terça-feira, 21 de agosto de 2012

Produção de Textos - Aulas 7 e 8 - A sequência dialogal; os tipos de discurso


Tema Redação – IBMEC 2010
Reflita sobre as ideias apresentadas no texto a seguir e desenvolva uma dissertação em prosa.

“Se for ao parlamento, posso ocupar a tribuna?
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica.
Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza de bom-tom, própria de um medalhão
acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; - é mais fácil e mais atraente. Supõe que desejas saber por que
motivo a 7ª companhia de infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão-somente pelo ministro da guerra, que te explicará em dez minutos as razões desse ato. Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir. Nesse ramo dos conhecimentos humanos tudo está achado, formulado, rotulado, encaixotado; é só prover os alforjes da memória. Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade.”
(Teoria do Medalhão, de Machado de Assis)

Conforme indicado nas folhas de rascunho e de redação, utilize o próprio tema como título de sua dissertação.

Tema/Título: Transcendendo os limites da vulgaridade

Foi-se a época em que as pessoas realmente acreditavam e lutavam por suas ideologias. Atualmente os revolucionários deixaram as ruas e a frente dos prédios públicos para se manifestar via internet, confortavelmente em suas casas. 
Agora se seguem outras tendências ideológicas - a cada mês surge uma nova ideia pela qual "vale a pena lutar", banalizando o ato da manifestação popular. Antigamente, as ideologias eram construídas - hoje, elas são embutidas nas mentes das pessoas.
O que antes era um diferencial, hoje não passa de cultura de massas e, como ferramenta essencial para alastrar a vulgaridade das ideologias, existe a globalização - que, ao invés de disseminar conhecimentos e promover a interação de diferentes culturas, se preocupa em estabelecer padrões e homogeneizar os pensamentos.

(Fernanda Devecchi)

 

Interpretação de Textos - Aulas 5 e 6 (A identificação de ambiguidades/ A identificação de pressupostos e implícitos)


Exercícios de vestibular:

(Fuvest 2002)

Diálogo ultra-rápido

- Eu queria propor-lhe uma troca de ideias ...
- Deus me livre!

(Mário Quintana)

No diálogo acima, a personagem que responde: - "Deus me livre!" cria um efeito de humor com o sentido implícito de sua frase fulminante.

a) Continue a frase - "Deus me livre!", de modo que a personagem explicite o que estava implícito nessa frase.

Deus me livre de pensar como você!

b) Transforme o diálogo anterior em um único período, utilizando apenas o discurso indireto e conservando o sentido do texto.

O primeiro interlocutor disse ao segundo que queria propor uma troca de ideias, que este recusou, dizendo exclamativamente que Deus o livrasse disso.

(Fuvest 2002) "O que dói nem é a frase (Quem paga seu salário sou eu), mas a postura arrogante. Você fala e o aluno nem presta atenção, como se você fosse uma empregada."
(Adaptado de entrevista dada por uma professora. "Folha de S. Paulo", 03/06/01)

a) A quem se refere o pronome "você", tal como foi usado pela professora?
Esse uso é próprio de que variedade lingüística?

Refere-se à 1ª pessoa (à professora). É um uso típico da norma coloquial.



b) No trecho "como se você fosse uma empregada", fica pressuposto algum tipo de discriminação social? Justifique sua resposta.

Sim. Fica pressuposto um preconceito em relação às empregadas domésticas, pois infere-se que, se a professora fosse uma empregada, a frase do aluno seria justificável.


(Unicamp 1998 – Adaptada)

O empresário Antônio Ermírio de Moraes escreveu o artigo a seguir (FOLHA DE SÃO PAULO, 3/8/97) em que se manifesta sobre a sujeira na cidade de São Paulo. Leia o artigo com atenção e reflita também sobre o que está sugerindo nas entrelinhas a propósito de pobreza, cidadania, limpeza, ação governamental, etc.

Até quando, São Paulo?

Os leitores têm todo o direito de se queixar quando volto a um mesmo assunto. Acontece que o retorno ao tema decorre da persistência do problema. Refiro-me à imundice que campeia na cidade de São Paulo.
Muita gente confunde pobreza com sujeira. Nada mais errado. As pessoas humildes são exatamente as que mais valorizam o asseio, a higiene e a limpeza.
Você já notou como é generalizado o banho dos trabalhadores da construção civil depois de uma jornada de trabalho? Você já reparou como são bem areadas as panelas das donas-de-casa dos domicílios das periferias? Você já observou a brancura das camisas e blusas dos uniformes dos seus filhos?
O que se vê na capital de São Paulo é fruto de puro abandono e total falta de autoridade.
São pessoas imundas que emporcalham a cidade como prova da sua selvageria e refluxo da instabilidade dos governantes.
Uns defecam nos jardins. Outros cozinham debaixo dos viadutos. Há ainda os que penduram a roupa encardida nos galhos das árvores. Tudo a céu aberto e no maior acinte aos cidadãos que aqui vivem.
Na ausência de um plano diretor para cuidar da habitação, avoluma-se o número de pessoas que, usando tábuas, papelão e até embalagens de geladeiras, vão se mudando definitivamente para debaixo das pontes, onde passam a residir "tranquilamente" no meio de escandalosa sujeira.
O mais espantoso é ver as autoridades municipais e estaduais consentirem com a multiplicação desses chiqueiros que, na verdade, são uma verdadeira provocação aos que pagam altos impostos e que têm o direito de exigir um mínimo de higiene na cidade em que habitam e trabalham.
Já passou bastante da hora de as autoridades agirem. Eles estão atrasados há vários anos - mas têm de agir.
Não é justo que a população como um todo seja submetida a um ambiente tão vergonhoso e deprimente como é o de São Paulo.
Não sou saudosista a ponto de querer voltar ao tempo do prefeito Faria Lima, quando o símbolo da capital era uma bela rosa.
Mas também não acho correto submeter um povo trabalhador a uma cidade imunda e abandonada.
Afinal, esse povo está seguindo as regras democráticas, comparece às eleições e escolhe ordeiramente os seus vereadores, prefeitos e governantes.
É hora de eles realizarem mais trabalho e menos política, limpando esta cidade que já foi orgulho do nosso país. Mãos à obra!

A partir da leitura e da sua reflexão, exponha quais são os implícitos presentes neste texto. 

O principal implícito do texto é que os pobres são os maiores responsáveis pela imundície da cidade. Apesar de, aparentemente, evitar essa ideia, toda a construção textual deixa implícito que a sujeira se associa diretamente à população de baixa renda.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Interpretação de Textos. Aula 7 - Análise do nosso entorno

A interpretação de textos deve ser ensinada não apenas como uma ferramenta para passar em concursos e vestibulares. Saber ler bem um texto é assumir uma postura crítica perante tudo o que nos é imposto. Por isso, os alunos do Cursinho Gauss testaram um pouco de sua capacidade interpretativa analisando discursos publicitários. Confira mais logo abaixo!


Como a revista trata de assuntos empresariais, o interlocutor provavelmente será alguém de classe alta. Há uma frase em inglês que ressalta a especificidade desse público, que precisa saber o básico do idioma para entendê-la. Há uma metáfora de que entregar uma encomenda de um continente a outro é tão rápido quanto passá-la pela janela.
(Thiago Carlos, Ikaro Falcão e Yasmin Viniarczyk)


Na propaganda se nota o preconceito cultural quando se compara ídolo e fã, declarando que eles são iguais (subentenda-se "apenas") na lotomania. Assim, a classe econômica a quem se destina a propaganda não é a alta, mas aquela que precisa de dinheiro para alcançar o mesmo status de seus ídolos. Por isso, a linguagem usada é fácil e acessível a todos os públicos.
(Mariana Andrade, Caio Lima, Jefferson Figueiredo, Fabiano Santiago)


A propaganda passa a ideia de que encontrar a profissão que combine com você é tão difícil quanto montar um cubo mágico. Assim, a persuasão estimula o leitor a adquirir a revista Guia do Estudante, para que não corra o risco de não conseguir se "encaixar" em nenhuma carreira.
(Madssan Loys V. Souza, Lilian, Wemerson, Lucas Caraça)




O método utilizado para persuadir é elevar o carro ao nível da rainha da Inglaterra, o que atesta certo preconceito em relação aos produtos nacionais. Há ambiguidade no texto, pois o "novo rei" pode se referir tanto à autoridade masculina (interlocutor preferencial da propaganda) quanto ao carro que pretende ocupar este cargo.
(Aline, Diego, Tainá, Damaris, Karina, Cíntia)



Publicada na revista Isto É, voltada à classe média, o interlocutor da propaganda é aquele que quer adquirir um modo melhor de comunicação, mas sem gastar muito.
(Rudge Eiji Wohlers, Lizandra Santos da Conceição, Joseane do Nascimento, Monick Iossa)


A propaganda usa um tom de menosprezo para convencer seu interlocutor. As outras marcas são desprezadas e pressupõe-se que aquele que não possui um carro Chevrolet passa por situações como a mostrada pela imagem. Assim, texto verbal e não-verbal se articulam para convencer o leitor da revista.
(Andressa S. Coelho e Cristiane O. Campezi)


Há um preconceito de gênero implícito, já que a cor rosa só se relaciona à mulher e a cor azul, apenas ao homem. Há também preconceito em relação aos outros controles, incentivando o consumismo. A ambiguidade está presente na palavra "batalha", pois não se sabe se se refere à batalha do jogo ou à batalha entre os controles.
(Alexsander M. Souza, Eduardo C., Andrei Henrique, Jonas Donizete, Grazi de La Torre)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Simulado - Estilo Unicamp


Simulado Unicamp

Redação

Tema 1. Leia o texto abaixo, retirado do blog do jornalista Marcelo Tas (http://blogdotas.terra.com.br/2012/04/12/agora-e-lei-presidenta/):

Agora é lei: presidenta!

Acabou a moleza. Quem relutava, se negava ou criticava o pedido meigo de Dilma ser tratada como presidentA, pode se preparar para não ser pego fora da lei.
No último dia 3 de Abril, a presidentA sancionou a Lei 12.605/12, que determina a obrigação da flexão de gênero em profissões. Pra quem ainda duvida, está lá no site da PresidentA.
Agora é presidentA, gerentA, pilotA, etc… Aproveito para comunicar a todos que não vou deixar isso barato: a partir de agora, exijo ser tratado como jornalistO e humoristO.

Tas expressa sua visão sobre a nova lei de Dilma partindo de um ponto de vista masculino. Lola Aronovich (professora da UFC – Universidade Federal do Ceará), em contrapartida, expõe em seu blog uma concepção diferente no que se refere aos empregos do gênero na língua:

Nossa língua machista

(...) a não ser que você pense bastante no assunto, talvez nem esteja ciente de como a linguagem que usamos todos os dias é preconceituosa, e como coloca a mulher como cidadã de segunda classe. Por exemplo, quando usamos a palavra “homem” como sinônimo de “ser humano”, (...) passamos a impressão que homem é mais ser humano que mulher. Quando escrevemos sobre um sujeito indeterminado e dizemos “ele” ao invés de “ela”, idem. Quando usamos adjetivos no masculino, também. Por isso, em inglês, muita gente hoje escreve “s/he”. Em português, “ele(a)”, mas mesmo isso de colocar o pronome feminino entre parênteses já pode ser considerado discriminatório. Em alguns blogs, vejo gente usando o “@” como gênero neutro.
(...) Numa discussão em um post bem polêmico, uma leitora anônima reclamou porque escrevi “todas as psicólogas”: “A propósito, gostei do 'todas as psicólogas'. Homem não pode ser psicólogo? Isso é profissão de mulherzinha? Ok, estou só alfinetando, claro que você não acha isso, mas que soou estranho, soou”.
Eu respondi: “O 'Todas as psicólogas' é porque estou tentando adotar o artigo feminino em situações que têm muito mais mulheres que homens. Acho um absurdo falar em 'todos os psicólogos' (na turma de uma amiga minha não havia um só homem), 'os nutricionistas', 'os enfermeiros' etc. É um fato que a maior parte das pessoas nessas profissões são mulheres. E acho errado, por causa de uns 10% de homens (minoria absoluta), referir-se à profissão com o gênero masculino. No meu blog falo 'pras leitoras', já que 70% do meu blog é leitora, não leitor. Engraçado como vivemos num mundo em que falar 'leitoras' exclui os leitores, mas falar 'leitores' não exclui as leitoras...” Nós, mulheres, estamos tão acostumadas a sermos excluídas na nossa própria língua que até achamos estranho se um artigo for usado no feminino.
Dona de casa ainda é pra mulher, quase que exclusivamente. É muito mais comum ouvir que o homem é o dono da casa (da casa específica, não de casa, genérico), o provedor, que dono de casa.
(...)

Imagine-se no lugar de Lola, que, ao ler o texto no blog de Marcelo Tas, resolve escrever-lhe uma réplica. Elabore um comentário-resposta ao post de Tas levando em consideração os argumentos defendidos pela professora da UFC.

Redação de Fabiano Santiago da Rocha (clique para ler; se a visualização ficar ruim, use o botão direito do mouse para exibir a imagem em tamanho grande):

  
Redação de Madssan Souza (clique para lerse a visualização ficar ruim, use o botão direito do mouse para exibir a imagem em tamanho grande):



Tema 2. Leia o texto abaixo, extraído do site de informações da Editora Abril (http://info.abril.com.br/noticias/tecnologia-pessoal/governo-de-sp-ira-digitalizar-40-das-aulas-05042012-35.shl).

Governo de SP irá digitalizar 40% das aulas

São Paulo - O governo de São Paulo anunciou que pretende tornar digitais até 40% das aulas ministradas na rede pública de ensino. Para isso, o órgão público comprará equipamentos, treinará professores e criará serviços de educação à distância.
O projeto "Aula Interativa", proposto ao governo paulista pela Dell Computadores, será feito por meio de uma parceria público-privada e irá abranger todas as disciplinas dos colégios estaduais de 5ª a 9ª série do ensino fundamental.
A empresa responsável pelo fornecimento dos conteúdos e equipamentos eletrônicos será escolhida em edital, ainda sem um prazo definido para ser lançado. O investimento inicial do governo será de R$ 5,5 bilhões em 10 anos.
Segundo a Secretaria de Estado da Educação, a pasta será a responsável pela definição dos critérios técnicos e prevê que a instalação de lousas digitais tenha início já em 2013. Em seguida, serão distribuídos notebooks e tablets às escolas.
O projeto prevê que a empresa escolhida também fique responsável por criar os conteúdos a serem distribuídos para as aulas digitais. Entre os exemplos, foram citados vídeos curtos para explicar as matérias e jogos lúdicos para fixar os conteúdos. Segundo o governo, essa iniciativa visa melhorar a qualidade do ensino e atrair a atenção dos alunos às aulas.
No entanto, o projeto já recebe críticas. Especialistas afirmam que não há nenhuma pesquisa que relacione o uso da tecnologia com a melhoria da qualidade do ensino e que a porcentagem estabelecida pelo governo pode limitar a atividade dos professores nas escolas.
Além disso, a escolha de uma empresa privada para desenvolver o conteúdo didático das aulas foi alvo de críticas. Opositores do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembleia Legislativa classificaram a decisão como "privatização do ensino".
O custo do projeto também foi alvo de questionamentos. Ao todo, o governo pretende investir 5,5 bilhões de reais no projeto ao longo de dez anos.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, todos os conteúdos digitais desenvolvidos pela empresa privada seguirão as apostilas do Estado e terão de ser aprovados pela pasta, que também garante que os professores não perderão autonomia com o projeto.

Adote uma posição contrária ao projeto de virtualização das aulas e escreva uma carta aberta ao público em que aponte as falhas do “Aula Interativa”. Assine a carta apenas com as iniciais do seu nome. 

  
Redação de Ivan Pinheiro (clique para lerse a visualização ficar ruim, use o botão direito do mouse para exibir a imagem em tamanho grande):



  
Redação de Thainá Silva (clique para lerse a visualização ficar ruim, use o botão direito do mouse para exibir a imagem em tamanho grande):


Tema 3.

Convite

            Ah, moça, esta cidade da Bahia é múltipla e desigual. Sua beleza eterna, sólida como em nenhuma cidade brasileira, nascendo do passado, rebentando em pitoresco cais, nas macumbas, nas feiras, nos becos e nas ladeiras, sua beleza tão poderosa que se vê, se apalpa e cheira, sua beleza de mulher sensual, esconde um mundo de miséria e de dor. Moça, eu te mostrarei o pitoresco, mas te mostrarei também a dor.
            Vem e serei teu guia turístico. Juntos comeremos no Mercado o vatapá apimentado e a doce cocada de rapadura. Mas não te levarei apenas aos bairros ricos, de casas modernas e confortáveis. Iremos nos piores bondes para a Estrada da Liberdade, onde descobrirás a miséria do povo e os  cortiços infames.
            Esse é um estranho guia, moça. Com ele, não verás apenas a casca amarela e linda da laranja. Verás igualmente os gomos podres que repugnam o paladar. Porque assim é a Bahia, mistura de beleza e sofrimento, de fartura e fome, de risos e de lágrimas doloridas. Teus pés pisarão sobre o mármore das igrejas, tuas mãos tocarão o ouro de São Francisco, teu coração pulsará mais rápido ao som dos atabaques. Mas moça, estremecerás também muitas vezes e teu coração se apertará de angústia ante a procissão fúnebre dos tuberculosos na cidade de melhor clima e de maior porcentagem de tísicos do Brasil. A beleza habita nesta cidade misteriosa, moça, mas ela tem uma companheira inseparável que é a fome.
            Se és apenas uma turista ávida de novas paisagens, então não queiras esse guia. Mas se queres ver tudo, na ânsia de tudo aprender e descobrir, se queres realmente conhecer a Bahia, então vem comigo e te mostrarei as ruas e os mistérios da cidade de Salvador. Sairás daqui certa de que este mundo está errado e que é preciso refazê-lo para melhor. Porque não é justo que tanta miséria caiba em tanta beleza. Riremos juntos e juntos nos revoltaremos. Qualquer catálogo, livro ou propaganda te dirá quanto custou o Elevador Lacerda, a idade exata da catedral, o número certo dos milagres do Senhor do Bonfim. Mas eu te direi muito mais. Junto com a beleza e com poesia te direi da dor e da miséria.     
Vem, a Bahia te espera. É uma festa e também um funeral. Vou mandar que batam os atabaques e os barcos partam rumo ao mar. A doce brisa, os ventos e palma dos coqueiros te saudarão das praias.
Vem, a Bahia te espera!

(In: http://estacaodapalavra.blogspot.com.br/2011/03/redacao-proposta-de-descricao.html)

O texto acima foi escrito por Jorge Amado para descrever seu estado natal. Elabore você também um convite turístico, em que os estrangeiros sejam persuadidos a visitar o Brasil. Use descrições objetivas e subjetivas na composição de sua redação.

  
Redação de Jonas Silva (clique para lerse a visualização ficar ruim, use o botão direito do mouse para exibir a imagem em tamanho grande):


  
Redação de Thainá Idalgo (clique para lerse a visualização ficar ruim, use o botão direito do mouse para exibir a imagem em tamanho grande):





domingo, 6 de maio de 2012

Produção de Textos. Aula 6 - Reescrita (narração Unicamp 2008)


Meu futuro, como o seu, é o fim
(Fabiano Santiago)

            Meu nome é José dos Santos e eu sou um brasileiro comum; comum em termos, pois sou bem maior que a maioria da população, mas não em altura – eu sou obeso (o que é irônico, pois me sinto bem menor que qualquer um).
            Quando criança eu já era gordo, mas nessa idade o peso era encarado como algo bom – “criança sadia é criança forte”, como diria minha avó. Isto me incentivava, de certa forma, a comer. Fui uma criança feliz, brincava e tinha amigos como todos os outros.
            Tudo mudou a partir da puberdade; as campanhas sobre obesidade passaram a ser foco na mídia e os homens de branco começaram a prestar mais atenção em mim. Minha família estava preocupada – “Vai morrer de ataque cardíaco”, dizia minha tia. Passei a fazer dietas e a praticar exercícios; contudo, eu tinha fome e comia escondido dos meus pais e faltava às aulas de natação.
            Foi aos quinze anos que veio o diagnóstico, obesidade mórbida, e, com ele, diversas outras complicações como diabetes, problemas cardíacos (bendita tia!) e complicações respiratórias. Minha mãe se foi quando completei dezesseis anos e passei a comer mais, muito mais.
            As dietas foram perdendo sentido e superação física era conseguir subir um lance de escadas sem ajuda. As pessoas me viam como um portador de doença contagiosa; ninguém se aproximava, alguns zombavam, outros me olhavam com piedade, mas, no fim, todos faziam a mesma coisa: batiam a porta na cara do “gordo imprestável”.
            Hoje tenho 23 anos e os homens de branco dizem que sou uma vitória (talvez para eles). Vivo em um quarto de hospital, pois eles dizem que meu coração é pequeno demais para bombear sangue para meu corpo avantajado. Minhas amigas são uma enfermeira e uma janela, pela qual olho todos os dias, na esperança que minha mãe volte, já que os homens de branco disseram que ela virá em breve.

Sem título
(Grazi de La Torre)
            A doença era hereditária; a adquirira de sua mãe, que havia falecido há pouco tempo. Levava uma vida distante da sociedade, não por própria vontade ou escolha, mas porque lhe impuseram isso. De criança teve uma vida normal, mas logo que os outros aprenderam o que sua doença realmente significava, o excluíram. Pensava que tudo era um castigo por algo que fizera em uma vida passada; afinal, acreditava em reencarnação.
            Sabendo do curto prazo de vida que ainda lhe restava, um dia decidiu sair para se libertar. Foi para onde as pessoas levavam uma vida boêmia, onde a noite era dia.
            Ele era de uma bela feição: a doença não estava estampada em suas características, não o denunciava à primeira vista. Entrou e logo as luzes dilataram sua pupila; primeiro colocou o braço sobre o rosto, mas acabou se acostumando rápido. Olhou em volta e sentiu a presença de uma bela, muito bela, mulher ao seu redor.
            Como em um passe de mágica, suas bocas estavam encaixadas e ele correspondia ao beijo. Ela o convidou para o quarto e se atirou em cima dele. Enquanto seus corpos esquentavam, ele paralisou o ato com um leve segurar dos braços dela. “Nossa, você é mesmo bonita”. Entre risos e em tom de ironia, ela lhe perguntou se queria mesmo conversar ou brincar. “Conversar” – disse ele normalmente. Surpreendida, controlou-se, sentou-se ao seu lado e conversaram.
            Ao longo de algum tempo, ele lhe contou sobre a doença. Ela se calou, pensativa. Mas optou pela prevenção e não tardou por motivá-lo de volta ao ato. Pareceu-lhes que tudo havia durado uma vida talvez, e entre carinhos e sorrisos mais uma confissão saiu da boca dele: a recente perdida virgindade. Ela continuou calada, pensando em como ele havia cruzado o seu caminho – eram diferentes, muito diferentes.
            “Preciso ir”, disse ela interrompendo ambos os pensamentos. Sem pestanejar, apenas perguntou: “Não te verei de novo?”. “Talvez”, disse ele, e saiu. Ela sabia que não o veria mais – pelo menos, não em vida.

O peso da dor
(Andressa dos Santos Coelho)

            Acordou para mais um dia de vida. Olhou o relógio e viu que já estava atrasada. Mesmo assim não se moveu. Começou a divagar sobre como seria sua vida se tudo fosse diferente. Se seu corpo, grande e feio, como dizia sua mãe, se transformasse em um corpo magro e belo – as coisas mudariam, ela teria mais amigas, quem sabe até um namorado? A magreza deixa tudo mais fácil e essa era a sua maior vontade.
            Finalmente resolveu se levantar. Parou em frente ao armário e outro dilema se formou: o que vestir? Nada ficava bom nela, nada melhorava sua aparência. Não importava o que ela vestia ou fazia, riam dela de qualquer jeito. “Mas eu mereço isso” – pensou a garota. Lembrou-se do médico lhe informando sobre sua doença e dizendo que a única opção era emagrecer. Sua mãe, histericamente, repetia um “eu te avisei!” a cada segundo. Todos a avisaram, na verdade. Até um cartaz na escola a prevenia disso. Mas eles achavam que era fácil, só mudanças de hábito. Só que não era tão simples assim, porém ninguém entendia. Somente a culpavam.
            Por fim vestiu-se, saiu apressada para o colégio, mais uma vez sem comer nada. Já conseguiu completar cinco dias sem se alimentar. A queriam magra e ela estava tentando, mesmo que isso a levasse a extremos. A escola foi o mesmo desafio de sempre. As risadas, cochichos e piadas a feriam, mas ela fingia não se importar e continuaria fingindo até chegar ao seu limite.
            No fim da tarde voltou para casa, foi direto para o quarto, disfarçou a fome de todo jeito. Deitou-se na cama, fechou os olhos e imaginou-se em outro mundo. Um lugar onde a amariam, a entenderiam e a aceitariam, mesmo com seus erros e defeitos. Adormeceu e teve um sonho lindo, em que tudo parecia real e possível. Mas ela sabia que na manhã seguinte começaria tudo outra vez, a mesma luta, culpa, cobranças, dor e humilhação. Seu desejo de que tudo mudasse era enorme, todavia não tinha forças suficientes para fazer algo por si mesma. Até quando aguentaria esta situação? O que a mataria primeiro? Haveria salvação para ela? Todo o seu coração ansiava que sim.