quinta-feira, 29 de julho de 2010

Aula 11 - Descrição: a construção de personagens e cenários


(Unicamp 1995)

Na coletânea abaixo, há elementos para a construção d eum texto narrativo em que se tematiza o relacionamento entre duas pessoas, o cruzamento de duas vidas. Sua tarefa será desenvolver essa narrativa, segundo as intruções gerais.

A tragédia deste mundo é que ninguém é feliz, não importa se preso a uma época de sofrimento ou de felicidade. A tragédia deste mundo é que todos estão sozinhos. Pois uma vida no passado não pode ser partilhada com o presente.
(Ana Lightman, Sonhos de Einstein, 1993)

Cena A: Um homem, uma mulher

- Uma mulher deitada no sofá, cabelos molhados, segurando a mão de um homem que nunca voltará a ver.
- Luz do sol, em ângulos abertos, rompendo uma janela no fim da tarde. (...) Uma imensa árvore caída, raízes esparramadas no ar, casca e ramos ainda verdes.
- O cabelo ruivo de uma amante, selvagem, traiçoeiro, promissor.
- Um homem sentadoi na quietude de seu estúdio, segurando a fotografia de uma mulher; há dor no olhar dele.
- Um rosto estranho no espelho, grisalho nas têmporas.
- As sombras azuis numa noite de lua cheia. O topo de uma montanha com um vento forte e constante.

Camila da Fonseca Moreira

A.A. - Agora acabou

Após beber muito, outra vez, em uma festa, Marta começa a brigar com ciúmes do marido.
Joaquim a puxa pelo braço, a leva para casa. Ele já não aguenta mais, não sente orgulho de sua mulher, sente vergonha!
Chegando em casa, Joaquim dá um banho gelado em Marta, lhe veste o robe e a deita no sofá. Ela vomita.
Joaquim, com um misto de piedade e raiva, tira a camisa e limpa seu rosto, então se despede. Marta tenta puxá-lo, mas como está bêbada, não consegue e adormece.
No dia seguinte, de manhã, Joaquim em seu trabalho olha a foto de Marta, de quando a conheceu - tão linda, cheia de vida e de planos, forte, com cabelos ruivos, misteriosa, alternando entre meiga e perigosa.
Enquanto isso, Marta acordava, com um fio de esperança, como uma fresta de luz dos últimos raios do pôr do sol, que Joaquim voltasse.
Ela caminhou até o banheiro, atordoada, se olhou no espelho, surpreendeu-se. "Como o tempo me castigou! Ou terá sido o álcool?". Mergulhada em suas lembranças, sentindo remorso, somava suas perdas: "O álcool tirou-me primeiramente a dignidade, depois o emprego, a mocidade, e agora meu marido".
Sentiu-se como uma árvore outrora forte, que o vendaval arrancara com raiz e jogara longe. Agora, toda aquela vitalidade, beleza e força não farão mais parte dela. Dificilmente seus últimos ramos, ainda verdes, sobreviverão por muito tempo, pois Marta já nao tem mesmo vontade nem motivos para continuar a viver.

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