sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Elaboração de narrativas - Tema da prova da UEG 2012

Redação - Universidade Estadual de Goiás 2012

Nas últimas décadas, os reality shows firmaram-se como sucesso na mídia com base na simples fórmula: oferecer ao espectador a oportunidade de bisbilhotar a vida de seres humanos em disputas extremas visando algum tipo de premiação. Sobre esse assunto, leia a coletânea de textos a seguir.

Texto 1
Reality show é um tipo de programa em que certo número de pessoas fica confinado em um local pré-determinado, isolado. Essas pessoas, que até aquele momento não se conheciam, têm de passar um bom tempo convivendo. Durante a convivência, os participantes se envolvem em confraternizações, discussões, fofocas, namoros, paixões etc. Esses programas são chamados de reality show (ou show da realidade) porque nada do que acontece é fruto da imaginação de algum escritor. Nada obedece a um determinado roteiro ou é ensaiado. O relacionamento entre seres humanos é amplamente exposto (de preferência no melhor ângulo) para que o telespectador possa ter uma visão detalhada de tudo o que acontece naquele ambiente. Para muitos psicólogos, o público gosta de assistir aos realities porque se identifica com determinados personagens e passa a torcer por eles ou contra algum participante que demonstre arrogância ou egoísmo. De tanto ver os personagens, o público os considera como parte da família, pois passa a conhecê-los quase que intimamente. O espectador se comove quando alguém se apaixona por uma pessoa, mas também se interessa quando alguém fala mal de outro colega ou discute com um outro. E, por fim, também curte ver as virtudes, as fraquezas e os defeitos dos participantes.
LIMA, Ana. Os reality shows: intimidade revelada? Disponível em: . Acesso em: 25 abr. 2013. (Adaptado).

Texto 2
A sociedade mergulhou numa disputa de baixarias. As competições escancaradas na TV aberta, sob a chancela de “entretenimento”, estimulam a humilhação pública e a indignidade humana. Comer pizza de vermes e minhocas vivas, deixar ratos e cobras passear pelo corpo de uma moça de biquíni, resistir a vômitos como prova de determinação e bravura – isso é exatamente o quê?
AQUINO, Ruth. O rodeio dos imbecis. Época. São Paulo, 1º nov. 2010. p. 130. (Adaptado).

Texto 3
Os processos de identificação parecem estar na base do sucesso das representações da vida real, ou seja, a possibilidade de encontrar eco para as próprias experiências pode ser um meio de sentir-se incluído no mundo dos humanos, de encontrar elementos que auxiliem na elaboração de vivências e de amenizar a solidão intrínseca à própria existência humana. A imitação da vida nos permite compartilhar a essência humana com os outros: o estritamente pessoal ganha o terreno social. Já não somos os únicos; é possível compreender as situações humanas à luz da esfera cultural. Não estamos completamente sós, pois os outros participam do drama que julgávamos exclusivamente nosso. A convivência une e configura um fenômeno social que propicia, por um lapso de tempo, certo sentimento de cumplicidade capaz de mover os espectadores em manifestações coletivas, que vão do êxtase à decepção, da alegria esfuziante à profunda tristeza, do riso aberto ao choro incontido. Mais do que um movimento catártico, há aqui a possibilidade de tornar público o privado, de socializar o individual, dando-lhe novo sentido.
MILLAN, Marília Pereira Bueno. Realitie shows - uma abordagem psicossocial. Disponível em: . Acesso em: 22 abr. 2013. (Adaptado).

Texto 4
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), mas conseguimos chegar ao fundo do poço. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo. Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB 10. Ele prometeu um “zoológico humano divertido”. Não sei se foi divertido, mas pareceu bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas. O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, os quais são apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um prêmio milionário.
VERISSIMO, Luis Fernando. A vergonha. Disponível em: . Acesso em: 16 maio 2013. (Adaptado).

Texto 5
Somos todos antropófagos simbólicos, somos canibais inconscientes. Embora nos realities quase todo mundo seja desconhecido, não tenha dúvida, todos os competidores são profissionais. É gente que sabe o discurso do escancaramento de cor. Sabe os gestos de cor. São androides do desejo público, programados para falar como segredos íntimos o que não passa de fetiche da massa. Eles não estão ali para dizer o que sentem. Eles nada sentem além da compulsão pela fama. Estão ali para servir. E para fazer de conta que sentem o que os olhos da turba, sobre cada um deles, pressentem. Não há "vida interior" a ser devassada nesse tipo de programa. Há somente o interior do organismo, as vísceras cruas e as palavras idem.
BUCCI, Eugênio. O "brother" esquartejador. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tvfolha/tv0302200202.htm>. Acesso em: 08 jan. 2013. (Adaptado).

Com base na leitura da coletânea, escolha UMA das três propostas de construção textual (dissertação, narração ou carta argumentativa) dadas e discuta a seguinte questão-tema:

Reality show: uma forma de diversão para espectadores e competidores ou de degradação de ambos?

NARRAÇÃO
O conto é um gênero literário breve, com núcleo dramático único, centrado em um episódio da vida de um ou mais personagens.
Tendo em vista essa definição e a leitura da coletânea, desenvolva uma narrativa, cujo enredo apresente uma situação de conflito relacionada à questão-tema desta prova e que, obrigatoriamente, o narrador (1ª ou 3ª pessoa) seja caracterizado por uma das seguintes possibilidades:
- um ou uma participante de um reality show;
- um espectador individual ou um representante de alguma instituição social (religiosa, civil, jurídica etc).

Crítica pessoal
(Andreza Silva)

Ela não podia acreditar, não podia mesmo - com tantos canais em sua tv, como seria possível que não houvesse um só em que estivesse passando algo bom? Em três deles, três, estavam sendo exibidos reality shows e as emissoras restantes só sabiam comentá-los.

(...) Thalita (...) não entendia qual era a graça que as pessoas viam nesse tipo de programa. Era só um bando de pessoas, gente como ela, trancados em uma casa com um monte de desconhecidos se embebedando em festas e não fazendo absolutamente nada de produtivo. (...)

Eles eram todos exibidos como um bando de bichos em uma jaula, enquanto outras pessoas os assistiam, ou, pior, se divertiam com aquilo. Um zoológico, pensou ela, quase como um zológico, tratados como tais, se prestando a esse tipo de papel, tendo como diferença o fato de que os bichos não escolhiam ser enjaulados (...).

Sua revolta era iminente, perceptível. Viu quando a irmã se aproximou e tentou pegar o controle para assistir a um daquele programas, mas ela não deixou, mandou que a garota fosse caçar o que fazer. A irmã a (...) acusou de falar dos reality shows como se fossem os Jogos Vorazes, mas para ela ambos não eram tão diferentes assim. Nos Jogos Vorazes os jovens eram obrigados a lutar até a morte para a diversão da população. (...) A diferença (...) é que os pobres jovens de Panem não escolhiam a sua sina (...).

- Usados, vendidos - resmungava Thalita para si mesma (...). A irmã passou por perto novamente e saiu rindo. (...) - Chega, (...) vou seguir o conselho que dei a Rachel, vou caçar o que fazer.

E então ela fez o que há muito deveria ter feito. Levantou-se e foi se afundar em um filme (...), pois a realidade ela conhecia de cor e a última coisa a que queria assistir era uma pseudorrealidade.  Entre isso e a ficção, valia escolher esta última. 








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