segunda-feira, 4 de abril de 2011

Aula 5 - Intertextualidades


(Puc 2003)

Texto 1

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1995, p.11.

Questão 01

Adélia Prado é considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras contemporâneas. Sua poesia trata de temas que vão do mistério da criação poética à vida cotidiana, passando pela condição feminina. Leitora contumaz, ela estabelece uma série de diálogos com obras e autores de nossa literatura. A partir da leitura do texto acima, estabeleça uma comparação entre o poema de Adélia e o seguinte trecho do "Poema de sete faces" de Carlos Drummond de Andrade:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche* na vida.

* gauche: palavra da língua francesa que possui inúmeros significados, dentre os quais os de torto, malfeito, desajeitado.

As diferenças encontradas entre o poema de Adélia Prado e o de Drummond está na questão estética. Adélia diferenciou-se do poema de Drummond trocando "torto" por "esbelto"; "desses que vivem na sombra" por "desses que tocam trombeta", (chegando, entretanto, ambos os poetas a uma conclusão semelhante, a de que desde o nascimento já têm) de cumprir uma sina.

João Ricardo de Luca

Questão 02
Identifique e explique brevemente o jogo de palavras presente no título do poema.

Para que a obra de Adélia Prado não pareça simplesmente um plágio da obra de Drummond, ela deixa bem claro que (pede) licença poética para construir seu (poema), (causando uma intertextualidade) com o "Poema de Sete Faces".

João Ricardo de Luca

(Unicamp 2011)

Leia os seguintes trechos de O cortiço e Vidas secas:

O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. (...).
Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulhavam os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
(Aluísio Azevedo, O cortiço. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 2005, p. 462.)

Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera. (...) — Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
— Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando seu cigarro de palha.
— Um bicho, Fabiano. (...)
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p. 18-19.)

a) Ambos os trechos são narrados em terceira pessoa. Apesar disso, há uma diferença de pontos de vista na aproximação das personagens com o mundo animal e vegetal. Que diferença é essa?

A diferença é que em "O cortiço" o narrador faz a semelhança entre os moradores em relação aos animais, descrevendo gestos e cenários (que ambientalizam os personagens no mundo animal). Em "Vidas Secas" a própria personagem se identifica com um ser de outra espécie (...), (apesar da narração ser em terceira pessoa também).

Rodolfo Pinheiro



Para Leonardo e Luisinha a despedida no final da festa foi triste, no sentido de que a noite poderia ter sido maior, porém, já acabara. Para os outros a despedida foi alegre.
Já no trecho de Vidas Secas, predomina o cansaço (ao fim da festa). Fabiano, ao dormir, sonha agoniado, (a ponto) se que seu sonho se transforma em pesadelo.

Gustavo Eiji Ykeda



Exercícios de Escrita VI

Propagandas all type são anúncios publicitários que não apresentam imagens, como o exemplo da propaganda dos Colchões Ortobom. A partir da leitura dos textos abaixo, redija um anúncio all type (de um produto já conhecido ou inventado), em que exista uma relação intertextual, como ocorre nos exemplos abaixo.





Ficha Limpa
(Sabão em pó OMO)

Camila de Moraes Paulino

"Eu tive um sonho"
(Travesseiros Ninilua: durma bem)

Gabriel B. da Silva







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