sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Tema de redação: Tempo (Fuvest 2004)

Nos três textos abaixo, manifestam-se diferentes concepções de tempo; o autor de cada um deles expõe uma determinada relação com a passagem do tempo. Leia-os com atenção:

TEXTO 1
Mais do que nunca a história é atualmente revista ou inventada por gente que não deseja o passado real, mas somente um passado que sirva a seus objetivos. (...) Os negócios da humanidade são hoje conduzidos especialmente por tecnocratas, resolvedores de problemas, para quem a história é quase irrelevante; por isso, ela passou a ser mais importante para nosso entendimento do mundo do que anteriormente.
(Eric Hobsbawn, Tempos Interessantes: uma vida no século XX)

TEXTO 2
Não se afobe, não,
Que nada é pra já,
O amor não tem pressa,
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário,
Na posta-restante,
Milênios, milênios
No ar...

E quem sabe, então,
O Rio será
Alguma cidade submersa.
Os escafandristas virão
Explorar sua casa,
Seu quarto, suas coisas,
Sua alma, desvãos...

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras,
Fragmentos de cartas, poemas,
Mentiras, retratos,
Vestígios de estranha civilização.

Não se afobe, não,
Que nada é pra já,
Amores serão sempre amáveis.
Futuros amantes quiçá
Se amarão, sem saber,
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você.
(Chico Buarque, "Futuros Amantes")

TEXTO 3
O que existe é o dia-a-dia. Ninguém vai me dizer que o que aconteceu no passado tem alguma coisa a ver com o presente, muito menos com o futuro. Tudo é hoje, tudo é já. Quem não se liga na velocidade moderna, quem não acompanha as mudanças, as descobertas, as conquistas de cada dia, fica parado no tempo, não entende nada do que está acontecendo. (Herberto Linhares, depoimento).

Redija uma dissertação em prosa, na qual você apontará, sucintamente, as diferentes concepções de tempo, presentes nos três textos, e argumentará em favor da concepção do tempo com a qual você mais se identifica. 




A vida além dos calendários

Desde a invenção do calendário, o homem convencionou dividir o tempo de forma a facilitar a sua vida na Terra, passando a viver sempre no passado, através de lembranças, ou no futuro, fazendo planos, e dificilmente conseguimos apenas praticar o carpe diem.

Mas a ideia de tempo não é tão fragmentada como esses calendários denotam, pois basta um estudante questionar-se de "por que estudar história?" para estabelecermos aí uma relação: como expresso por George Orwell em seu clássico do gênero distopia, 1984, "quem domina o passado domina o futuro e quem domina o futuro detém o presente".

Parafraseando o historiador Eric Hobsbawn, o passado serve aos objetivos daquele que o escreve, ou seja, do homem do presente. A resposta de qualquer professor de história para aquele aluno seria de que o passado não é apenas um amálgama de fatos, mas tem função política clara e, para Hobsbawn, caráter manipulável. A exemplo desse aspecto há os gregos, que passaram suas vitórias sobre os persas para a história como guerras médicas, acreditando estar lutando contra os Medos.

O tempo é dotado de pontos de vista, homens como Hugo Chávez são ótimas referências de como o herói e o carrasco podem estar encarnados na mesma figura. Há passados e presentes, (...), sendo muito difícil fazer a dissociação que os calendários propõem. A importância de um evento não se resume a tempos verbais mas, quase sempre, está ligada à daqueles que o escrevem.

Gabriel Alexandrino Silva

Trechos:

Tracemos um paralelo entre o tempo e a vertente filosófica do existencialismo. Fiódor Dostoiévski encara o tempo como uma questão, na última frase de Noites Brancas: "Não seria um momento feliz o bastante para a vida inteira?". Quando olhamos fotografias amareladas e saudamos os ditos bons tempos, estamos saudando o nosso presente (...).

Isabela Cristina Almeida

Almejando sempre bens futuros, na correria diária e dentro de um sistema consumista desenfreado, as pessoas estão se esquecendo de viver seu presente. Em um sistema cada vez mais dominante, as ambições para o futuro controlam as mentes (...).

Adriele Evelyn F. Silva

No tempo dos nossos pais e avós, a utilização de meios concretos para se demonstrar o que realmente se sentia pelo outro era um processo lento e, de certo modo, simples. Hoje em dia, com a tecnologia e as facilidades que temos, os recursos antigos foram substituídos.

Bianca Sousa Silva