segunda-feira, 24 de maio de 2010

Exercícios da apostila - parte II


Identificar nas narrações não satisfatórias da Unicamp a presença de 3 inverossimilhaças e 3 clichês.

Redações a serem analisadas:

Redação 1:
Bolha Wasp
Sabão é feito de gordura. Isso é fato. Eu sei, porque dediquei uma parcela da minha vida à isso. Não, eu não sou gordo. O fato é, que eu trabalhava na carrocinha e, lá a lógica era simples: cachorro sem dono vira sabão.
Eu tinha coração. Eu me entristecia ao ver mulheres espancadas pelo marido, crianças agredidas pelos pais e os idosos ignorados, mas, para mim, cachorro era pelúcia. Eu entendia a vida assim. Afinal eu precisava tomar banho.
Meu trabalho começava antes do nascer e terminava depois do pôr-do-sol. Demorava, mas era fácil. Eu tinha, apenas, que colocar os animais na máquina. A minha vida teria continuado seguindo este rumo se o Wasp não tivesse aparecido.
Eu estava voltando para casa, ele rosnou. Minha mulher apareceu saindo com as malas, ele rosnou novamente (e eu chorei). Sentei na sargeta, ele se aconchegou do meu lado. Então eu o percebi pelo som de seu rabo vibrante. Como ele era sarnento. Tentei ignorá-lo, mas o bichinho era bom demais. Ele sabia o que eu estava sentindo. Eu juro que sabia. O chamei de Wasp.
Como em casa de pobre sempre cabe mais um e como a gorda maldita tinha me abandonado, eu o adotei. No começo, ele queria me acompanhar para todo lugar, mas logo expliquei para ele que lá não era um dos melhores lugar para ele estar. A isso Wasp compreendeu facilmente, o que ele não compreendia era como eu podia fazer uma coisa dessas.
Wasp fazia xixi e coco pela sala, babava na minha cama e latia durante o meu sono, mas eu gostava dele. Ele era humano. Seu único problema era querer liberdade demais. Virou sabão. A dor foi a pior que eu já senti. Fiquei triste, me senti culpado. Eu ensinei à ele várias coisas, mas ele me ensinou a maior lição. Aprendi o
quanto o ser humano é tolo.
Sozinho, decidi ser um pouco mais Wasp e lutar pela liberdade dos animais. Fazer as coisas funcionarem, já que as leis não fazem. Decidi participar do CONCEA e do programa da Luiza Mel. Devo admitir que o programa fez mais sucesso, a justiça no Brasil é caótica.
O ser humano se achava evoluído, mas é ignorante. Precisa de tempo para perceber as coisas. Demorou para perceber a humanidade de índios e negros. Quando vai perceber a emoção do animal?
Eu estou lutando. Agora, eu tomo banho de detergente.

Daiane D. Baptista de Lima:

Inverossimilhanças:


O candidato afirma que (em função)do afeto que o personagem sentia pelo cão decidiu lutar pela liberdade e a partir disso (...) passou a tomar banho de detergente.

(...) Na afirmação "Ele era humano", o candidato foi infeliz ao tentar caracterizar o cachorro de forma amorosa.

A frase "Wasp fazia xixi e cocô na sala, babava na minha cama e latia durante o meu sono, mas eu gostava dele" se torna inverossímil, pois uma pessoa não aceitaria tal comportamento sem se enfurecer.

Clichês:

Ao longo do texto podemos observar vários clichês, o que torna evidente a falta de originalidade do autor, entre eles podemos destacar as seguintes frases: "Em casa de pobre sempre cabe mais um", "A justiça no Brasil é caótica", "O fato é que eu trabalhava na carrocinha e, lá a lógica era simples: cachorro sem dono vira sabão".
Em todas as frases percebemos que o candidato se guiou pelos ditados e crenças populares, tornando o texto apenas uma cópia do que já foi criado.


Joice Amâncio Fernandes:


Inverossimilhanças:


"Wasp fazia xixi e cocô pela sala, babava na minha cama e latia durante o meu sono, mas eu gostava dele". Desde o início da narrativa o personagem se mostra indiferente aos animais: "(...) para mim, cachorro era pelúcia", mas adota Wasp porque estava solitário (...). Diante desses fatos e a forma brusca como ocorreu a mudança do personagem, (ocorre a inverossimilhança).

"Eu ensinei a ele várias coisas, mas ele me ensinou a mior lição". Durante a narrativa não é citado nenhum ensinamento a Wasp, pelo comportamento do mesmo e pelo tempo que Wasp e o dono ficam juntos, torna-se difícil acreditar que o personagem tenha ensinado várias coisas (ao cão) e este (as tenha) aprendido.



Clichês:


"Como em casa de pobre sempre cabe mais um..." - A oração faz referência à expressão popular "Em coração de mãe sempre cabe mais um", o que a torna clichê. O candidato poderia excluir esse trecho, já que ele não apresenta importância na narrativa, pelo contrário, a empobrece por ser clichê. (Poderia substituir este trecho) (...) por "Como estava solitário, resolveu adotá-lo".

"Fazer as coisas funcionarem, já que as leis não fazem", "... a justiça no Brasil é caótica". Ambos os trechos são clichês, poderiam ser removidos da narrativa sem problemas, pois além de não terem muita importância no texto e serem clichês, têm caráter de texto dissertativo.

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