quarta-feira, 21 de março de 2012

Aula Livro 1. Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)

UFU 2007
PRIVILÉGIO DO MAR

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja.


Carlos Drummond de Andrade. "Sentimento do mundo".

Considerando o poema acima e a obra "Sentimento do mundo", marque a alternativa INCORRETA.
a) O terraço, neste poema, é lugar de encontros amorosos, pois "abriga mil corpos", o que caracteriza o texto como lírico amoroso, de influência romântica.
b) No último verso, a palavra "honradamente" confere um sentido irônico ao poema, pois caracteriza uma classe social privilegiada, indiferente aos problemas que não lhe afligem de maneira direta.
c) O edifício de "cimento armado", neste poema, confronta-se com o espaço de outro poema do livro "Morro da Babilônia", metaforizando duas classes sociais: a primeira, protegida em seus privilégios, e a última, excluída e ameaçadora.
d) O poema acima confirma a vocação de poeta social em Drummond, que coloca, em vários momentos, a poesia a favor da denúncia, e que nestes versos se reflete na idéia de privilégios econômicos para um segmento social específico.

Resposta: A

UFV 2000

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


(ANDRADE, Carlos Drummond de. "Antologia poética". Rio de Janeiro: Record, 1998, p.118)
Todas as alternativas seguintes correspondem a uma leitura possível do poema drummoniano, EXCETO:
a) O poema revela-nos um eu-lírico que, ignorando o passado e o futuro, opta por conhecer a realidade de seu próprio tempo.
b) O poeta renuncia ao isolamento voluntário e reafirma sua solidariedade aos companheiros, dos quais não pretende mais se afastar.
c) Ao voltar-se para a vida presente o poeta demonstra uma preocupação maior com o seu momento histórico.
d) O poeta busca a convivência com os outros homens à sua volta, não pretendendo, pois, entregar-se aos devaneios e à solidão.
e) O autor de "Mãos dadas" quer unir-se a seus semelhantes para libertar-se do passado, do presente, e do futuro de um mundo caduco que o sufoca.

Resposta: E



PUC 2002

Texto 1
A ciência do medo e da dor

[...]
As razões pelas quais sentimos dor são muito parecidas com as que nos fazem sentir medo. Do ponto de vista evolutivo, as atuais reações de medo talvez sejam um refinamento das reações mais primitivas de dor. Nesse aspecto, a capacidade de sentir dor é tão importante quanto a de sentir medo: motivar respostas de defesa diante de estímulos ameaçadores. Pessoas que de algum modo tornaram-se insensíveis à dor não reagem prontamente a estímulos desse tipo e por isso acidentam-se facilmente, sofrendo cortes, queimaduras ou até lesões ósseas.
As informações neurais de dor têm sua origem em receptores ou terminações nervosas presentes na pele, em músculos e em órgãos internos. Esses receptores transformam os ¢estímulos nociceptivos (táteis, mecânicos ou térmicos) em impulsos nervosos e os transmitem para o cérebro. Os sinais associados a estímulos de dor são especialmente eficazes em provocar medo, mas o estímulo doloroso, por si só, não causa qualquer reação de medo - isso ocorre graças à associação do estímulo da dor com outros estímulos ambientais.
[...]
Nota: nociceptivo (adj.): capaz de transmissão de dor
(Cruz, A.P.M. e Landeira-Fernandez, J. de. "Revista Ciência Hoje", vol. 29, n¡. 174, p. 21-22.)


Texto 2
Confidência do Itabirano
Carlos Drummond de Andrade

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade
[e comunicação..

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem
[mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

(In "Obra Completa". 6� ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, p. 57)

a) É comum caracterizar-se a dor como um fenômeno negativo. Explique como o texto 1 aponta para a possibilidade de considerá-la, ao contrário, como um fenômeno positivo.
De acordo com o texto 1, podemos caracterizar a dor como um fenômeno positivo e não negativo (como o usual), uma vez que aquele que crê que irá sentir dor tem medo, um estímulo que reduz suas chances de se envolver em algum acidente ou evento doloroso. (Juliana Katib)

b) Com base na leitura dos textos 1 e 2, compare os "estímulos nociceptivos" (texto 1, ref. 1) e a "fotografia na parede" (texto 2, verso 20) como elementos deflagradores de dor.
O poema se caracteriza pela evocação das memórias do eu-lírico, que se constituem de lembranças tristes da cidade de Itabira ("A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira"; "E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana"). Ao olhar a fotografia na parede, o poeta a relaciona imediatamente à dor que a cidade lhe desperta - a fotografia, portanto, o impede de desejar voltar a Itabira, assim como um estímulo nociceptivo consegue fazer com que pessoas não se arrisquem em atividades que possam causar dor.

c) Uma das características da poética de Carlos Drummond de Andrade é a recorrência de figuras que simbolizam o ser desajeitado, o homem torto, a criatura deslocada e afastada dos homens comuns. Transcreva um verso do poema que ilustre essa condição do poeta como ser deslocado diante das coisas do mundo. Justifique sua escolha.

O verso "E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana" revela como o eu-lírico se sente deslocado, se divertindo com a própria dor. (Juliana Katib)

UFU 1999
"Canção Amiga"

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças."

(Carlos Drummond de Andrade, ANTOLOGIA POÉTICA)

Considere o poema acima e faça o que for pedido.

a) Explique a razão pela qual esse poema pode ser considerado lírico. Fundamente sua resposta com trechos do poema.
O poema "Canção amiga" pode ser considerado lírico porque a voz lírica exprime seus sentimentos e reflexões. Este ato fica claro quando lemos "Eu preparo uma canção em que minha mãe se reconheça"; "Minha vida, nossas vidas formam um só diamante" e "Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas". (Aline Lima da Silva)

b) Se houvesse mudança da pessoa verbal do poema para a 3ª� pessoa, ainda assim o poema poderia ser considerado lírico? Fundamente sua resposta com trechos do poema.
Se o poema fosse escrito na 3ª pessoa não seria mais considerado lírico, pois no gênero lírico é a voz do eu-lírico que se expressa, usando a 1ª pessoa do singular para expor seus snetimentos e sensações. Se fosse transposto para a 3ª pessoa, provavelmente se aproximaria mais de um poema de cunho narrativo. (Aline Lima da Silva)

UFV

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