mas o que ela quer é uma ajuda para voltar com Caio, o filho de 3 anos, para Uberlândia; a família perdeu tudo numa enchente e veio para São Paulo procurar uma tia que se mudou; hoje ela mora perto da ponte do Morumbi, vive de esmola e sente falta do seu antigo emprego numa casa de família.' Parabéns, Mônica. Você nos deu um sutil beliscão ao mostrar que o belo também tem sua face trágica."
(Folha de S.Paulo,14/09/2000, Painel do Leitor, Ademir Villatoro).

2-A bela e as feras
“Da coluna social, mãe e filho saltaram para a televisão. Apareceram no "Fantástico", no "SuperPop", de Adriane Galisteu, e no "Mulheres", de Márcia Goldschmidt.
Hoje, embora mal compreenda matemática, Fernanda faz contas. Já ganhou: uma casa mobiliada na periferia paulistana, com aluguel e despesas pagas por um ano; cestas básicas; tratamento dentário e roupas de três confecções esportivas. Uma agência de modelos a fotografou. Ofereceu-lhe um "book" e a promessa de que, um dia, ocupará as capas de revista. Um deputado federal vai tirar a documentação da família. A moça ainda arranjou emprego para o marido e vaga num curso de alfabetização. Não quer mais voltar.
(...)
No meio dos holofotes, Fernanda se revela principalmente confusa. "Quando a gente não estuda, não vê o mundo direito. As pessoas que frequentaram a escola falam difícil, e a gente não pega as expressões. Eles proseiam, a gente ri e finge que entende para não passar vergonha. Outro dia, na televisão, a repórter me perguntou: "Você é vaidosa?". Fiquei muda, só sorrisinho. Sabe por quê? Porque nem imagino o que significa essa palavra, vai-do-sa."

(Jornal Folha de S. Paulo,24/09/2000,Caderno TvFolha, Armando Antenore).

PROPOSTA PARA A NARRAÇÃO.

Com base na foto, legenda e textos, imagine o que possa acontecer com Fernanda e Caio(mantenha esses nomes para os personagens) e escreva uma Narração dando seqüência à história deles. Crie um narrador de 3ª pessoa e dê um título que seja coerente com o texto que você escrever.

Camila da Fonseca Moreira

Imagem de uma realidade

O tempo estava passando e Fernanda já não tinha mais aluguel, despesas e cestas básicas pagas (...). Seus dentes continuavam lindos, mas ela estava sem vontade de sorrir.
Observava Caio brincando tão inocentemente (enquanto) ela (precisava) trabalhar. Onde? Com quem deixaria Caio? O salário do (...) marido não daria para nada!
Lendo os classificados do jornal, se interessou por três vagas de emprego e foi se apresentar. No primeiro, de auxiliar de produção em uma fábrica, não passou na entrevista, pois havia concluído agora a primeira série do fundamental. O segundo, de balconista de uma padaria, quase conseguiu porque possuía uma boa aparência, mas também (era necessário) o ensino médio completo. (...) O terceiro, em uma casa de família, ela já tinha até experiência, porém a dona da casa sentiu ciúmes do marido por inveja à sua beleza.
Exausta, triste e sem esperança, Fernanda pensou em virar garota de programa. Vieram-lhe à mente a imagem de seu filho Caio e de seu marido. E as lembranças daquele deputado "tarado" que lhe assediara (...). Fernanda suspirou desapontada: "Não tenho vocação para prostituta!".
As oportunidades que lhe prometeram, de um dia virar modelo, não passaram de um sonho, imagens passadas na tv, recortes de jornais e um book.
Na realidade, hoje, assim como há um ano atrás, Fernanda é mais uma garotinha assustada. (Ser) bela ou não, não faz diferença para quem sofre, com um filho pequeno, sem oportunidade, educação e perspectiva.






Aula 9 - Tempo e Espaço


Unicamp 2009

Os movimentos organizados em defesa dos animais têm sensibilizado uma parcela da sociedade, que busca adotar novas condutas, coerentes com princípios de responsabilidade em relação às diversas espécies.

Instruções:
1- Imagine uma personagem que decide mudar de hábitos para ser coerente com sua militância em defesa dos animais.
2- Narre os conflitos gerados por essa decisão.
3- Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.

Jéssica Aparecida de Almeida

A cobaia

Fiquei indignada ao saber que teria uma aula de fisiologia. Não conseguia dormir. Mas, ao pegar no sono, tive um pesadelo e acordei assustada.
Sonhei que estava em um laboratório, sala branca e pessoas me observando. De repente, estavam me cortando. Eu fazia ruídos, mas aqueles estudantes só prestavam atenção nos meus órgãos que paravam de funcionar.
Angustiada por fazer parte daquele experimento, mesmo sendo a vítima, me sentia culpada por aquela crueldade, (a mesma que ocorre) com tantos animais.
(...) Aqueles humanos pensavam que estavam progredindo. Entretanto, eles eram (nada mais que) cobaias do governo; a utilização de animais para testes de novos medicamentos não é uma evolução, e sim uma forma do governo economizar com a saúde pública.
(...) Meu destino já estava escrito, seria apenas uma cobaia para mais um experimento: (...) "viver não é preciso, navegar é preciso" - estava cumprindo meu destino.
No dia seguinte, me recusei a participar (da aula de Fisiologia). Sabia que, com a minha iniciativa, outros alunos tomariam coragem (...) e, talvez, mais uma vida inocente passaria a ter chance de ser salva.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Aula 8 - Foco narrativo e personagens



Unicamp 2006

Com o auxílio de elementos presentes na coletânea, trabalhe sua narrativa a partir do seguinte recorte temático:
Os meios de transporte sempre alimentaram o imaginário das pessoas em todas as fases da vida.
Desde a infância, os brinquedos e jogos exprimem e estimulam esse imaginário.
Instruções
1) Imagine a história de um(a) personagem que, na infância, era fascinado(a) por um brinquedo ou jogo representativo de um meio de transporte.
2) Narre a origem do encanto pelo brinquedo e o significado (positivo ou negativo) que esse encanto teve na vida adulta do(a) personagem.
3) Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.

Herbert Reis de Souza

A história de um sonho

Uma verdade na qual quase ninguém acredita é que um sonho pode tornar-se realidade, (...) mas (...) grandes ideias (...) só grandes homens conseguem realizar. Assim é a história de Vitor, um menino(...) que morava em uma das vielas de uma periferia (...).
De manhã Vitor ia para a escola, à tarde brincava com seus amigos na viela e todas as noites ajudava a limpar o interior do caminhão de seu vizinho (...). Em uma das noites, Vitor ganhou do sr. Luciano, (...) proprietário do caminhão, um caminhãzinho de brinquedo (...).
Assim o pequeno menino cresceu e em sua adolescência foi ajudar o sr. Luciano em (...) viagens, o pouco dinheiro que ganhava juntava até que, com bastante dedicação, conseguiu (...) tirar sua carteira de habilitação. Mais uma vez o sr. Luciano ajudou-lhe, arrumou na empresa em que trabalhava viagens para Vitor fazer (...).
Hoje Vitor (...) vive fazendo o que mais gosta. Essa é a história de um homem que mudou sua vida através de um sonho. Se você utiliza as estradas, com certeza já deve ter cruzado com Vitor, pois ele está sempre viajando, ajudando a todos com o transporte de mercadorias.

Aula 9 - Tempo & Espaço


Unicamp 2009

Os movimentos organizados em defesa dos animais têm sensibilizado uma parcela da sociedade, que busca adotar novas condutas, coerentes com princípios de responsabilidade em relação às diversas espécies.

Instruções:
1- Imagine uma personagem que decide mudar de hábitos para ser coerente com sua militância em defesa dos animais.
2- Narre os conflitos gerados por essa decisão.
3- Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.

Luana Christal Poscai Pires:

No mundo de Alice, os dias eram sempre escuros, sem vida, sem alegria. Se sentia deprimida e aflita ao ver seu pai adestrar os animais de seu circo. (...) não havia sentimentos dentro daquele ser. Tratava os animais com tal brutalidade e crueldade, que nem parecia aquele pai amoroso de todas as noites, à hora do jantar.
No seu pequeno quarto, com pouca luz, algumas roupas espalhadas pelo chão, encontraram um dia um pequeno bilhete em cima de sua minúscula cama. Estava escrito: "Desculpem-me por este ato desesperado, mas não aguentava mais ver o papai maltratar os animais". (...)
Quem encontrou o bilhete foi sua mãe. Com uma expressão de espanto, os olhos arregalados, começou a suar frio. O que ela não sabia era que sua filha havia levado os macacos, os gatos e até mesmo um papagaio para um órgão de defesa aos animais, pois os bichos estavam muito debilitados. (...)
Alice estava certa que nunca mais iria ver animais sendo maltratados. Com essa certeza à flor da pele, decidiu denunciar o circo de seu pai. A atitude gerou muita raiva por parte dele, mas, como era muito teimosa, Alice conseguiu convencê-lo de que aquela não era a única maneira de um circo ser bom. O velho mágico passou meses pensando no que sua filha havia lhe dito e acabou por se render às ideias de Alice. (...)
E quanto à Alice, depois de seu ato heróico, resolveu dar uma guinada em sua vida, abolindo qualquer alimento que derivasse de animais (...) e, como se não fosse o bastante, fundou uma organização para recolher animais que sofreram (...) maus tratos.
Agora, ela pode sentir a brisa do vento em seu rosto, pois hoje há (...) alegrias na sua vida de menina.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Aula 6 - Os exercícios da apostila


Exercícios de escrita:

Na apostila de questões:

* A questão do Chico Bento está resolvida e comentada na apostila de questões (questão 3 da prova).
* A questão 4 da prova de 2009 já foi comentada em sala na aula passada.
* Questão 9, item a).
* Questão 10, item a).
* Questão 11 (trabalha com a temática da intertextualidade).




Atividade:

Para cada uma das questões citadas acima:


* Comparar a resposta abaixo a média com a resposta acima da média e procurar justificar a nota atribuída a cada uma pela banca corretora da Unicamp.


(Unicamp 2009)

Débora Cardoso:

3.a) Na resposta abaixo da média o candidato cometeu um equívoco (...) esta troca fonética (...) não é empregada por todos os homens do campo (...). Na resposta acima da média, embora o candidato tenha dado uma resposta curta e sem exemplos, foi respondida a questão de uma forma correta, colocando-se o que era pedido.
b) Na resposta abaixo da média o candidato continuou com o mesmo pensamento que foi descrito na questão a, dizendo que este modo de falar é típico do interior brasileiro, além de dizer que esta linguagem é de cultura nacional e que caracteriza o Brasil. Se esta linguagem é de cultura nacional, ela não pode ser típica do interior brasileiro.
Na resposta acima da média o candidato menciona o fato de a utilização desta linguagem ser comem no momento da fala, além de dizer que ela não é exclusiva do universo rural, conseguindo assim responder corretamente a questão.

4. a) Na resposta abaixo da média, embora o candidato tenha entendido os sentidos contidos na frase, não fez o que era pedido, pois a questão pedia que fossem construídas frases (...) e não que fossem explicados seus sentidos.
Na resposta acima da média, o candidato entendeu corretamente o que se pedia na questão, conseguindo assim dar a resposta esperada.
b) Na resposta abaixo da média, o candidato colocou apenas a quem o “só” se ligava nas frases e deixou de dar exemplos e explicações de seu papel na frase. Na resposta acima da média, o candidato colocou o que se pedia, ou seja, disse a quem o “só” se ligava em cada uma das frases e comentou sobre os sentidos entendidos em cada um dos casos.

9. a) Na resposta abaixo da média o candidato cometeu uma falha de interpretação do capítulo, ele direciona a interpretação da metáfora a uma mulher e não à imaginação do narrador. Outra falha que o candidato comete é citar partes do capítulo em sua resposta e não colocá-los entre aspas.
Na resposta acima da média o candidato consegue interpretar o capítulo e explicar corretamente a metáfora empregada pelo narrador para caracterizar a sua imaginação.

10. a) Carina: Na resposta abaixo da média, o candidato compara os afazeres do carpinteiro com o do poeta, concluindo que o eu-lírico considera sua profissão mais trabalhosa, o que não é correto. Além disso, usa uma expressão incorretamente, afirmando que o “caso artístico” do eu-poemático é a “terra”. Na resposta acima da média, o candidato mostra que o Alberto Caeiro rejeita um trabalho de poeta que se assemelhe ao ofício do carpinteiro, uma vez que a poesia deve ocorrer naturalmente.

11. a) Na resposta abaixo da média o candidato não respondeu o que era pedido, pois, ao invés de utilizar palavras que explicassem os dois últimos significados da palavra exílio no poema, utilizou frases que além de tudo não eram corretas. Na resposta acima da média, o candidato colocou exatamente o que foi pedido na questão.
b) Na resposta abaixo da média o candidato colocou o que foi pedido de uma forma muito “pobre”, pois colocou poucos argumentos, deixando-a muito vaga. Na resposta acima da média, o candidato, além de citar como o eu-lírico imagina o lugar para onde quer voltar, cita também onde o eu-lírico está, ou seja, o período de guerras que ele está vivenciando, respondendo assim corretamente o que estava se
ndo pedido.

Aula 7 - Leitura e entendimento de narrativas


Escolha um dos enredos apresentados abaixo e a partir dele redija uma narrativa de 30 linhas, procurando evitar os clichês.

Desejo de Uma Noite de Verão: Em meio ao mundo do teatro, no calor do desejo de uma noite de verão, todos os escrúpulos foram deixados de lado, quando Nicholas e Alandra experimentaram o doce êxtase de um amor mais empolgante do que qualquer romance encenado nos palcos…

Jéssica Aparecida de Almeida

Carina: O enredo da Jéssica é bastante interessante também. Na sua história, Nicolas é um rapaz que, aos 40 anos, ainda é virgem. Por fim, sua avó decide contratar uma garota de programa (notem a originalidade e negação de clichês), Alandra. Pelo desempenho fantástico de Nicholas, ele é convidado a se prostituir também, e assimse torna "um garoto de programa, mais cobiçado da cidade".

Thayanny de Morais Siqueira:

Ritmo irritante

Era como se Nicholas pudesse viver uma vida que o levava além de personagens supérfluos e vazios que casualmente interpretava nos palcos. Aqueles que se apaixonavam, lutavam e ao final acabavam com um “Felizes para sempre”. Uma falsa hipótese, assim (...) acreditava.
Antes que pudesse mergulhar naqueles bobos devaneios, uma voz fina e estridente gritou seu nome do fundo do palco.
- Está tentando se lembrar de alguma fala?
Como de costume, ele a olhou encarando o largo sorriso que a morena sustentava em seu rosto. Era sempre assim. Antes mesmo que ele pronunciasse uma falsa desculpa, Alandra se levantou do banco cor de vinho e foi até a aparelhagem de som.
- Vamos lá! Ensaiar com música vai te animar mais!
Ela sorria para ele, levando uma de suas mãos à curvatura do pescoço do rapaz, que também sorria sem propósito. Ele mal sabia se sorria pela maneira desajeitada como ela se movia, ou pela música de ritmo irritante que tocava ao fundo.
- Sabe o que eu acho? – disse ele, passando no meio do palco, tirando a pequena mão que lhe apertava o pescoço – Que você não leva jeito para isso.
Para sua infelicidade, o sorriso nos lábios da moça abriu-se ainda mais, de maneira inocente e infantil. Ele riu de si mesmo, ao notar quão ridícula era aquela situação.
- Você diz isso porque não consegue me acompanhar.
Ela continuou, dançando (...) desajeitada, como ele estava acostumado a ver.
Estava certo. Amores que acabam com “Felizes para sempre”, melosas declarações de amor e toda bobagem que encenara nos palcos eram extremamente fúteis. Se divertia mais vendo a menina de sorriso infantil (...) dançar à sua frente, mesmo que a música de fundo durasse não mais que alguns minutos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Aula 8 - Foco narrativo & Personagens



Temas de Redação

Tema I

(Unicamp 2004)
Trabalhe sua narrativa a partir do seguinte recorte temático:
Hoje, mais do que nunca, podemos afirmar que “a cidade não dorme”. Além de freqüentarem bares, clubes, cinemas e bailes, há um crescente número de pessoas que circulam à noite pela cidade, física ou virtualmente, trabalhando, consumindo, estudando, divertindo-se.
Instruções:
• Imagine a história de um(a) personagem que encontre um grupo que vivencia a noite e, identificando-se com ele, passe a ver a cidade a partir de uma nova perspectiva;
• Narre o encontro, o processo de descoberta e a transformação que o(a) personagem experimentou;
• Sua história pode ser narrada em primeira ou em terceira pessoa.

Camila Rosa Silveira

A magia da noite

Me levanto todos os dias, sentindo como se tivesse tido uma noite mergulhado em um oceano de sonhos e criatividades. Quem me dera ter descoberto a magia das noites de São Paulo antes. Mas foi ela, graças a ela, que hoje sou o que sou. A conheci há apenas quatro meses, porém a intensidade com a qual ela entrou em minha vida faz parecer (...) muito mais tempo (...).
Era um dia como qualquer outro: me levantei, tomei café, entrei no carro, parei no trânsito, cheguei ao escritório. Estava tendo um dia normal. Assim que entrei, a secretária já veio com um monte de papelada. No primeiro tempo livre que tive, fui almoçar. Almocei o que comia todos os dias, a comida já não tinha mais "aquele" gosto. Voltei ao escritório, trabalhei mais um pouco. Deu a hora de ir embora. Saía e antes mesmo de entrar no carro eu a vi. Não sei dizer muito bem o que vi, só sei que era algo, ou melhor, alguém diferente. Na rua, tocando saxofone, um tipo de blues ou sei lá o quê. Queria entrar no carro e ir para casa, toda aquela cidade movimentada me estressava. Contudo, algo me fazia querer atravessar a rua. Minhas pernas, como se tivessem vida própria, foram para o outro lado. Lá fiquei. O som acabou, nem sei quanto tempo demorou, as pessoas se foram, porém eu permaneci.
O nome dela era Katarina, estudava música e passava as noites espalhando sua arte pelas ruas de São Paulo. Ela queria me levar para algum lugar, hesitei, não quis ir. Mas o brilho em seus olhos era convidativo. Fui. Era por volta das dez horas da noite quando chegamos a um bar. Era um local diferentemente interessante. Ela me falou um pouco mais de sua vida. Katarina me parecia uma pessoa tão criativa, tão viva... Tão intensa! Não sei como, mas ela aliviou todo o estresse que eu carregava. Depois de lá, fomos dar uma volta. A cidade à noite tinha uma magia que eu nunca tinha notado. Ao lado dela percebi que toda a agitação e correria da cidade de dia, à noite se transformava em arte.
Hoje, mal me reconheço, trabalho bem menos. Tenho passado minhas noites ao lado dela e de seus amigos, todos parecidos com ela: criativos, cheios de vida e que fazem arte. Agora faço aulas de violão, futuramente, quem sabe, eu seja tão bom quanto ela.

Aula 7 - Leitura e entendimento de narrativas


Escolha um dos enredos apresentados abaixo e a partir dele redija uma narrativa de 30 linhas, procurando evitar os clichês.



Um Homem Fascinante: Ethan se surpreende ao descobrir que não são apenas as deliciosas sobremesas que Georgie prepara que o deixam com água na boca…
Torna-se cada vez mais difícil para Ethan se concentrar no trabalho e parar de pensar na bela morena. Ele e Georgie não demoram a esquentar o clima, tanto dentro quanto fora da cozinha…


Bianca Kaori:

Ethan, um homem muito bem sucedido e charmoso, caiu no encanto de Georgie, uma moça esquisita que o engravidou.
Certa manhã Ethan e Georgie estavam no banheiro do trabalho num amor carnal, quando Ethan sentiu uma sensação única.


Carina: Eu gostei bastante do começo da narrativa da Bianca, que subverte os clichês pela originalidade do tema abordado. Percebam que a descrição de Georgie como "uma moça esquisita" torna mais verossímil a gravidez de Ethan.


Camila Rosa Silveira:

Ela passou ao seu lado e parecia que seu cheiro o transformava. Georgie era seu nome. Uma bela morena, de longos cabelos, cheia de curvas. Não era apenas sua aparência física que o estimulava. Comunicativa, extrovertida, simplesmente um sonho, o seu sonho. Ethan só observava. No escritório todos notaram seu encantamento por aquela jovem mulher, mas ela parecia não percebê-lo.
Os dias iam passando e o seu encanto aumentava. Estava louco, queria ter aquela mulher, mas já não sabia mais o que fazer. Porém, naquela manhã, uma notícia pareceu iluminar seu dia. Roberto, seu melhor amigo, decidiu comemorar seu aniversário com uma grande festa.
(...)
A semana demorava a passar, a festa seria naquele sábado, todos do escritório tinham sido convidados e Georgie já havia confirmado sua presença. Ethan, que era considerado o conquistador da turma, parecia ficar travado com ela. Já tentara diversas vezes sair com Georgie, porém a resposta daquela mulher era sempre a mesma: "deixa pra próxima". Mas agora ela iria e ele estaria lá, esperando por ela, pronto para fazer com que ela se apaixonasse. Galanteador, conquistador, Georgie fora a única mulher que não lhe quisera em todo o ecsritório.
Ele se lembrava, como se fosse ontem, o dia em que notara aquela mulher. Foi na primeira festa do escritório. Cada um trouxe alguma coisa e ela, toda elegante, veio com uma bela torta. Foi amor à primeira mordida. Desde então só havia pensado nela.
O dia chegou. A festa começou. Ele a esperava (...). O tempo passava (...). Quando tudo parecia não ter mais sentido, quando ele já havia perdido a esperança, ela chegou. Linda, deslumbrante e acompanhada. Mais tarde Ethan soube: era seu namorado.

Aula 5 - Intertextualidades


Exercício de escrita:

Crie uma pequena narrativa que estabeleça uma relação intertextual com quaisquer dos três textos abaixo:

1) Chapeuzinho Vermelho
2) Filme: Cantando na chuva
3) Cantiga de Roda:
Santa Clara clareou
São Domingo alumiou
Vai chuva, vem sol
Sol e chuva casamento da viúva
Chuva e sol casamento do espanhol

Os arco-íris sobrepostos não lhe traziam alegria ao dia do matrimônio. Marcada precocentemente pela perda, era vista como a mulher da qual as crianças não deviam se aproximar: estrangeira, viúva, talvez bruxa por insistir com tanto afinco no uso do preto. Apenas ele soube lhe dar o respeito necessário, enxergar-lhe por debaixo do sotaque castelhano e das roupas pesadas, tão escuras. E agora, dia de seu segundo enlace, o talvez novo começo era marcado pelo sol e pela chuva, pela chuva e pelo sol. Nada podia fazer. As crianças entoavam a cantiga de Santa Clara com fúria, substituindo a marcha nupcial com seus gritos estridentes. Exposta estava também a coincidência: Clara, viúva e espanhola, prestes a desposar seu segundo Domingo. Sob os olhares suspeitos da vizinhança, que encarava tantas pretensas igualdades como uma prova da bruxaria, Clara, tão renovada em uma roupa branca, respirou fundo... e entrou convicta na igreja, prestes a começar uma segunda vida, uma nova segunda após seu casamento com um novo Domingo.